Turismo indígena: entenda os impactos positivos e negativos
Quais os impactos positivos e negativos do turismo indígena? Quem regulamenta a visitação a essas comunidades? O que os visitantes precisam levar em consideração para não prejudicar o local e seus habitantes? Desde que comecei a pesquisar e refletir mais sobre turismo responsável, passei a me fazer essas e outras perguntas.
Em 2019, passei alguns dias numa comunidade indígena na Amazônia através de uma iniciativa de Turismo de Base Comunitária organizada pela Braziliando. Minha experiência foi incrível e o trabalho da empresa me parece ter impactos super positivos no lugar, mas sei que nem sempre é o caso. Nós turistas também podemos gerar váriosp problemas nos territórios indígenas, muitas vezes sem nos dar conta.
Pra entender mais sobre o turismo indígena, conversei com três especialistas no assunto. Meu objetivo era aprender mais sobre os efeitos dessa atividade e, assim, ficar ainda mais atenta às iniciativas turísticas de que possa vir a participar no futuro, pra praticar e promover um turismo mais ético e sustentável.
Se você tem interesse em visitar territórios indígenas, seja num passeio de até um dia ou numa estadia mais longa, acho essencial entender essas questões envolvidas na atividade.
Pra escrever este artigo, falei com Andrea Rabinovici, doutora em Ambiente e Sociedade e professora do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); com Juan Felipe Negret Scalia, Coordenador-Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Fundação Nacional Do Índio (Funai); e com Jocilene Cruz, Coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Cultura Amazônica (Neicam) da Universidade do Estado do Amazonas.
Dividi as respostas deles de acordo com os principais temas que abordamos: benefícios e malefícios do turismo indígena pra visitantes e comunidades; principais questões que o turista deve levar em consideração antes de fazer essas visitas; e a normativa da Funai que regulamenta o turismo em territórios indígenas. Além disso, os entrevistados compartilharam exemplos positivos de turismo indígena no Brasil e falaram sobre os impactos da pandemia de Covid-19 nas populações que costumam receber visitantes.
Mas é claro que também é importantíssimo escutar o ponto de vista de indígenas, né? Então não deixe de ler também o artigo Costa do Descobrimento e a cultura indígena, em que conversei com o comunicador e ativista Tukumã Pataxó, de Coroa Vermelha (Bahia).
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Benefícios do turismo indígena
O que o turismo em territórios indígenas pode trazer de positivo pra os visitantes e principalmente as comunidades visitadas?
Andrea Rabinovici: A depender do olhar, o mesmo impacto pode ser considerado positivo por uns e negativos por outros. Nem sempre o que o turista/visitante/operadora/agência e comunidade entendem como benefício e malefício batem, imagine o que pensam indivíduos com visões e experiências de vida diversas.
Dito isso, com todas as aspas possíveis, menciono o que comumente se entende como benefício. Do ponto de vista das comunidades: geração de renda para melhoria da infraestruturas e qualidade de vida de seu povo; autonomia; aprimoramento da governança; oportunidade de pensar e ressignificar-se enquanto cultura, podendo valorizar seu território, rituais, costumes e autoestima a partir do interesse e aceitação por meio do olhar externo.
Do ponto de vista do(a) visitante, podemos mencionar como benefícios a ressignificação de sua existência, como repensar seu modo de vida; pausa para desconexão do dia a dia e das tantas prisões vividas em relação aos hábitos cotidianos. Como possível consequência, mudanças em padrões de consumo que podem inclusive melhorar a saúde das pessoas e dos ambientes em que vivem, influenciando outras pessoas pelo exemplo.
Além disso, o conhecimento da realidade dos povos indígenas gera empatia e pode ser fundamental na defesa dos direitos indígenas e, portanto, da sociodiversidade brasileira.
Juan Felipe Negret: Se a atividade turística for bem organizada, ela traz geração de renda, além de valorizar as tradições e o meio ambiente. Também é uma forma de enfrentar uma série de atividades ilegais, como a extração ilegal de madeira, contrapondo a isso uma atividade sustentável e com impactos bem menores.
