Turismo responsável e sustentável: reflexões e dicas práticas
Quando você planeja uma viagem, pensa no impacto que vai ter no destino? Durante e depois das suas férias, costuma refletir sobre suas responsabilidades como viajante? O turismo responsável é um conceito que deveria ser redundante, mas infelizmente ainda não é. Afinal, muitas viagens trazem mais impactos negativos que positivos pra os lugares que visitamos. Mas o que podemos fazer a respeito?
Turismo responsável: vamos falar sobre isso?
Criei esse blog em 2012 com o objetivo de falar sobre “viagens pra dentro e pra fora”. Minha ideia era aliar dicas práticas de turismo com reflexões sobre como as viagens podem ser usadas como ferramentas de transformação pessoal. Afinal, viajar (principalmente sozinha) mudou muito minha vida.
Naquela época eu já tinha consciência social e tentava, também, aprender e respeitar os lugares que visitava. Mas foi só nesses últimos anos trabalhando full time como blogueira de viagens que me dei conta da dimensão dos problemas que o turismo provoca mundo afora e do meu papel nesse cenário aí.
Acredito que a maioria das pessoas vê viagens como merecidos momentos de descanso e descontração. Afinal, quase todo mundo viaja nas férias e feriados, aproveitando pra fugir da rotina e das preocupações do trabalho, né? E não há nada de mau nisso por si só.
O problema é quando isso nos faz esquecer que os lugares que visitamos não estão lá só pra servir a nosso divertimento ou contemplação. Pessoas moram e trabalham neles e existe todo um ecossistema ali que sente o impacto da nossa presença, por mais que a gente acabe esquecendo.
Impactos negativos do turismo
Sim, o impacto do turismo pode ser maravilhoso pra os destinos. Ele pode trazer emprego e geração de renda, contribuir com educação e troca de conhecimentos, incentivar o empreendedorismo e estimular, tanto pela consciência quanto pela entrada de grana, a preservação da natureza.
Mas, como em toda indústria, também existem efeitos negativos. E apesar de ter uma força econômica gigante (o setor é responsável por 10% do PIB mundial), o turismo costuma ter seu poder subestimado em comparação com outras indústrias, com poucos estudos e regulações.
Enquanto isso, seus impactos negativos vão crescendo em vários âmbitos. No sentido ambiental, por exemplo, já se detectou que o turismo é responsável por 8% da emissão de gases de efeito estufa no mundo. Sem falar na degradação de inúmeros ecossistemas e no uso (quase sempre cruel) de animais em atrações.
No aspecto cultural, acontece muitas vezes uma mercantilização de manifestações tradicionais, que são transformadas em espetáculos e “zoológicos humanos”.
No ponto de vista econômico, a promessa de “geração de renda” quase sempre se mostra falsa. Afinal, a grande maioria do dinheiro gasto com o turismo vai pra países do Norte global (a.k.a. “desenvolvidos”), servindo pra aumentar a riqueza de quem já é rico. Muito pouco fica, de fato, com a população local.
E o turismo massivo gera ainda inúmeros problemas em cidades como Veneza, Paris e Barcelona, como o aumento absurdo nos preços dos aluguéis e deterioração de espaços públicos.
Por um turismo com responsabilidade
Felizmente, cada vez mais empresas, governos e viajantes parecem se dar conta de que o turismo precisa ser desenvolvido de maneira responsável. Só assim ele pode contribuir pra sustentabilidade ambiental, cultural e social de cada destino, permitindo que as próximas gerações também possam curtir tudo que ele tem a oferecer.
O turismo responsável (ou sustentável, consciente, ético ou como quer que você prefira chama-lo) não é um nicho dentro do turismo. É, sim, um olhar consciente que pode – e deve – ser aplicado a qualquer viagem.
De acordo com o Ministério do Turismo, “turismo sustentável é a atividade que satisfaz as necessidades dos visitantes e as necessidades socioeconômicas das regiões receptoras, enquanto os aspectos culturais, a integridade dos ambientes naturais e a diversidade biológica são mantidas para o futuro”.
O movimento de reflexão sobre turismo responsável “aconteceu lá pela década de 1970, período em que se começou a sentir os efeitos do boom turístico que se iniciou na década de 50”, de acordo com um texto do blog Tempos de Gestão (que saiu do ar desde a publicação deste artigo). Hoje, o incentivo ao Turismo Responsável é uma das linhas de atuação do Plano Nacional de Turismo 2018-2022 do Ministério do Turismo brasileiro.
