10 dicas para quem vai fazer um mochilão longo
Um período sabático, uma volta ao mundo, um chute no balde pra sacudir a vida. Nomadismo digital, férias prolongadas ou um período itinerante trabalhando em troca de hospedagem. Não importa o formato ou a razão, o fato é que hoje cada vez mais gente passa muito mais do que os 30 dias de férias mochilando por aí. Fiz isso no ano passado, sozinha, somando dois meses pelo Brasil e quase quatro pela Europa. Já tinha viajado um bocado, mas aprendi na prática como um mochilão longo é diferente de uma viagem curta.
Muito melhor em vários sentidos, claro, mas com uma dose de desafios particulares. Quando você tá acostumado a viajar apenas em férias e feriados, pode ser um pouco estranho estar na estrada por tanto tempo, mas aos poucos você vai aprendendo a lidar. E, aposto, ficando viciado nessa brincadeira.
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Pratique mindfullness
Se você for uma pessoa ansiosa como eu, que tende a viver pensando no futuro, uma viagem longa pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, sempre existem novas experiências a viver, novas pessoas a conhecer e desafios imediatos que exigem atenção. Mas tem também tudo aquilo que você deixou em casa, tudo que está planejando fazer nas próximas etapas da viagem, todos os questionamentos que surgem aqui e ali.
Por isso, caso isso não seja já algo natural pra você (se for, te dedico minha admiração), vale a pena fazer um esforço consciente pra se manter no presente. Se o FOMO (Fear of Missing Out) começar a atacar, dê um tempo das redes sociais. Se os arranjos práticos sobre os próximos destinos a visitar ficarem martelando na cabeça, determine um momento específico pra lidar com todos eles e abstraia no resto do tempo.
Concentre-se nos sons, cheiros, clima, texturas. Tente viver as situações sem ter pressa pra julgar se são positivas ou negativas. Exercite ver tudo com olhos de iniciante, mesmo que já tenha cruzado o mundo. Observe as pessoas, seu comportamento, sua forma de vestir, o que dizem. Respire conscientemente, prestando atenção ao ar saindo e entrando. Use um diário pra focar no que tá vivendo no momento. Medite e agradeça.
Mantenha um diário
Sobre esse diário que mencionei ali em cima: sou suspeita pra falar porque tenho quase obsessão por escrever, mas manter um registro da viagem é incrível. Especialmente num percurso mais longo, quando você passa muito tempo na estrada com seus próprios pensamentos, entra em contato com culturas diferentes e vai conhecendo ou reencontrando gente por aí.
Você pode escrever no estilo “hoje fiz isso e isso”, encarar o diário como uma carta a um amigo ou registrar pensamentos soltos que surgiram durante o dia. Pode se preocupar com o estilo da escrita ou só despejar nas páginas o que vier à mente, ou ainda fazer desenhos ou colagens. O que importa é sentir o que te dá vontade de colocar pra fora.
Pra quem viaja acompanhado, o diário é a certeza de ter um espaço só seu em todos os momentos. Pra quem viaja só, é uma companhia. Pra qualquer um, é uma forma de descarregar frustrações, registrar deslumbramentos e refletir sobre medos e insights. Pegar a caneta, abrir o caderno e começar a escrever é como terapia: uma forma de se forçar a prestar atenção no que está sentindo e tentar entender o que passa por trás de cada emoção.
Reler o diário depois da viagem, então, é das coisas mais especiais. Reconhecer sensações que foram esquecidas, relembrar como foi chegar naquele lugar pela primeira vez, se surpreender com a beleza de algum sentimento ou a futilidade de alguma reação que seu “eu” do passado expressou. Passado algum tempo, o contato com esses registros ajuda muito a entender como você se transformou durante a jornada e desde então.
Valorize a solidão e as companhias
Um período longo na estrada, especialmente pra quem viaja só, tende a ter altos e baixos – assim como a vida. E essa questão das companhias é uma das que mais influenciam. Em algumas situações você vai estar realmente sozinho ou só com quem caiu na estrada com você; em outras, provavelmente vai conhecer muita gente. Algumas dessas pessoas vão gerar uma conexão imediata, enquanto outras não vão passar de companhias passageiras pra um passeio ou balada. E algumas talvez você deseje não ter conhecido.