A Funai é entusiasta do turismo indígena, e eu particularmente também o sou. Acredito nos benefícios, inclusive do ponto de vista educativo. Muitas vezes as pessoas que conhecem uma terra indígena saem mudadas e mais aliadas à causa indígena. O turismo também pode contribuir para a valorização do povo brasileiro, tanto internamente quanto para o resto do mundo.
Malefícios do turismo indígena
Quais malefícios que essas atividades podem provocar para as comunidades indígenas?
Andrea Rabinovici: Assim como na questão anterior, há que se colocar tudo em perspectiva, relativizar. Os malefícios do ponto de vista das comunidades muitas vezes se dão até a partir do excesso dos benefícios….
Por exemplo: o excesso de renda e como lidar com isso em eventual interrupção inesperada. Outra questão é o possível abandono de outras atividades tradicionais que não as turísticas, que muitas vezes são consideradas como um ganho mais fácil.
O abandono das atividades tradicionais é um problema porque além de constituírem a base das tradições que atraem os visitantes, podem ser estas a assegurarem sua subsistência nas sazonalidades do turismo. Inclusive em momentos como o que estamos vivendo agora, de pandemia, quando o turismo cessa por completo.
Além disso, algumas características do turismo podem trazer conflitos culturais. Por exemplo, a valorização da mão de obra jovem e feminina, gerando renda maior às mulheres, pode ser um problema (e consequente fonte de violência) em sociedades mais machistas, despreparadas para esta possibilidade. Também pode acarretar na perda da valorização e respeito pelos mais velhos, anciãos e lideranças tradicionais.
Também pode acontecer de alguns modos de vida serem modificados a partir do olhar e exemplo dos(as) visitantes, descaracterizando em parte suas culturas. Pode haver introdução de drogas ou tendências de consumo de mercadorias a partir do exemplo de comportamentos dos(as) visitantes.
Jocilene Cruz: Em experiências de Turismo de Base Comunitária bem organizadas, tudo ocorre dentro de um planejamento e uma distribuição de benefícios equitativa e justa. Mas quando não é o caso, a visitação turística pode trazer problemas.
Existem agências que exploram os indígenas, provocando uma assimetria na distribuição dos benefícios econômicos gerados pela atividade turística. Também há casos em que não se pede autorização para entrada nas Unidades de Conservação e em que são gerados prejuízos ao meio ambiente.
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Juan Felipe Negret: Toda atividade turística tem um impacto. Caso a visitação seja feita de forma desordenada, você não sabe quem vai chegar, e alguns turistas podem trazer malefícios à comunidade.
Geralmente, quem procura um turismo étnico ou ecoturismo tem mais sensibilidade e respeito às tradições, mas nem sempre é o caso. Existe também um público que procura esses lugares para pesca esportiva, e parte desse público é de homens portando uma quantidade enorme de bebidas alcoólicas. Isso gera diversos problemas, desde produção de lixo até assédio às mulheres indígenas e prostituição.
A monetização dos processos culturais também pode ser um aspecto negativo do turismo indígena, dependendo de como for tratada.
Responsabilidade dos turistas
O que o visitante deve considerar ao fazer turismo em comunidades indígenas?
Andrea Rabinovici: O(a) turista deve buscar aprender e compreender o local e as pessoas que visitará. Deve estar disposto(a) a mergulhar no seu universo local, se deixar levar, desconectar do seu dia a dia e só trazer pra comunidade aquilo que pedirem a ele a fim de trocar e saciar a curiosidade dos indígenas sobre sua vida (fotos da família, da casa, do lugar em que se vive).
Deve também conhecer e respeitar as regras de visitação e adaptar-se ao que é oferecido em termos de hospedagem, alimentação e programação. Buscar entender a realidade, se abrir para a compreensão dos modos de vida. Evitar atitudes e exemplos que desvalorizem ou descaracterizem a realidade local.
Muitas comunidades indígenas acolhem visitas e negociam a base de trocas para receber: pedem remédios, uma determinada quantia em dinheiro e tudo isso geralmente é mediado por organizadores (operadora, Funai, ONG) junto à comunidade.
O turista deve tirar proveito das experiências de forma respeitosa, nos espaços a ele destinados, percebendo com quem conversar e como (nem todos membros de uma comunidade gostam de receber visitantes, tirar fotos ou prestar serviços), com respeito ao local e aos combinados.