A ideia é garantir que a presença dos turistas melhore aquele lugar e a vida das pessoas que moram ali. Pra que o turismo seja uma relação de ganha-ganha, é preciso que os turistas, funcionários, empresas, comunidades locais e organizações governamentais e não governamentais trabalhem em prol de um turismo responsável.
Isso passa pela criação de regulamentações e planos de desenvolvimento sustentável dos destinos e também por uma série de pequenas ações que ajudam a fortalecer as comunidades e conservar o meio ambiente.
Entre outras questões, é importante considerar se o dinheiro gasto pelos viajantes chega à população local, quais são os efeitos da sazonalidade na vida das comunidades, qual o impacto da presença humana naquele ambiente, se os direitos trabalhistas estão sendo respeitados na cadeira turística etc.
Muita gente acha que viajar de forma responsável é difícil ou chato. Realmente não é a coisa mais simples do mundo ter que parar e pensar sobre nossas ações. É preciso um mínimo de esforço pra questionar o que nos é vendido, fazer pesquisas e procurar ir além da caixinha.
Mas o turismo responsável não apenas nos permite viajar com a consciência mais tranquila como também costuma nos proporcionar experiências muito mais ricas do que quando viajamos de forma “automática”, seguindo o esquema padrão do turismo de massa. Assim, voltamos de viagem com uma bagagem mais rica, levando não só fotos e souvenires, mas também aprendizados.
Conteúdo sobre turismo responsável
Quer saber mais sobre turismo responsável? Dá uma olhada no que já publiquei sobre o assunto aqui no blog:
Turismo Regenerativo
“Com licença, turismo sustentável. O turismo regenerativo chegou”. Com esse título provocador, o jornal New York Times resumiu uma discussão que vem ganhando mais alcance no último ano: no estado de crise sistêmica em que o mundo se encontra, viajar de forma “sustentável” não parece ser suficiente. Saiba mais sobre o Turismo Regenerativo, conceito que traz outra abordagem para o assunto.
Dicas de turismo sustentável
Uma compilação de dicas pra ser um turista mais sustentável, como pesquisar muito, escolher empresas com práticas sustentáveis, evitar usar carros, consumir produtos locais, preferir alimentos regionais, levar garrafa d’água e sacola reutilizáveis, ser responsável com sua produção de resíduos, respeitar a natureza e os moradores, vivenciar a cultura local e evitar atrações que promovam interação com animais. Clique pra ler.
Turismo consciente: por que e como praticar
É sempre bom lembrar que o turismo responsável vai além da sustentabilidade ambiental. A ideia por trás do turismo consciente é termos o cuidado de provocar no lugar um impacto positivo, e não só querer levar de lá algo bom pra nós. Confira dicas pra ser um turista consciente.
Turismo responsável no Brasil
Quer fazer com que suas viagens pelo nosso lindo país tenham um impacto positivo não só em você, mas também nos lugares que visita? Tem muita gente promovendo turismo em comunidades carentes de grandes cidades, em aldeias indígenas, em quilombos e em muitos outros cenários incríveis desde o litoral à Amazônia. São opções pra vários gostos e orçamentos, mas com algo muito importante em comum: o respeito pelos lugares e pelas pessoas.
Conheça dezenas de projetos e organizações que promovem um turismo responsável em várias partes do Brasil.
Hotéis sustentáveis no Brasil
Se você busca viajar de forma mais consciente, em especial no que diz respeito ao meio ambiente, provavelmente dá preferência a hospedagens que adotem práticas ecológicas. Em várias partes do país existem hotéis e pousadas com a preocupação de ter um impacto positivo no local onde estão inseridos, ou minimizar ao máximo seus impactos negativos. Belíssimos e localizados em lugares paradisíacos, esses empreendimentos adotam iniciativas como o uso de técnicas de construção ecológicas, práticas de gestão de resíduos, projetos de educação ambiental e atuação em colaboração com as comunidades locais.
Ficou a fim de visitá-los? Conheça esses 11 hotéis sustentáveis no Brasil.
O que é overtourism e como evitar esse fenômeno
Entenda o que significa overtourism, quais são os principais efeitos negativos causados pelo tal “turismo em excesso” (em tradução livre) e por que moradores de cidades turísticas mundo afora estão ficando com raiva dos turistas. Além disso, saiba o que as autoridades responsáveis e nós viajantes podemos fazer pra evitar ou minimizar os problemas do overtourism.
Slow Travel: por que viajar devagar é melhor para você e o mundo
Já ouviu falar no conceito de “slow travel”? Derivado do termo slow food, que surgiu em contraponto ao fast food, o slow travel significa viajar de forma mais lenta, imersiva e consciente. Esse estilo de viagem vai na contramão daquelas maratonas em que pulamos de uma cidade ou ponto turístico pra outro na correria. E traz vários benefícios pra quem viaja, pra o meio ambiente e pra as populações dos lugares visitados. Leia o artigo sobre slow travel e entenda por que vale a pena viajar assim.
