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Slow travel: viajar devagar é melhor para você e para o mundo

– Destaque Slide 5 – | 28/04/20 | Atualizado em 31/01/24 | Deixe um comentário

Oito cidades em quinze dias, uma longa lista de pontos turísticos pra conhecer em cada uma delas e um final de viagem cheio de cansaço. Soa familiar? Muita gente viaja assim, especialmente em regiões onde tudo é pertinho. Mas o movimento conhecido como “slow travel” questiona: será que essas viagens corridas são o ideal pra nós viajantes e pra o meio ambiente?

Em tempos de aquecimento global, turismo de massa (ou “overtourism”) e Coronavírus, viajar devagar é cada vez mais importante. Afinal, nosso mundo já mostrou muitos sinais de que não suporta esse nosso modo de vida acelerado e orientado ao crescimento constante, né?

Neste artigo, vou explicar qual é a proposta do slow travel e porque essa filosofia é tão interessante pra quem busca viagens mais responsáveis e mais transformadoras.

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slow travel

O que é slow travel?

O “slow travel” foi inspirado em outro movimento chamado “slow food”. Então vamos começar com a explicação desse outro conceito? Criada nos anos 1980 em Roma a partir de protestos contra a abertura de uma loja da Mc Donald’s na célebre Piazza di Spagna, essa filosofia incentiva as pessoas a apreciarem suas refeições sem pressa. Slow food aparece, assim, em oposição a fast food.

A ideia é consumir produtos de qualidade e valorizar não só o alimento em si, mas também o ato de estar presente no momento e atento aos diferentes sabores e aromas. Além disso, o “slow food” privilegia produtos orgânicos, pratos regionais e refeições comunitárias, em vez dos itens super processados e pra consumo individual tão comuns atualmente.

slow food

No quesito viagens, a proposta segue a mesma lógica: viajar com mais presença e intenção, trocando quantidade por qualidade e valorizando uma conexão profunda com os lugares visitados.

Fazendo um paralelo com a alimentação, roteiros turísticos enlatados e engolidos de forma quase automática dão lugar a experiências orgânicas, saboreadas com calma e consciência.

Uma viagem “slow” é aquela em que você abre mão de conhecer o máximo de coisas possível e ignora o conceito de “atração imperdível”. Em que suas prioridades são conhecer a cultura local, fazer uma imersão no estilo de vida dos moradores, conversar com as pessoas e curtir os trajetos, em vez de apenas correr de um ponto a outro.

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É, também, uma experiência em que você não se preocupa tanto com selfies e stories e ignora quem diz “se você não foi no museu Y, é como se não tivesse visitado a cidade X”. A ênfase no slow travel é buscar seus próprios caminhos, em vez de se sentir na obrigação de copiar o itinerário alheio ou de fazer algo só pra mostrar aos outros.

Como resultado, você tem mais facilidade de provocar um impacto positivo e traz na bagagem muito mais que compras e fotos. Traz experiências especiais, que não vão ser as mesmas que qualquer outro turista teve naquele lugar. E também, com sorte, aprendizados e reflexões que pode levar pra vida.

Por que praticar slow travel?

Ainda não se convenceu que o slow travel é uma ótima forma de lidar com as viagens? Vou tentar te seduzir pra o “lado devagar da força” com uma lista de vantagens desse jeito de viajar. Em seguida, você encontra várias dicas pra praticar essa filosofia na sua próxima viagem.

1. Mais barato

Começo pelo argumento monetário porque é um dos mais atraentes pra maioria de nós da classe trabalhadora, né?

E sim, viajar mais devagar é uma das melhores formas de economizar. Afinal, você tem menos custos com deslocamento entre cidades e países e não paga por tantas atrações turísticas e passeios.

Além disso, dá pra escolher uma hospedagem mais barata que não seja tão central, procurar restaurantes menos turísticos, cozinhar usando ingredientes locais e usar mais transporte público.

Conhecer o lugar com mais calma também permite aprender como as coisas funcionam, descobrir dicas de moradores e evitar golpes e esquemas pega-turista.

2. Mais ambientalmente correto

O slow travel é uma filosofia que tem tudo a ver com o turismo consciente. Viajar devagar é importante não só pra gente, mas pra o mundo, porque nos ajuda a reduzir nosso impacto no meio ambiente e na população do lugar de diversas formas.

