Berlim alternativa: além dos pontos turísticos convencionais
Visitar Berlim é ter uma aula de história do século 20. Afinal, alguns dos principais acontecimentos que influenciaram o mundo no século passado envolveram a cidade. Os horrores do holocausto, os eventos que provocaram a Guerra Fria, a vida durante o período, a queda do muro… Não faltam oportunidades de aprender in loco sobre esses e outros assuntos. Mas além disso, existe uma outra Berlim. Considerada por muitos como a capital mais cool da Europa, a cidade tem um lado “alternativo” mega interessante.
Já falei aqui sobre como a cidade se transforma, com vários espaços assumindo novos usos pra atender aos interesses da sociedade. E, também, sobre o lado negativo desse processo: Berlim também é, assim como muitos lugares do mundo, vítima da gentrificação, apesar de tentar resistir a ela.
Mas como conhecer, na prática, esse “lado B” berlinense? Na minha terceira passagem pela cidade, passei duas semanas revisitando alguns dos lugares mais legais de lá e descobrindo outros, e resolvi montar esse guia com sugestões pra você cair de amores assim como eu.
Tem tour guiado com um enfoque alterna e também tem feirinhas, bares, lanchonetes, parques, becos coloridos, galerias de arte… Continua lendo aí pra conferir!
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Free walking tour Alternative Berlin
Pra quem quer uma abordagem mais didática, uma dica é fazer o tour guiado gratuito (baseado em gorjetas) da Alternative Berlin, que em três horas percorre algumas partes menos turísticas da cidade. Fiz o passeio e recomendo, mais pelas explicações do guia do que pelos lugares visitados.
Meu guia, um inglês expatriado, falou bastante sobre a cultura de arte de rua berlinense, o auge do punk rock nos anos 70 e do techno desde os anos 90, projetos de arte urbana, ocupação de prédios abandonados por artistas, moicanos, resistência política…
Descobri, por exemplo, que centenas pessoas grafitam a cidade a cada noite e que é muito popular por lá a prática de “trainbombing“, ou seja, grafitar vagões de metrô inteiros rapidamente enquanto eles tão parados numa estação (veja alguns exemplos de trens grafitados).
Começamos o passeio na Alexanderplatz e passamos por lugares que você provavelmente vai encontrar em qualquer guia, como o Hackescher Market, mas abordando-os com outra perspectiva. E entramos, como não podia deixar de ser, no Haus Schwarztenberg, um beco coloridão que merece muito a visita.
Administrado por um coletivo de artistas, o lugar se tornou um espaço importante pra quem produz arte urbana ou celebra a cultura alternativa. Ao redor de um pequeno pátio (cheio de grafites, é claro) você encontra galerias de arte, lojas de roupas e de quadrinhos, um bar e até um pequeno cinema.
É bem hipster, sim, mas não deixa de ser um exemplo de resistência. Enquanto a área em volta se tornou cada vez mais turística e foi ocupada por lojas de rede, esse pedacinho se mantém como uma espécie de oásis pra criatividade.
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Quando eu tava começando a estranhar um tour “alternativo” ali no centro da cidade, pertinho de ícones bem turísticos como a Catedral de Berlim, pegamos o metrô pra estação Kottbusser Tor, em Kreuzberg. Que é, como falei nesse outro post, um dos bairros mais alterna da cidade. :)
Bombardeada na Segunda Guerra, a região foi ocupada posteriormente por imigrantes, em sua maioria turcos, que se dedicaram a reconstruir a área e trabalhar nas fábricas. Durante a Guerra Fria, essa parte da cidade ficava no lado ocidental da cidade.
Como quem morava ali não precisava cumprir o serviço militar obrigatório, muitos jovens artistas, anarquistas e punks se mudaram pra lá, criando uma atmosfera de contra cultura. Foi criado ali, por exemplo, o SO26, clube de punk rock mais importante do mundo.
Nessa região, descobrimos curiosidades por trás de grafites famosos, como um que havia sido feito pelo artista Blu e foi coberto de tinta em protesto contra a gentrificação da região, e outro que mostra um astronauta gigante.