Turismo irresponsável: coisas que fiz viajando e me arrependo
A sensação de olhar pra trás e perceber que você fez coisas das quais se arrepende é péssima. Mas pior seria continuar repetindo as más escolhas, né? E melhor ainda é aprender com os erros dos outros e evitar cometê-los também.
Por isso, expus nesse post algumas atitudes minhas em viagens passadas de que não me orgulho nem um pouco e que considero exemplos de um turismo irresponsável. Clique pra ler.
Turismo com animais
Quase todo mundo que procura atrações turísticas com animais faz isso porque gosta dos bichinhos, né? Mas infelizmente, muitas vezes essas atrações são prejudiciais pra eles e a gente não faz ideia. Com base nas recomendações de especialistas, expliquei alguns problemas do turismo com animais e dei dicas pra você ser um turista responsável nesse sentido. Clique pra ler.
Turismo de base comunitária
A ideia do turismo de base comunitária (TBC) é promover um turismo mais justo, que coloque a população local no protagonismo e leve em consideração a sustentabilidade social e ambiental das atividades. Quer saber mais sobre esse conceito e sobre como viajar assim? Clique pra ler.
Turismo sexual infantil
A a Unicef calcula que 1,8 milhão de meninos e meninas são vítimas de turismo sexual no mundo. E pesquisadores da área afirmam que “o turismo sexual não pode ser visto isolado do desenvolvimento do próprio turismo. Sua existência está intimamente vinculada aos modelos de desenvolvimento da atividade historicamente constituídos”. Leia o texto para saber mais sobre o turismo sexual infantil e o que podemos fazer a respeito desse grave problema.
Voluntariado no exterior: por que você pode atrapalhar mais que ajudar
Viajar pra fazer trabalho voluntário pode parecer superlegal e altruísta, né? Mas às vezes as aparências enganam, e essa prática pode atrapalhar muito mais do que ajudar. Suas intenções podem ser as melhores possíveis, mas é preciso tentar enxergar o que está por trás e considerar várias questões éticas nesse processo.
Afinal, as consequências negativas vão desde questões mais subjetivas como a criação de obstáculos pra o desenvolvimento local a temas indiscutivelmente criminosos como o incentivo ao tráfico de pessoas, como expliquei nesse post. Clique pra ler.
Como ser voluntário no exterior de forma ética
Quer dizer, então, que todo trabalho voluntário no exterior é prejudicial? Não é bem assim, mas na hora de fazer uma viagem desse tipo é importante se certificar de que suas ações não tragam mais prejuízo do que benefícios.
Quer conferir dicas pra praticar o volunturismo sem contribuir com os problemas mais frequentes dessa prática, com base em recomendações de especialistas? Clique pra ler.
Complexo de branco salvador: boas intenções não são o suficiente
Já ouviu falar no “complexo de branco salvador”? Resumidamente, o termo é usado quando alguém acredita que pode salvar pessoas negras de uma situação de pobreza ou vulnerabilidade, simplesmente por ser branco e/ou vir de uma posição econômica mais privilegiada.
Ao se juntar com a exposição na mídia e nas redes sociais, esse complexo contribui pra reforçar estereótipos, como os de que África é um continente homogêneo e miserável e que seus habitantes são incapazes e precisam de ajuda externa. E esse é um assunto muito importante, especialmente pra quem pensa em visitar países estigmatizados ou voluntariar no exterior. Vamos conversar? Leia mais aqui.
Quando a troca de trabalho por hospedagem vira exploração
Além do voluntariado propriamente dito, com fins sociais, muita gente tem viajado através de programas de work exchange, trocando trabalho por hospedagem e outros benefícios, como refeições. Mas será que é tudo sempre tão bonito como parece?
Viajei assim três vezes, conheço muita gente que o fez também e sou entusiasta desse tipo de viagem. Mas nem sempre a troca de trabalho por hospedagem traz benefícios pra o viajante e pra comunidade do destino. Falei aqui sobre possíveis problemas dessa prática e dei algumas dicas pra evita-los. Clique pra ler.
Turismo criativo: viagens com foco em experiências
O modelo de turismo de massa consolidado não dá conta de tudo que os lugares e seus moradores têm a oferecer, nem de tudo que os visitantes mais exigentes procuram nas suas viagens. Além disso, muitas vezes traz mais prejuízos que benefícios pra os destinos, como já mencionei aqui.
