Nomadismo digital e liberdade geográfica: qual a diferença?
Cansou de esperar ansiosamente pelas férias pra poder finalmente viajar, ou passou a trabalhar remotamente e sonha em viver pelo mundo, sem endereço fixo? É provável, então, que você já tenha ouvido falar em nômades digitais e esteja pensando em adotar esse estilo de vida. Mas ficar viajando sem parar não é pra todo mundo. E muita gente não sabe que existe uma diferença entre nomadismo digital e liberdade geográfica, conceito mais amplo que talvez funcione melhor pra você.
Neste artigo, vou explicar o que é nomadismo, o que é mais especificamente o nomadismo digital, o que é liberdade geográfica e quais são as principais diferenças entre cada conceito.
O que é nomadismo digital?
Ser nômade digital é, basicamente, ser nômade (não ter um lar fixo e estar sempre se movendo de um lugar a outro) e se manter através de meios digitais (ou seja, ganhar dinheiro pela internet). No meu entendimento, o nomadismo envolve não ter uma casa pra onde voltar, mas muita gente que se autointitula nômade tem, na verdade, uma casa – seja própria ou da família – onde guarda suas coisas e pra onde retorna de tempos em tempos.
Seja como for, esse estilo de vida tem se tornado cada vez mais comum, especialmente nos países do Norte Global. Por exemplo, uma pesquisa da consultoria MBO Partners apontou que nos Estados Unidos o número de nômades digitais passou de 7,3 milhões em 2019 para 10,9 milhões em 2020. E na pandemia, com a popularização do trabalho remoto, esse número só aumentou.
A boa notícia pra quem pensa em viver assim é que dá pra ser nômade digital com as mais diversas profissões e em diferentes formatos. Tem quem trabalhe remotamente pra uma empresa específica, até mesmo com contrato CLT. Tem quem empreenda online, criando a própria empresa na internet (desde um blog como esse aqui a uma loja virtual, por exemplo). E tem quem trabalhe como freelancer, prestando serviços que possam ser feitos a distância.
Vale ressaltar que apesar de o nomadismo digital estar na moda, ele não é a única forma de se manter financeiramente viajando pelo mundo. Você também pode viajar por longos períodos com suas economias, usando estratégias pra gastar muito pouco (como trocar trabalho por hospedagem), ou procurando empregos temporários presencialmente nos lugares por onde passar.
Ou seja: é possível viver como nômade sem trabalhar pela internet. E por mais que as redes sociais não o mostrem com tanta frequência, muita gente faz isso. Já conheci vários viajantes que buscavam trabalhos presenciais na alta temporada dos destinos, faziam bicos, vendiam artesanato ou comidinhas enquanto viajavam e assim por diante.
Mas pra que alguém seja considerado um nômade digital, é claro que a segunda parte do termo (o tal do “digital”) precisa estar presente.
Leia também: Como ser nômade digital: guia completo
O que é liberdade geográfica?
A diferença entre o nomadismo digital e a liberdade geográfica, por outro lado, se baseia na primeira parte do termo: o nomadismo. Afinal, não é porque você tem um trabalho que PODE ser feito de qualquer lugar do mundo que você PRECISA estar sempre viajando de um lugar pra outro e abrir mão de ter uma base fixa.
Gosto muito da expressão liberdade geográfica (no inglês, se fala em location independence) porque ela é mais ampla. Esse termo se refere a quem tem um trabalho que pode ser feito de qualquer lugar do mundo, usufruindo assim da liberdade de escolher qualquer cidade ou país pra morar ou viajar. Mas isso não significa que a pessoa esteja sempre se mudando.
Resumindo: todos os nômades digitais têm liberdade geográfica, mas o contrário nem sempre é verdade. Você pode ter liberdade geográfica, mas não ser nômade.
Trabalhando de forma remota, ou vivendo com liberdade geográfica, você não tem amarras em canto algum, mas pode escolher ficar num lugar só. A diferença em relação a um trabalhador comum é que você PODE viajar quando quiser, mas essa é só uma possibilidade.
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Nomadismo digital ou liberdade geográfica: o que é melhor?
Ao falar sobre estilos de vida, minha conclusão é sempre de que não existe um caminho certo, melhor que todos os outros. Se você tem o privilégio de experimentar outros jeitos de viver que saem do padrão, acho muito válido testar e descobrir o que mais funciona pra você. Mas acho bom, também, encarar as coisas de forma realista. O nomadismo digital pode parecer muito atraente, mas não é pra todo mundo.
As desvantagens do nomadismo digital
Já conheci muitos nômades digitais, mas a grande maioria deixou o nomadismo de lado depois de alguns anos na estrada, ou pretende fazê-lo no futuro. “Mas como assim, se essa vida é um sonho?”, você me pergunta. É um sonho mesmo, sob diversos aspectos.
É incrível, por exemplo, não estar amarrado a custos ou compromissos fixos em lugar algum, com uma rotina repleta de descobertas e um incentivo constante a trabalhar a se reinventar.