De acordo com o artista, Victor Ash, a obra representa a vontade de escapar pra outros universos – como ele fez, de certa forma, recorrendo a “subculturas” quando adolescente como forma de encontrar sua identidade no meio urbano em que cresceu. Ah, e tem um detalhe legal: à noite, a sombra de uma das bandeiras da concessionária ali em frente fica na mão do astronauta.
Visitamos também a galeria Bethanien, um antigo hospital transformado em hub pra artistas independentes, ativistas e todo tipo de “criativos” socialmente engajados. O espaço tem entrada gratuita e abriga estúdios, galerias, salas de exposição e áreas dedicadas a teatro, dança e música, incluindo uma grande escola de música pra crianças.
Outra parada interessante foi na Baumhaus an der Mauer (“Casa da árvore no muro”, em tradução livre), uma casinha. A área onde existe hoje essa peculiar casa pertencia oficialmente à Berlim Oriental, mas tava localizada fisicamente na parte Ocidental, porque o muro não foi construído de modo a deixar esse pedacinho do outro lado.
Ela ficou vazia e muita gente jogava lá móveis e madeiras velhas, até que um cara chamado Osman Kalin decidiu ocupar a área, construindo uma casa com os materiais que encontrou por lá. Tentaram oferecer muito dinheiro pra ele sair de lá, mas ele não cedeu: aos 93 anos, ele continua vivo e não mora mais lá, mas visita o lugar quase todo dia, e o mantém como um curioso símbolo da história da cidade.
Essa foi uma das últimas paradas do passeio da Alternative Berlin, mas também demos uma passada no Raw Tempel e terminamos o rolê no Yaam. Os dois estão entre meus lugares preferidos na cidade <3 Quer saber por quê?
Praia e cultura africana no Yaam
Me apaixonei à primeira vista quando visitei, em 2016, esse pedacinho da África misturada com Caribe que atende pelo nome de Yaam (Young African Art Market). Criado em 1994 como espaço pra reunir expressões ligadas a música, cinema, gastronomia e grafite, ele é um dos principais points pra quem curte reggae, hip hop e black music em geral.
Por lá você encontra um bar, uma área fechada tipo boate, uma “praia” à beira do rio, restaurantes de comida africana, todo tipo de gente e uma vibe massa. Super recomendo curtir um fim de tarde/noite lá num dia mais quente. :) Saiba mais sobre o Yaam nesse outro post que escrevi. Endereço: An der Schillingbrücke 3, 10243.
Diversão nos galpões abandonados do Raw Tempel
Outro lugar que adoro em Berlim e sempre visito é o RAW Tempel, outro espaço que representa um bocado do que é a cultura alternativa berlinense. Localizada entre os bairros Friedrichshain e Kreuzberg, pertinho da East Side Gallery, essa área é formada por diversos galpões antigos, reaproveitados pra diversas funções, sempre com um toque de arte e ousadia.
No espaço, você encontra diversos ateliês, galerias, eventos culturais, oficinas, seminários, peças de teatro, shows, galerias, rampas de skate, um muro de escalada, uma escola de circo e dança, bares, boates, cafés, barracas de comida de rua, exposições, cursos… Tudo isso num ambiente cheio de grafittis lindões, colorido e bagunçado, daquele jeito vintage-charmoso que é a cara de Berlim. Saiba mais sobre o Raw Tempel, que fica em Revaler Str. 99, 10245.
Comidinhas e bares
Quer mais dicas de lugarzinhos pra comer e beber pelos bairros de Neukölln, Kreuzberg e Friedrichshain, região onde melhor se expressa a “Berlim alternativa”? Olha só alguns outros que testei e aprovei:
Burgermeister
Comi um dos melhores hambúrgueres da vida na Burgermeister, uma hamburgueria que já começa a ser interessante pela localização: ela fica em um antigo banheiro público, embaixo dos trilhos do U-bahn (estação Schlesisches Tor).
É, como você deve estar imaginando, um lugar sem frescura: os poucos itens do menu são preparados num espaço meio apertado e pra comer você tem duas opções: conseguir um lugar pra se encostar numa das mesinhas altas que têm grades em vez de bancos ou, em dias de clima bom, ir sentar na grama do outro lado da rua.
Mas essa vibe informal não significa falta de qualidade, viu? O lugar vive concorrido e não é só pelo hype: os hambúrgueres são gostosos de verdade, com preços justos.