Pra começar, pegar menos voos faz uma diferença gigante na poluição emitida por nós viajantes. Infelizmente, ainda não encontraram uma forma de fazer viagens de avião de uma forma que não seja extremamente prejudicial ao meio ambiente.

Existe inclusive muita gente que milita contra ou uso desse meio de transporte, no que ficou conhecido como “flight shame“. Mas se você não quiser chegar ao extremo de evitar completamente o transporte aéreo, já pode reduzir muito as emissões se escolher voos diretos e ficar mais tempo num só lugar, em vez de voar de um destino ao outro a cada poucos dias.

Privilegiar transporte coletivo, caminhadas e deslocamentos de bicicleta durante a viagem também é mais sustentável que andar de carro, como você já deve saber. E quando temos mais tempo numa cidade, não precisamos ficar pegando táxi ou Uber pra correr pra lá e pra cá, né?

3. Mais impacto positivo

Além disso, as viagens “slow” nos permitem pesquisar melhor sobre as atrações que vamos visitar e lugares onde vamos nos hospedar. Assim, fica mais fácil evitar atividades e estabelecimentos prejudiciais ao meio ambiente ou à população local. Ser um viajante sustentável e fazer escolhas responsáveis nas nossas viagens nem sempre é fácil, mas na correria e no “modo automático” certamente fica mais difícil.

Outra vantagem do slow travel é ter mais tempo pra contribuir financeiramente com a comunidade. Com tempo e tranquilidade pra conversar com as pessoas ou fazendo pesquisas, você certamente vai descobrir hospedagens, restaurantes, bares, mercados e lojas locais que merecem sua visita.

Além disso, viajar devagar nos ajuda a aprender sobre a cultura do lugar visitado. Dessa forma, você se torna mais capaz de respeitar o lugar e de compartilhar aprendizados mais consistentes sobre ele quando voltar de viagem.

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viajar mais devagar ajuda a contribuir com a comunidade

4. Mais imersivo

O aspecto imersivo das viagens mais lentas também é uma vantagem maravilhosa. Um exemplo pessoal: quando fui pra Amazônia pela primeira vez, por exemplo, em vez de fazer um passeio de um ou dois dias a partir de Manaus, escolhi passar várias noites numa comunidade indígena ribeirinha a algumas horas da capital.

Os dias por lá não foram lotados de passeios, mas me permitiram observar e participar das atividades diárias da vila. Além disso, os trajetos de ida e volta num “barco de recreio”, que se deslocava bem devagar, foram deliciosos – talvez o ponto alto da viagem.

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No slow travel, a ideia é cultivar relacionamentos com as pessoas, curtir o ambiente com calma e até mesmo criar uma rotina a ponto de se sentir em casa naquele lugar. É provar as comidas tradicionais, dar um passeio na feira sem pressa, escutar as músicas que aquele povo curte… E, com sorte, fazer amizades pelo caminho.

5. Mais boas surpresas

Na minha segunda vez na Amazônia, dessa vez em Belém e arredores, também colhi vários benefícios do slow travel. Escolhi, por exemplo, passar um dia inteiro num dos bares que ficam na Ilha do Combu, perto do centro da cidade.

Viajei sozinha e alguém que pensasse só em termos de pontos turísticos me diria que não tinha muito o que fazer por lá além de comer e tomar um banho de rio – teoricamente, nada que justificasse ficar tanto tempo num lugar. Mas o dia passou rapidinho porque me abri pra novas experiências.

Fiz amigas que também estavam visitando Belém e terminei o dia indo pra festas que jamais frequentaria se não fosse a companhia dos donos do bar, que por acaso conheci lá.

Moral da história? Quando não temos uma programação lotada e rígida, nos permitimos curtir mais surpresas no caminho. Sejam elas trocas especiais como as que vivi em Belém e tantos outros lugares ou simplesmente uma paisagem nova, um passeio que não está nos guias de viagem, uma rua fofa que você nem viu no mapa…

Sair do trajeto turístico pré-estabelecido quase sempre resulta nas lembranças mais gostosas de uma viagem. E é muito mais fácil esbarrar (e reparar) nesses achadinhos quando a gente deixa a pressa de lado.