Mas apesar das muitas vantagens, a vida do nômade digital também tem vários pontos negativos. É cansativo estar sempre procurando hospedagem no novo destino, se adaptando a uma nova cultura, fazendo conversões pra diferentes moedas e descobrindo onde fica o supermercado mais barato e a cafeteria com o melhor cappuccino.
É desafiador ter que buscar constantemente lugares com bom Wi-Fi, trabalhar em ambientes barulhentos ou com pouca estrutura, lidar com diferenças de fuso horário e administrar o tempo de trabalho (que costuma ser muito!) com o tempo livre pra conhecer cada lugar por onde passa.
Também pode ser exaustivo fazer novos amigos a cada poucas semanas e estar sempre dizendo adeus. E pra muita gente, talvez pesem questões de conforto físico, como não ter uma cozinha equipada ou um travesseiro da altura que você gosta.
Sem falar que se você for realmente nômade, sem casa pra onde voltar, todas as suas posses precisam caber numa mochila, ou no máximo duas malas grandes. É super possível viver bem com poucas coisas, mas depois de um tempo há quem sinta falta de ter mais coisas do que aquilo que consegue carregar por aí, sejam instrumentos musicais, livros, materiais artísticos ou o que for.
Pode ser divertido pular de um lugar pra outro quando você está de férias, ou num período sabático pra reorganizar as ideias. E dependendo da sua personalidade, talvez essas desvantagens sejam irrelevantes pra você. Mas a longo prazo, acredito que a maioria das pessoas sente falta de ter um lugar pra chamar de casa.
Leia também: Vantagens e desvantagens do nomadismo digital
As vantagens da liberdade geográfica com base fixa
Sabe a rotina, aquela moça que anda tão mal falada? Depois de muito tempo sem ela, você provavelmente vai sentir saudades da bendita. De ter um grupo de amigos com quem sair com frequência, fazer algum curso ou atividade de forma regular, ter um barzinho preferido…
Nesse sentido, a liberdade geográfica é como juntar o melhor dos dois mundos. Você pode ter um lugar pra chamar de seu, mas ao mesmo tempo mantém a possibilidade de comprar passagens em promoção e ir pra o outro lado do mundo quando bem entender. Não precisa lidar com os problemas de uma rotina maçante de escritório, mas pode se conectar a um lugar e pessoas que moram nele de forma mais perene do que quando tá sempre de passagem.
É claro que esse estilo de vida também tem suas desvantagens em relação a um emprego tradicional, especialmente pra quem é freelancer ou tem seu próprio negócio. É preciso, por exemplo, lidar com a falta da estabilidade financeira e ter disciplina pra organizar os próprios horários – que pode incluir ficar trabalhando num domingo enquanto seus amigos estão na praia, porque você passou a semana viajando e produziu menos (exemplo baseado em fatos reais).
Caso você não opte pelo nomadismo, também vai ter o ônus dos custos fixos. Pagar aluguel e contas da casa, mobiliar o espaço, se matricular em cursos e coisas do tipo custam dinheiro, e quando estiver viajando você terá que continuar arcando com boa parte desses gastos, ao contrário de quem não tem casa fixa. Mas existem alternativas pra lidar com isso, como sublocar sua casa enquanto estiver fora.
No fim das contas, acredito que o conceito de liberdade geográfica é mais sustentável que o tão falado nomadismo digital.
Como escolhi entre nomadismo digital e liberdade geográfica
Eu deixei meu último emprego fixo e presencial no final de 2016. Desde então, venho trabalhando principalmente aqui neste blog, que é minha empresa, e também faço trabalhos como freelancer em diferentes áreas da comunicação. No meu primeiro ano trabalhando como empreendedora e freela, sem precisar estar fixa em lugar algum, passei a maior parte do tempo viajando, sendo 6 meses seguidos.
Minha ideia, quando saí de casa pra esse mochilão, era não ter data pra voltar. Depois de viajar pelo Brasil e passar uns meses na Europa, pretendia ir explorar a Ásia e ver aonde a vida ia me levar. Cheguei a pensar em ser nômade. Afinal, a possibilidade de ir aonde quisermos é muito tentadora, já que existe um mundo inteirinho a se descobrir!
Na prática, no entanto, entendi que a vida nômade não era pra mim. Não que não ame viajar – tanto que fiz disso meu principal trabalho, e escrevo sobre o assunto desde 2010. Mas entendi que minha prioridade não era viajar sem parar.
O que eu queria, e felizmente consegui construir e manter até hoje, era liberdade geográfica. Sou muito feliz por ter a liberdade de viajar sem precisar esperar pelos feriados ou férias. Poder escolher uma cidade diferente pra chamar de casa por um tempo se quiser, mas poder ficar parada no meu cantinho quando estiver a fim e também ser feliz assim.