O endereço é U1 Schlesisches Tor, Oberbaumstraße 8, 10997. Eles também têm outra unidade em Kottbusser Tor, juntinho do metrô. Lá o ambiente é de uma lanchonete normal, sem o charme banheirístico, mas o sabor é igualmente mara.
Hops & Barley
Encontrei a indicação dessa microcervejaria em vários sites que falavam sobre o renascimento da cena cervejeira berlinense, sempre com ótimas recomendações. E não me decepcionei: com uma atmosfera meio rústica, o lugar é aconchegante e as cervas produzidas lá não deixam a desejar.
Entre as opções, você encontra as tradicionais Weiz (de trigo), Dunkel (escura) e Pilsner não filtradas, além de variedades que mudam de uma semana pra outra e Apfelwein (cidra). Dizem que o lugar costuma ser superconcorrido, especialmente em dias de jogo, mas cheguei lá à tarde durante a semana e tava super tranks.
O endereço do bar/cervejaria é Wühlischstraße 22/23, 10245 . Saiba mais sobre o Hops & Barley e o Burgermeister.
Klunkerkranich
Meca dos hipsters berlinenses, expatriados ou turistas, o Klunkerkranich começou como um lugar meio “secreto”, já que fica no topo de um shopping, com acesso pelo estacionamento e nenhuma sinalização. Hoje já não existe mais segredo algum, mas ainda vale a pena demais ir curtir o pôr do sol lá em cima.
O endereço é Karl-Marx-Straße 66, 12043. Pra chegar, é só pegar o metrô pra Rathaus Neukölln (U7) e andar até o shopping Neukölln Arkaden. Procure os elevadores e vá até o último andar possível e então vá subindo a rampa do estacionamento a pé até encontrar um jardim vertical, umas tralhas transformadas em decoração e a “recepção” do bar, onde é preciso pagar uns 3 euros pra entrar.
Só tomar umas cervejas, comer uns lanches e curtir o visual ao som de bons DJs já tornaria o programa massa, mas às terças-feiras ainda costuma rolar jazz ao vivo na parte interna. Uma delícia! Só é bom chegar antes das 18h durante o verão se quiser um lugar pra sentar. Ah, e perto de lá tem vários bares e boates descoladas caso você queira dar continuidade aos bons drinks.
The California Breakfast Slam
“É meu aniversário hoje”, disse eu em tom de justificativa pra o garçom que me atendia no California Breakfast Slam (Cabslam pra os íntimos) quando pedi uma porção de panquecas depois de ter detonado um breakfast burrito gigante. A quantidade de comida era meio absurda, mas foi uma forma maravilhosa de começar a celebrar meu dia longe de casa. ;)
O tal burrito veio com ovo, bacon, queijo, feijão, molho ranchero e batatas (tudo isso por 6,90 euros, ou 7,90 com guacamole – que obviamente acrescentei). Muito grande, muito recheado, muito incrível. E as panquecas? Ahhh, as panquecas… As minhas eram de banana e nozes (também tinha de blueberry e de morango) e vêm numa porção com três, com bananas e nozes no meio da massa, um creminho por cima e maple syrup num potinho.
Ah, o bar também tem ótima música. atendimento simpático, ambiente simples e aconchegante, velas e algumas mesas do lado de fora pra dias de clima agradável. Recomendo demais. O endereço é Innstraße 47, 12045.
Markthalle Neun
Outro lugar de onde saí quase rolando foi o Markthalle Neun, mercadão em Kreuzberg que reúne barracas com comidas de vários países, desde cachorro-quente paulista a comida turca, passando por empanadas uruguaias, currywurst, pizzas… O espaço tá sempre lotado e tem poucos lugares pra sentar, então prepare-se pra comer em pé ou na sarjeta do lado de fora.
Fui numa quinta-feira à noite, quando acontece o evento chamado Street Good Thursday (das 17h às 22h). O mercado também tem comidinhas de segunda a sábado das 12h às 18h e funciona como “farmer’s market” nas sextas das 12h às 18h e sábados das 10h às 18h. Além disso, aos domingos costuma rolar o Breakfast Market, focado em comidas de café da manhã, das 10h às 17h.
O endereço é Eisenbahnstraße 42/43, 10997. Recomendo conferir o funcionamento antes de ir, acessando o site oficial (e usando o Google Translate, hehe).