Além de tudo isso, há a questão da possível transmissão de doenças, que precisa ser cuidada bem antes da viagem ocorrer. Com exames médicos e a ida à aldeia com o máximo de cuidados do ponto de vista sanitário, para evitar riscos de contágio.
Jocilene Cruz: É importante estar disposto a conhecer uma cultura que é diferente da sua, lembrando que ela não é nem inferior, nem superior. E, claro, se abrir para aprender com o outro. Muito além da questão de preservar a natureza, aprender também com as sensações e particularidades da vida nesse ambiente.
Muitos turistas vêm com vontade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Falando do contexto da Amazônia, onde se localizam minhas pesquisas, é importante lembrar que a floresta tem o tempo dela. Quem chega deve estar interessado em apreciar o pôr e o nascer do sol, admirar a diversidade de tonalidades de verde, sentir o lugar, conversar com as pessoas… E não necessariamente fazer mil atividades.
Outra questão a estar atento é a visão equivocada que muitos têm sobre quem são os povos indígenas na contemporaneidade. Muitas experiências, principalmente quando são conduzidas por grupos externos às comunidades indígenas, propagam a ideia de que as comunidades ainda vivem como em 1500.
João Pacheco de Oliveira, um grande antropólogo, destaca que a gente precisa romper com essa imagem do indígena congelado no tempo. Em visitas a comunidades próximas de Manaus, muitas pessoas falam “ah, mas esses nem são índios de verdade” e começam a divulgar uma ideia de que existe um índio de verdade e um que não é “autêntico”. Não entendem que a cultura é dinâmica, as coisas mudam com o tempo.
Regulamentação do turismo indígena
Como é a regulamentação da atividade turística em terras indígenas?
Andrea Rabinovici: A Funai tem um papel regulador. Em junho de 2015, ela criou a Instrução Normativa (IN) nº 3, que regulamenta as atividades de visitação. A partir da sua autorização, agências, operadoras ou eventuais turistas avulsos devem se responsabilizar pelo que consta nas normas.
O turismo em terras indígenas depende da autorização e interesse das comunidades indígenas, que devem elaborar um Plano de Visitação. Havendo abertura para a visitação, interessados(as) devem buscar obter a autorização e entregar documentos, que incluem um atestado médico garantindo que a pessoa não é portadora de doença infectocontagiosa, além do comprovante de vacinação contra febre amarela e um Termo de Responsabilidade.
Juan Felipe Negret: o fenômeno do turismo em áreas indígenas é bastante antigo, remontando à década de 80. Havia sempre um debate sobre a necessidade ou não de regulamentar essa prática, se o Estado devia interferir ou não. Houve algumas tentativas de regulamentação que nunca avançaram.
Até que em 2012 foi elaborada a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI). Esse decreto foi construído a várias mãos, em um processo muito interessante de participação dos povos indígenas, com várias assembleias nacionais. Nesse momento, o Estado recebeu a confirmação de que havia o interesse de diversos grupos indígenas de levar adiante essas atividades turísticas nos seus territórios.
A partir disso, a Funai escolheu alguns casos piloto, onde já havia visitação, e começou a estudar qual seria a melhor maneira de regulamentar. Depois de alguns anos de discussão, chegamos em 2015 à Instrução Normativa nº 3.
A Funai não tem competência para regulamentar o turismo, porque isso seria uma competência do Ministério do Turismo, mas regulamenta as normas de entrada e visitação em terras indígenas.
O que essa normativa traz, concretamente, é uma série de temas para que os indígenas debatam. Por exemplo, qual será o papel dos homens, das mulheres, dos mais jovens, dos mais velhos, qual o roteiro que vai ser produzido, áreas sagradas que não são passíveis de visitação…
É importante que cada povo, aldeia por aldeia, discuta esses temas em profundidade, analisando se há pontos que podem criar conflitos. Por exemplo: no Xingu existe muita pesca esportiva. Se uma população indígena quer explorar essa atividade em certo trecho do rio, é preciso saber se quem vive na comunidade mais abaixo no rio está de acordo.
A ideia é que se preparem para problemas que podem vir acontecer. Afinal, toda atividade turística tem um impacto, é como receber um estranho na sua casa.