Felizmente, existem muitas formas de viajar que tentam ir na contramão desses problemas. Como, por exemplo, o chamado Turismo Criativo, que foi tema desse post. Clique pra ler.
Por que o turismo pode fazer mal ao mundo
Além de todo o conteúdo aqui do blog, também escrevi pra o site Papo de Homem sobre os malefícios que o turismo pode trazer, quando feito de forma irresponsável. Falei sobre deterioração do meio ambiente, exploração cultural, turismo sexual, desequilíbrio econômico e overtourism, incluindo vários links interessantes e dados de fontes oficiais. Confira o texto lá no Papo de Homem.
Iniciativas de turismo responsável
Por fim, vou reunir aqui os posts que escrevi sobre projetos de turismo responsável em destinos específicos que pude conhecer pessoalmente. Essa lista vai ser atualizada constantemente.
Como conhecer a Amazônia de forma sustentável e ética
Turismo de base comunitária na Bomba do Hemetério, no Recife
Tour guiado para conhecer a transformação da Comuna 13, na Colômbia
Tours guiados em Manaus e vivências com comunidades ribeirinhas na Amazônia
Tem dicas de textos, vídeos, publicações, projetos, tours ou qualquer outra coisa legal relacionada a turismo responsável? Manda aí nos comentários!
Crédito das fotos do post, com exceção da foto dos pés: Pexels – licença Creative Commons Zero (CC0)
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13 Comentários
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Tão gostoso ler um post assim cheio de informações para quem, tipo eu, quer fazer um turismo sustentável mas tem dúvidas sobre o que é e como fazer isso…
Obrigada por compartilhar essas informações!
Oi, Ana Paula! Que ótimo que você achou o post útil, fico muito feliz! :) Obrigada pelo comentário <3 Um abraço e boas viagens (responsáveis)! ;)
Excelente conteúdo.
Obrigada! :)
me ajudou demais, vou anotar essas dicas para minha viagem
Luiza adorei seu blog e já acompanhando suas redes. Fico pensando como um guia de turismo pode fazer para não contribuir com o turismo de entretenimento com animais, já que o profissional presta serviços para agências as quais vendem pacotes que incluem este tipo de atração.
Oi, Ana Maria! Que bom que você curtiu meu trabalho, obrigada! :) Acredito que essa questão depende da situação de cada profissional. Acredito que o ideal seria negar trabalhos que envolvam atividades com as quais o guia não concorda, mas sei que isso é impraticável para a maioria. Caso exista uma proximidade com os responsáveis pela agência, talvez um caminho fosse tentar conscientizá-los. Ou, quem sabe, se unir a outros guias para discutir sobre isso e buscar soluções… Realmente não é uma situação fácil!
Ótimo compilado de informações! Deu para notar um cuidado em não abordar o tema de modo superficial. Estou preparando uma discussão sobre esse tema com meus alunos e esse texto contribuiu muito.
Que bom, Alice! fico feliz :)
Olá Luiza, mais do que oportuna e necessária uma postagem deste teor, pois , infelizmente muitos “turistas” ainda não são capazes de entender e avaliar a extensão de suas ações e comportamentos inadequados em suas viagens e os impactos que podem causar a muitas comunidades e culturas. Então, cada vez mais precisamos estar criando espaços para esclarecer, incentivar e buscar formas de ornar os turistas mais responsáveis , digamos assim. Turismo sem sustentabilidade não é justo e não vale a pena e nós como turistas temos que saber que os impactos negativos do turismo irresponsável muitas vezes sao irreversíveis.
Paabens pela postagem ..
Concordo, João! Acho que isso é um reflexo de como levamos a vida como um todo, enquanto sociedade, né? Obrigada pelo comentário e apoio! :)
Luiza, Estou vendo que voce é uma pessoa extremamente preocupada com as suas ações durante suas viagens e também nos impactos que um turismo irresponsável e anti ético pode causar a uma comunidade. Desde já me coloco ao seu dispor paraa lhe compartilhar gratuitamente conteúdos de um projeto de oficinas,que tenho elaborado em parcerias com Ongs, para capacitação de guias ambientais e profissionais na área de ecoturismo. Terei muito prazer em lhe fornecer os conteúdos que você caso venha precisar. É sempre muito gratificante ver que ainda existem pessoas, para as quais as atividades de turismo não são meros momentos de lazer, são também uma forma de se evoluir e de ajudar a melhorar a qualidade de vida de muitas pssoas e dos ambintes onde elas vivem. Parabéns pelo seu tabalho
Oi, João! Obrigada pelo comentário! :) Se puder mandar pra meu e-mail [email protected], agradeço! Um abraço e parabéns pelo trabalho!