É importante curtir o que cada um desses momentos tem a oferecer. É fácil ficar pensando “queria estar com meus amigos nesse momento” quando bate a solidão, ou “queria estar só e poder decidir por conta própria o que vou fazer” quando você tá com um grupo e precisa fazer muitas concessões, ou quando tá meio abusado do(s) companheiro(s) de viagem.
Tanto estar só quanto ter companhia têm seus pontos positivos e negativos, e tem quem prefira uma coisa ou outra. Mas quando não dá pra mudar a situação, ou quando apesar de não ser ideal você quer vivê-la, é importante ajustar seu ponto de vista pra lembrar que nem tudo tem que ser 100% bom e aproveitar o que a vibe atual tem pra oferecer.
Quando bater aquela dor no coração depois de se despedir de alguém que marcou, tente agradecer pelo tempo que passaram juntos e lembrar que a vida é mesmo esse trem cheio de chegadas e partidas e que você não sabe o que vem na próxima estação. Despedidas são uma merda, mas melhor sentir saudades do que não ter vivido, né?
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Faça um roteiro equilibrado
Não que você precise planejar o roteiro meticulosamente, mas uma forma de tornar a viagem mais leve é tentar equilibrar destinos que oferecem vibes diferentes. Por exemplo, intercalar um lugar onde você pretende fazer muitas trilhas com outro mais propício a descansar, uma cidade agitada com uma mais tranquila, um país onde você se sente confortável com outro que é totalmente novo, ou um lugar onde você tem muitos amigos com um onde vai ficar só.
Pra mim, isso torna mais fácil apreciar as vantagens sem “enjoar”: muitos dias de praia seguidos, por exemplo, me fazem valorizar menos o clima praiano do que quando os intercalo com outros lugares. Também ajuda a me recuperar das “desvantagens” de cada pedaço da viagem, como a dificuldade pra entender coisas escritas em outro alfabeto, o cansaço das trilhas, as ressacas pós-balada…
Outra dica em relação ao roteiro é escolher cidades-base e fazer viagens de bate-volta quando possível. Muitas cidades são cheias de atrações legais ao redor, a uma ou duas horas de viagem. Em alguns lugares vale mesmo a pena ir pra dormir, porque existem muitos atrativos, a distância é longa ou os horários de transporte são inconvenientes. Em outros, não se justifica todo o trabalho de ter que fazer check-out de uma hospedagem, carregar bagagem e fazer check-in em outro lugar por apenas uma noite.
Não gaste como nas férias
Se você pretender ficar muito tempo na estrada é provável que precise manter um estilo de viagem mais econômico. Quando saímos de férias por poucos dias ou semanas, tendemos a nos permitir mais gastos do que faríamos na vida normal. Comer em restaurantes todo dia, ir às compras, fazer vários passeios sem pensar duas vezes. É aquela coisa de pensar que “é pouco tempo”, “é preciso aproveitar”, “não sei quando venho aqui de novo”, “passei o ano trabalhando pra isso”…
Numa viagem longa, a não ser que suas economias sejam beeem gordinhas, esse tipo de atitude pode acabar com seu orçamento. Já vi gente partir pra uma viagem de um ano ou mais e gastar no primeiro mês o que tinha planejado pra um semestre inteiro, precisando poupar muito depois pra equilibrar, ou até voltar mais cedo pra casa.
Pode ser difícil ajustar o pensamento se você estiver com alguém que só está te acompanhando por alguns trechos, como aconteceu comigo diversas vezes: amigos de férias iam me visitar em algum lugar por poucos dias, com um orçamento diário bem maior do que o meu. Mas é importante lembrar que seu objetivo é otimizar os gastos pra curtir a viagem por mais tempo. Ajuda muito ter um teto diário de despesas e anotar tudo num aplicativo pra não perder o controle.
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Se permita alguns luxos
Dito isso, a não ser que você seja muito roots e não faça mesmo a mínima questão de conforto, acho válido separar uma parte do orçamento pra pequenos luxos aqui e ali. Passar muito tempo sem casa, chegando sempre num lugar novo, pode ser muito cansativo. E as escolhas mais econômicas pra viajar, como ônibus, companhias aéreas low cost, Couchsurfing, quartos compartilhados em albergues ou mesmo passar a noite no aeroporto, não são exatamente as mais confortáveis do mundo.