Já recebemos Planos de Visitação elaborados por empresas europeias, que não aprovamos. Em outras ocasiões recebemos textos construídos pelos índios que estavam tecnicamente precários, mas em que é possível perceber que eles discutiram aqueles temas e chegaram a conclusões em conjunto, então aprovamos.
Um exemplo interessante é o do Pico da Neblina, chamado pelos indígenas Yanomami de Yaripo. Nos anos 1990, grupos de turistas eram levados lá sem diálogo com os índios e isso causava muitos problemas. Em 2003, a região foi fechada para atividades turísticas para impedir a degradação ambiental e a violação dos direitos dos Yanomami.
Depois que surgiu a normativa, os Yanomami passaram por um longo processo de discussão para avaliar se reabririam o espaço, que é considerado sagrado, para visitação.
Houve todo um processo em respeito à cosmologia Yanomami. Os pajés consultaram os espíritos que moram no Pico e foram discutidas repercussões internas em relação a questões como gênero, já que de acordo com as tradições, mulheres não podiam subir ao Pico da Neblina e havia a questão de permitir ou não a entrada de mulheres não indígenas, por exemplo. Foram sete anos de construção até a criação de um Plano de Visitação, em diálogo com diversas instituições.
Vale ressaltar que, de acordo com a Constituição brasileira, as terras indígenas são inalienáveis e indisponíveis. Então os índios podem contar com parceiros da iniciativa privada, mas não ceder a posse das suas terras.
Cabe às comunidades escolher com que parceiros externos vão fazer eventuais parcerias, mas tentamos incentivar que escolham empresas que se pautem pela sustentabilidade, comércio justo, Turismo de Base Comunitária etc.
Exemplos positivos de turismo indígena no Brasil
Comunidades indígenas que promovem turismo em seu território de forma sustentável e organizada
Andrea Rabinovici: Tive a oportunidade de participar de duas experiências que considero muito importantes: a iniciativa da Associação das Comunidades Indígenas e Ribeirinhas (ACIR), a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e o Instituto Socioambiental (ISA) junto com a Garupa e com apoio da Funai. O projeto se chama Serras Guerreiras de Tupuruquara.
Também participei brevemente do roteiro de turismo comunitário do Rio Negro (Tucorin) realizado pela ONG Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE). Ambos na região do Rio Negro na Amazônia e realizados de forma muito participativa e cuidadosa entre os parceiros.
Em São Paulo, ocorrem visitas bem interessantes às aldeias do extremo Sul do da capital, região de Parelheiros, nas aldeias Krukuto e Tenonde Porâ. Ali estive diversas vezes como professora, levando estudantes de graduação para conhecerem e trocarem experiências. A vivência ali é mais relacionada ao turismo pedagógico e étnico, e, nas demais, etnoturismo, ecoturismo e turismo cultural.
Juan Felipe Negret: A Tenonde Porâ tem um ótimo exemplo de Plano de Visitação bem organizado. Eles conseguiram montar, com a ajuda de parceiros, um site muito interessante.
Nele constam o Plano de Visitação e o Manual de Conduta, além de um cadastro de interessados em visitação onde é preciso informar nome, RG e CPF. Assim, eles podem ter controle das pessoas que estão entrando no território, e se houver algum problema é possível consultar esse banco de dados.
Nota da editora: Negret também mencionou o Plano de visitação Yaripo (Pico da Neblina), abordado acima. O material detalha os roteiros a serem realizados e inclui orientações aos visitantes que achei pertinente mencionar aqui, como por exemplo: respeitar os usos, costumes, crenças e tradições; seguir as instruções dos guias e carregadores durante a trilha, evitando riscos e acidentes; não percorrer trajetos diferentes daqueles pré-estabelecidos no roteiro de visitação; não remover qualquer material da terra indígena; trazer todo o lixo produzido durante a visita.
Efeitos da pandemia nas comunidades indígenas
Quais os impactos da pandemia de Covid-19 nos grupos indígenas que costumavam receber turistas?
Andrea Rabinovici: Pelas informações que tenho, operadoras e agências interromperam as atividades desde o início da pandemia, por questões de saúde com visitantes e comunidades. Com isso, as comunidades pararam de receber as visitas e os recursos provenientes da visitação e também da venda de artesanato que costuma acontecer junto com as visitas. Muitos comunitários já possuem auxílios federais para renda ou recorreram a eles quando possível e também estão vivendo com o que produzem de alimentos.