6. Menos ansiedade e estresse

Você já deve ter reparado como é comum as pessoas saírem de férias e voltarem mais cansadas do que saíram.Sem falar naquelas maratonas de viagem em que, no final, você nem lembra mais onde fez ou viu cada coisa.

Nossa mania de reger a vida com base na ideia de produtividade é ruim em quase todas as circunstâncias, e na viagem não é diferente. Por isso, acredito que o slow travel é também uma resposta ao ritmo acelerado das nossas vidas.

Viajar devagar nos permite deixar de lado a pressão por “cumprir tarefas” pelo menos durante as férias. E ajuda, também, a reagir aos contratempos quase inevitáveis com mais paciência e bom humor.

Demorei alguns bons anos de viagem pelo mundo pra perceber que não faz sentido me estressar se não der pra visitar o que eu queria, ou se um ônibus atrasar ou um trem for cancelado. Com menos pressa e uma mentalidade menos voltada pra ideia de que precisamos conhecer isso e aquilo, conseguimos quebrar esse ciclo de ansiedade e estresse do dia a dia.

Como pessoa ansiosa que sou, venho tentando fazer nas viagens o exercício de deixar de lado o FOMO (Fear of Missing Out, ou “medo de ficar de fora”) e fazer o que me dá vontade. Nem sempre é fácil, mas é por isso mesmo é importante, né?

7. Mais introspecção

Já mencionei aqui que viajar devagar facilita se conectar com o lugar, sua cultura e seus moradores. Mas além disso, outro tipo de conexão tende a ser fortalecida nesse estilo de viagem, especialmente pra quem viaja sozinho: a conexão com você mesmo.

O slow travel nos dá mais tempo pra olhar não apenas pra fora de nós, mas também pra dentro. Sem tanta correria e overdose de informação, podemos explorar a introspecção. Tanto pra entrar em contato com pensamentos e sentimentos que costumamos evitar no dia a dia quanto pra prestar atenção nas nossas reações ao que acontece durante a viagem. É um processo incrível!

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Conversei sobre Slow Travel em uma live com Jussara, criadora da SisterWave, e ela deixou salva no Youtube :) Se quiser assistir, dá play aí!

 

Como praticar slow travel?

Ok, mas como funciona essa filosofia na prática? O que fazer na preparação e no dia a dia da viagem pra praticar um estilo de viagem “slow”? Olha só algumas dicas:

1. Não faça um planejamento lotado

Adoro planejar minhas viagens! Me sinto já começando a aventura nesse processo de pesquisar, olhar mapa, buscar acomodação etc. Mas cada vez mais tenho aprendido como é importante não fazer um itinerário fechado e com atividades programadas pra cada hora do dia.

Se a ideia é viajar devagar, tente controlar aquele impulso do “já que vou aqui, por que não ir também naqueles quatro outros lugares lá perto?”. Planeje-se pra passar mais dias do que o supostamente necessário em cada lugar e deixe sempre espaço pra flexibilidade no roteiro.

2. Procure hospedagens “alternativas”

Se possível, evite hotéis de grandes redes e localizados em áreas 100% turísticas. Viajando devagar, você tem mais tempo pra deslocamentos e pra apreciar a região ao redor da sua hospedagem. E ao privilegiar negócios que pertençam a moradores, você ajuda muito mais a comunidade.

Por que não alugar um quarto no AirBnb num bairro residencial simpático, procurar uma pousadinha gerenciada por uma família local ou fazer Couchsurfing? Além de permitir mais contato com moradores, essas hospedagens geralmente dão a possibilidade de frequentar mercados e cozinhar, o que é outra ótima forma de imersão.

E mesmo quando fico em hostels, costumo evitar os mais populares daquela cidade e privilegiar empreendimentos um pouco menores e que pareçam ter uma atmosfera mais aconchegante e menos comercial.

3. Ignore a ideia de “item obrigatório”

Uma das coisas que mais me dão aflição quando estou viajando é quando alguém vem me dizer “ah, mas você TEM QUE ir em tal canto”. Não, amiguinho, não tenho que fazer absolutamente nada além de respeitar o lugar.

Sei que as pessoas costumam falar isso com a melhor das intenções. Mas, na prática, acabam criando uma pressão pra conhecer coisas que talvez não lhe interessem ou não encaixem na sua viagem.