Por isso, aqui e ali me dou o direito de pagar um pouco mais por mais conforto. O que isso significa varia, é claro, de uma pessoa pra outra. Eu, por exemplo, adoro ter um quarto privativo de vez em quando, seja num hostel ou Airbnb.
Talvez você prefira pegar um trem ou avião pra evitar aquele trecho mais longo no ônibus, pegar o day use num hotel incrível no último dia de praia, jantar num restaurante bem legal uma vez por semana… Seja como for, esses pequenos luxos podem ajudar muito a lidar com os perrengues que inevitavelmente surgem num mochilão longo.
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Não faça maratona de passeios
Outra grande diferença de uma viagem de 10 dias pra uma de 10 meses é a carga de atividades que você vai comprimir no roteiro. Com pouco tempo pra curtir o destino, é difícil não encher cada turno com passeios e pontos turísticos. Hoje em dia tenho tentado evitar isso mesmo nos rolês mais curtos, mas numa viagem longa acho ainda mais importante ir com calma. Se não, em pouco tempo seu corpo vai pedir arrego ou sua mente vai começar a embaralhar tudo (“aquele restaurante incrível foi no Peru ou na Colômbia?”).
Pessoalmente não posso ser tão relax porque viajo pensando quase sempre no blog, então preciso pesquisar muito sobre cada destino, montar roteirinhos e fazer cronogramas pra poder conferir várias atrações e contar aqui pra vocês. Mas se esse não for o seu caso, tente controlar o impulso de ver mil coisas de uma vez e viajar mais devagar.
Conhecer menos lugares e dedicar mais tempo a cada um deles é uma delícia: ajuda a entender melhor a cultura local e até a economizar. Dias ou manhãs de ócio também fazem parte, e se bater alguma culpa por estar perdendo tudo que o lugar tem a oferecer, vá ao menos tirar um cochilo num parque bonito, ler um livro num café simpático ou provar cervejas locais num bar com terraço. :)
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Viaje o mais leve possível
Sou aloka do “vou levar isso aqui porque vai que, né?”, mas com a prática tou aprendendo a desapegar de muita coisa, especialmente roupas, e viajar cada vez mais leve. Pense duas vezes se precisa de cada item que vai acrescentar à bagagem e três vezes antes de comprar algo novo durante o percurso. Se quiser mesmo aquela comprinha, abandone algo antigo pra não aumentar o peso da mala ou mochila.
Sair por aí com bagagem pesada ou mais itens do que você consegue carregar de uma vez é até tolerável num percurso curto, especialmente quando você tem grana pra fazer tudo de táxi. Mas numa viagem prolongada, com muitos deslocamentos, o peso tende a virar um fardo nível PQP NÃO AGUENTO MAIS ESSA MOCHILA. Cada escada ou caminhada até a parada de ônibus se transforma num inferno e você começa a se amaldiçoar. Sim, falo por experiência própria.
Se você for mulher, de porte físico mediano e viajando com mochilão, recomendo não passar de 10 kg (com mais no máximo uns 5 kg na mochila menor pra eletrônicos e outros itens que precisam estar sempre com você). Leve sabão, barbante e pregador de roupas pra lavar as roupas no improviso caso necessário, mas lembre-se que máquinas de lavar são invenções comuns na maior parte do mundo.
E se a preocupação for com os looks do dia, lembre-se que quando você tá sempre num lugar novo ninguém conhece suas roupas e que se aquele seu seguidor do Instagram tá preocupado porque você tá repetindo o mesmo casaco todos os dias é ele quem precisa de uns pratos (ou talvez umas roupas?) pra lavar. Tenha alguns itens que combinam com tudo e fazem você se sentir bem e sinta como é libertador perceber que, na prática, precisamos de muito pouco.
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Não descuide da saúde
Com muito tempo na estrada também é provável que você tenha algum probleminha de saúde. Gripes e resfriados acontecem muito quando o corpo tá cansado, quando mudanças de temperatura e alimentação são frequentes e quando usamos muitos meios de transporte, entrando em contato com milhões de germes alheios. Outro mal que atinge muita gente, especialmente em países com a culinária muito distinta da nossa, são problemas gastrointestinais (não por acaso, existe até o termo “diarreia do viajante”).