Sabemos que há problemas sérios com circulação dos próprios indígenas entre seus territórios e cidades próximas, com circulação e disseminação da Covid-19, além do contato com a vinda de garimpeiros, missionários e outros trazendo a doença e mais conflitos.
A taxa de mortalidade dos indígenas decorrente da Covid-19 é alta, tanto pela distância que eles têm de hospitais equipados para o seu adequado tratamento, por vezes pela recusa em se deslocarem para as cidades a fim de se tratar. A situação é gravíssima, extremamente triste e angustiante, com poucas alternativas para que possamos apoiar, o que me causa enorme angústia e sensação terrível de impotência.
Há inúmeros pedidos de socorro, tratamento, dinheiro e doações de alimentos e remédios para que não tenham que circular, aumentando sua exposição ao vírus. Por ser uma doença nova, as informações sobre sua existência e prevenção nem sempre chegam às aldeias e são bem compreendidas.
Ocorrem dificuldades de interpretação e compreensão sobre a doença e sua prevenção. Por isso, algumas instituições estão trabalhando para traduzir nos diversos idiomas e divulgar de forma acessível (via rádio e materiais diversos) as informações sobre o vírus.
Há uma questão muito delicada em andamento também, sobre os rituais de despedida dos que morrem de Covid-19. Por não poderem respeitar, por questões sanitárias, os rituais das comunidades, são causados inúmeros problemas e temores sobre o destino dos mortos, aumentando a tensão com a ida a hospitais já normalmente traumáticas, com dificuldades com idiomas e costumes diferentes.
Vários caciques, pajés, lideranças já faleceram com a Covid-19, em uma dor e impacto incalculáveis para todos as comunidades e para todos brasileiros e brasileiras que respeitam sua sociedade, nossa cultura e origem indígena.
Além de tudo isso, há a situação de total negligência e abandono por parte do governo federal para com os povos indígenas, incluindo a sua exclusão do plano de combate a Covid-19, que felizmente foi derrubada pelo Congresso e também pelo Supremo. A medida excluía a garantia de água potável e materiais de higiene, algo inacreditável e desumano.
Poucos se interessam pelos nossos indígenas e o turismo traz a oportunidade de contato, compreensão, empatia e encantamento por eles.
Juan Felipe Negret: A pandemia tem que ser tratada com a seriedade necessária. Do ponto de vista da Funai, temos tido uma postura extremamente cautelosa: não entra ninguém a não ser que seja por atividades essenciais. Temos todos os planos de visitação suspensos no momento.
Estamos começando um debate interno para pensar em como criar protocolos sanitários quando começarem a chegar as vacinas. Precisamos estudar melhor os dados, analisar como a pandemia está chegando em cada povo e cada região. É como se no Brasil tivéssemos várias pandemias dentro de uma só; o processo do Sudeste e Nordeste é muito diferente do que aconteceu na Amazônia, por exemplo.
A análise das várias curvas no Brasil deve gerar reflexões particularizadas. Estamos começando a acumular conhecimento para ir pensando sobre como poderemos retomar as atividades no futuro, com protocolos particularizados caso a caso, sempre fundamentados na ciência.
Jocilene Cruz: Nas comunidades próximas a Manaus que tinham como principal fonte de renda o turismo, o impacto da pandemia foi muito grande. Elas estão tendo que contar com os auxílios de instituições governamentais e não governamentais.
Já as comunidades que não tinham o turismo como sua centralidade, mas como uma atividade complementar, foram menos afetadas. O turismo não pode ser algo decisivo para obtenção de renda e acredito que muitas comunidades estão refletindo sobre isso.
Tem outras dúvidas sobre turismo indígena? Já tinha pensado sobre essas questões? Conta aí nos comentários!
As imagens que ilustram o post foram feitas por mim durante minha visita à comunidade de Nova Esperança, na Amazônia, em junho de 2019. Contei tudo sobre essa experiência neste post.
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2 Comentários
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Parabéns pelo seu trabalho, Luisa! Achei o texto muito bem construído e esclarecedor! Abraços
Que bom que você gostou, Carolina! Fico muito feliz :) Obrigada pelo feedback. Um abraço!