Freischwimmer
Não muito longe dali você encontra um restaurante com localização privilegiada à beira dos canais do rio Spree: o Freischwimmer existe há uns 20 anos e é um ambiente delicioso pra dias bonitos. Quando fui lá, em agosto de 2017, pedimos cervejas por 3 euros (pequena) e 4 euros (grande) e um apfelstrudel delícia por 5.20 (caro, mas bem servido). O endereço é Vor dem Schlesischen Tor 2, 10997.
Birgit Und Bier
Quer esticar o dia depois de almoçar no Freischwimmer e tomar umas cervejinhas num ambiente diferentão? Então siga de lá pra o Birgit und Bier, bar que me foi recomendado pelo simpático garçom brasileiro que me atendeu no Cabslam. O lugar tem uma decoração toda doida, com umas coisas de parque de diversões, e me lembrou os bares em ruínas de Budapeste.
Mercados de pulgas e feirinhas
Outra atração delícia nessa região é o Nowkoelln Flowmarkt, mercado de pulgas menos concorrido do que o já famosíssimo Mauerpark. Acho superválido ir também nesse irmão mais conhecido, que aos domingos sempre fica cheio de gente explorando as barraquinhas de decoração, acessórios, livros, móveis, comidas etc. e assistindo aos cantores que tomam conta do anfiteatro no karaokê, entre a primavera e o outono.
Mas caso você esteja em Berlim no primeiro ou terceiro domingo do mês, sugiro conferir o mercado de de Neukölln, que se espalha à beira do canal Landwehr, na rua Maybachufer. Em alguns sábados também rola uma feirinha de designers independentes e comidinhas, e nas sextas uma feira turca. Recomendo checar as datas certinhas no site oficial. Endereço: Maybachufer 36, 12047.
Saiba mais sobre os mercados do Mauerpark e Nowkoelln Flowmarkt.
Um jardim comunitário e oásis urbano
Pra finalizar esse longo post, não podia deixar de mencionar dois lugares que já ganharam post aqui e rendem ótimos passeios pra quem se interessa por ocupações alternativas dos espaços urbanos. Um deles é o Prinzessinnengärten, jardim comunitário instalado no meio de Kreuzberg. Num espaço que passou mais de 60 anos abandonado e tomado por lixo você encontra hoje pequenas hortas, uma cafeteria e espaços pra troca/doação de livros e roupas.
Grades verdes e uma placa rosa-choque separam o caos urbano desse oásis de tranquilidade, que desde 2009 reúne os moradores da região – e quem mais queira contribuir – pra ressignificar o espaço urbano em torno da agricultura orgânica. É bem fácil chegar lá a partir da estação de metrô Moritzplatz (linha U8). Endereço: Prinzenstraße 35 – 38, Kreuzberg. Saiba mais sobre o Prinzessinnengärten.
Tempelhof, o aeroporto transformado em parque
Ainda tem tempo livre na cidade e disposição pra ir um pouco mais longe? Se o clima colaborar, a dica é visitar também o Tempelhof, aeroporto que já foi o mais importante da Europa, virou um parque e assim permaneceu graças à resistência da população.
Na década de 1930, passavam por ali mais passageiros do que em qualquer outro aeroporto europeu. Desativado em 2008, o Tempelhofer Feld é hoje o maior parque público de Berlim. O interessante é que não foram feitas muitas modificações na sua estrutura: andando por lá, não tem como não perceber que o lugar era um aeroporto. Tem as pistas de pouso e decolagem, tem um aviãozinho que era usado pelos bombeiros, tem placas da época e tem também murais informativos com textos em inglês e alemão sobre a história do aeroporto.
Se você aparecer por lá num dia de clima agradável, especialmente nos finais de semana, vai encontrar muita gente correndo, andando de patins, bicicleta ou skate, fazendo yoga, empinando pipa, brincando com crianças ou tirando um cochilo na grama. Também tem áreas específicas pra cachorros se exercitarem, além de um campo de futebol e um espaço pra churrasco. O endereço é Tempelhofer Damm, 12101. Saiba mais sobre o Tempelhofer Feld.
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2 Comentários
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Que post maravilhoso e completo! Obrigada :))
Ah, que bom que você gostou! :D Obrigada pelo comentário <3