Por isso, é essencial ter um bom seguro viagem, que pode salvar sua vida (metafórica ou literalmente) caso role algum perrengue inesperado. Também não deixe de incluir na mala uma boa farmacinha com os principais remédios (pra dor de cabeça, febre, diarreia, alergias e problemas específicos que você costuma ter). E é igualmente importante respeitar seu corpo, entendendo quando ele pede descanso. Às vezes pode ser preciso perder um passeio ou outro pra se recuperar. Sim, é um saco, mas faz parte.
Outro ponto importante (e complicado pra muita gente) é tentar manter uma alimentação saudável. É muito mais fácil comer bem na nossa própria casa, com uma cozinha com tudo que precisamos, mercados que conhecemos e vivendo uma rotina. E enquanto numa viagem curta acho OK enfiar o pé na jaca, se seu rolê durar meses não dá pra seguir assim, né?
Ao passar o dia na rua, dormir em lugares diferentes o tempo todo e visitar países onde os itens que você costuma comer podem não estar disponíveis, comer bem talvez seja um desafio. Mas não é impossível: transforme o supermercado num parque de diversões, aposte nos grãos, legumes e frutas, tente levar sempre consigo algum lanchinho saudável e se esforce pra não depender da praticidade do fast food ou do pão com mortadela. Seu corpo vai agradecer.
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Não se apegue ao conhecido
Uma das minhas partes preferidas de viajar por um período prolongado é que quanto mais o tempo passa, mais fácil vai ficando desapegar da zona de conforto – o que foi, afinal, minha motivação inicial pra começar a viajar sozinha e aprender a lidar com a ansiedade.
As coisas que valorizo na rotina em casa vão parecendo mais distantes e só fica o que realmente importa. Por isso, repito o que digo pra mim mesma: não se apegue demais aos planos e não deixe de se abrir pra o novo por pensar muito no que ficou pra trás.
Não olhe mais pra uma tela do que pra os arredores. Não diga “não” se o único motivo pra fazê-lo for um medo irracional. Não torça o nariz pra comidas novas. Não julgue o que parece diferente. Não faça o que não quer porque dizem que é imperdível, porque estava em todas as fotos do Instagram ou porque o “você” de seis meses atrás queria fazer.
Não ignore oportunidades inusitadas que surgirem pelo caminho. Não pense que não é capaz de fazer algo porque supostamente não é seu estilo. Não fique o tempo todo rodeado apenas de quem já conhece. Não se apegue à ideia de quem você é.
E você, já fez uma viagem que durou meses ou anos? Que dicas daria pra quem tá se preparando pra um mochilão longo também? Compartilha nos comentários!
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4 Comentários
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Lu, teu blog foi uma das melhores coisas que me aconteceu nos últimos tempos. Me sinto mais preparada para meter o pé na estrada e viver coisas novas. E o que acho mais legal nos teus posts são as dicas pela experiência real vivida! Obrigada por compartilhar conosco (:
Mulher, que alegria gigante ler isso :) Não tens ideia! Fico muito feliz que meu “compartilhar”, por menor que seja, tenha ressonância aí do outro lado. Desejo de coração que tua estrada seja bem linda e transformadora!
Caí neste post por acaso porque estava pesquisando algumas coisas sobre minhas viagens. To me sentindo muito bem, pois não esperava encontrar nas suas palavras tantas soluções para preocupações que parece que só eu tivesse. A ansiedade e o problema constante do “fomo” como você disse, tomam muito do meu tempo nesse intercâmbio.. mas estão melhorando a cada dia. Obrigado por ajudar, obrigado pelas dicas e por dedicar seu tempo a isso. Vou seguir o blog :)
Oi, Gabriel! Que massa que você se identificou com o post, fico muito feliz! Sou uma pessoa MUITO ansiosa e sempre tenho que lidar com isso nas viagens, mas essa é uma das partes boas do processo, né? O aprendizado! Um abraço, boa sorte aí no intercâmbio e obrigada por seguir <3