É o que falei lá em cima: cada um faz seu caminho do seu jeito. Cada escolha traz consigo uma renúncia (ou várias!), e cada um sabe o peso que têm as vantagens e desvantagens das suas decisões.
Pra mim, viver numa casinha aconchegante com as coisas do meu jeito, poder encontrar amigos com frequência, manter uma rotina de exercícios, poder ter comigo materiais de arte e ter uma rotina mais ou menos estável, apesar de dinâmica, são hoje grandes prioridades.
Ao mesmo tempo, não abro mão de poder ir passar uma semana trabalhando de uma casa de praia ou nas montanhas, ou mesmo ir passar dois meses em outro país se me der vontade, sem abrir mão das minhas fontes de renda.
Conciliar esses dois lados não é fácil e exige muito trabalho, mas também é um privilégio pelo qual sou muito grata.
Quer ser nômade mesmo, sem amarras a lugar algum? Vá nessa! Só não se prenda a isso, transformando o que devia ser liberdade em mais uma prisão. É bonito publicar fotos no Instagram sempre em um canto diferente do mundo, mas antes de sair pulando de galho em galho por aí, tente entender bem suas motivações. De nada adianta substituir uma supervalorização de coisas materiais pela fixação em colecionar carimbos no passaporte.
O importante é avaliar o que faz mais sentido na sua vida hoje – lembrando que sempre podemos mudar de ideia, é claro.
Tem alguma experiência pessoal ou dúvida sobre nomadismo digital e liberdade geográfica? Conta aí nos comentários!
Crédito da foto em destaque: Pexels – licença Creative Commons Zero (CC0)
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10 Comentários
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Ainda trabalho de segunda à sexta das 9 às 5… mas quando chego em casa à noite e nos finais de semana estou dedicando todo meu tempo no meu blog e outras mídias sociais. Tanto o nômade digital quanto o location independent ainda não são uma realidade pra mim, mas acredito estar no caminho certo que me levará a uma das duas.
Adorei o post.
Oi, Nadia! Acredito que quando a gente tem paixão e dedicação, dá certo, sim! Passei muitos anos como você e tou começando a colher os frutos. Boa sorte! :)
Muito bom refletir sobre esses detalhes.
Já tinha percebido essa diferença a algum tempo pois não gosto dessa vibe corrida, nem do turismo frenético constante.
Oi, Lucas! Pois é, acho que poucas pessoas conseguem ficar realmente satisfeitas depois de um longo período de “turismo frenético”. Acredito que muitos continuam assim meio que no automático… Eu mesma já viajei de forma mais “corrida” e hoje costuma me dar preguiça de seguir assim :P
Já sou frila trabalhando de casa e viajando bem, mas tenho dificuldade de trabalhar qd estou viajando, aí acabo tendo que ficar mais tempo na minha cidade mesmo… Como vc se organiza para escrever em meio a uma viagem?
Também tenho dificuldade de trabalhar quando tou viajando :P O que tenho feito é trabalhar mais do que o “normal” quando tou em casa pra aliviar a carga nas viagens, e passar mais tempo em cada cidade pra tirar no mínimo um dia inteiro só pra trabalhar. Como sou meio ansiosa, geralmente vou logo conhecer o que tou muito a fim e depois fico produzindo mais tranquila :) Mas ainda tou nesse exercício!
Oi Luisa, adorei sua postagem e se enquadra exatamente na categoria que desejo para minha vida. Eu e meu namorado estamos iniciando um projeto digital que vai abordar também conteúdos de viagem, mas me assustava muito a questão do nomadismo digital, pois prefiro uma viagem com mais imersão também, em breve estaremos nos mudando para Nova Zelândia e esse termo e categoria me esclareceu muita coisa, vou procurar mais informações e me aprofundar no assunto. Obrigada pela partilha.
Que bom, Monielle! Fico muito feliz :) No fim das contas, a gente usa esses termos pra explicar nosso estilo de vida pra sociedade e se conectar com outras pessoas em situação parecida, mas ninguém precisa caber numa caixinha, né? O ideal é procurar um modelo que funcione pra vocês! :) Um abraço e boa sorte!
mulheeeer, eu to amando o seu blog! eu tenho uma pequena empresa de turismo consciente e viagens de autoconhecimento, e estava sentindo uma vontade enorme de ter um blog novamente! confesso que já tive, anos atrás, e fiquei desestimulada e acabei deixando de lado. você me inspirou por aqui :)) atualmente também trabalho como location independent, e pra mim foi a melhor alternativa, ter liberdade de ir e vir e trabalhar com o que eu amo. são muuuuitos desafios, né? mas a gente vai se redescobrindo no processo e a jornada fica ainda mais linda. gratidão imensa!! :))
Que massa, Amanda! Fico super feliz! :) Sim, são MUITOS desafios hahaha Mas acho que em tudo que importa é assim, né? Obrigada por essa mensagem linda e boa sorte no teu caminho! :) Um abraço