Lembre-se que a viagem é sua, e não da sua prima que já foi naquela cidade antes, ou dos seus amigos que estão acompanhando pelo Instagram. É perda de tempo (e muitas vezes dinheiro) ir numa atração que não lhe atrai só porque as pessoas falam que é “imperdível”.

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4. Determine prioridades

Seguindo a lógica do ponto anterior, privilegie conscientemente o que faz sentido pra você. Pra isso, é preciso conhecer a si mesmo e entender suas prioridades naquele momento. Afinal, é humanamente impossível fazer absolutamente tudo e aproveitar todos os aspectos de uma viagem (ou da vida, né?).

Tem gente que prefere curtir a vida noturna do lugar, outros querem ir em todos os museus, outros estão mais na vibe de conversar com cada pessoa que cruzam, outros querem provar o máximo possível de comidas típicas…

É claro que você não precisa escolher um só aspecto desses pra sua viagem. No entanto, é mais fácil se livrar da pressão de dar conta de tudo se você tiver consciência das coisas que são mais importantes pra você.

Vale, também, escolher uma atividade ou passeio pra ser a prioridade do dia e deixar as outras possibilidades como “bônus”, que podem rolar ou não.

Afinal, tem se falado tanto que “menos é mais” em termos de posses materiais, mas parece que direcionamos esse impulso consumista e acumulador pra as experiências. Na ideia do slow travel, muito melhor que “colecionar experiências”, como se diz por aí, é aproveitar ao máximo cada uma delas.

5. Faça pausas e observe

Cansou de andar? Pare num café e observe as pessoas. O dia tá bonito? Procure uma praça ou parque e arrume um cantinho pra sentar e aproveitar o clima. Parou pra almoçar? Coma com atenção à sua comida e seus arredores. Está fazendo uma trilha? Vá no seu ritmo e pare de tempos em tempos pra apreciar os arredores, sem focar tanto no destino final.

Se estiver acostumado com itinerários mais corridos, pode ser difícil lidar com o tempo “sobrando”. Lembre-se de, vez ou outra, parar pra simplesmente contemplar o que está ao seu redor ou as percepções dentro de você. Uma coisa que adoro fazer nessas pausas é escrever em um diário de viagem. É um ótimo exercício de mindfulness!

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slow travel

6. Use transportes coletivos, bike ou seus pés

Andar de ônibus ou metrô durante a viagem não é só uma forma de economizar e preservar o meio ambiente, como já mencionei. É, também, uma maneira de vivenciar o dia a dia dos moradores e, muitas vezes, interagir com as pessoas.

Caminhadas e percursos de bicicleta são opções ainda mais ecológicas, além de nos colocarem numa posição de participante da situação. Em vez de um simples observador, que olha tudo pela janela, você se mistura com as pessoas e o funcionamento da cidade.

usando bicicleta na viagem

7. Converse com as pessoas

Sou introvertida e confesso que às vezes não tenho energia ou vontade de conversar com pessoas novas quando estou viajando. Mas nos momentos em que paro pra puxar assunto com alguém, ou que “dou corda” pra uma conversa que começou despretensiosamente, quase sempre tenho ótimas surpresas.

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E o melhor é que Qualquer momento é uma oportunidade pra conversas potencialmente interessantes, que também podem trazer ótimas dicas pra aproveitar melhor a viagem. Você pode conversar com a pessoa sentada ao seu lado no ônibus, a garçonete do restaurante, o recepcionista do albergue, a moça da limpeza no banheiro do bar, a vendedora da barraquinha de frutas…

8. Brinque de morador

Por fim, que tal separar alguns dias no seu roteiro pra “brincar de morador”? Faça coisas que você faria se tivesse tempo livre na sua própria cidade. Vale ir ao cinema, passar uma tarde lendo um livro num parque ou praia, dar uma volta no supermercado, fazer uma aula do esporte que você costuma praticar ou até mesmo fazer uma tatuagem num estúdio local!

Agora me conta: você já tinha ouvido falar em slow travel? Considera que suas viagens já se enquadram no conceito, ou pretende seguir as dicas do post no futuro?

Crédito das fotos do post: Unsplash – Creative Commons (Direitos de uso liberados)

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