Sem casa desde 2014, a fotógrafa Patrícia Schussel fala sobre a vida nômade
Desde 2014, ela é contra essa história péssima de comprovantes de residência. Não tem endereço fixo, um travesseiro pra chamar de seu, um guarda-roupa cheio de looks pra escolher, um bar preferido aonde vai toda semana ou um salário certo pra receber no fim do mês. Sua “casa” se resume a um punhado de roupas num mochilão, e os pertences que não cabem nele estão guardados com amigos e familiares pelo Brasil.
Nascida em Curitiba e criada em Foz do Iguaçu, Patrícia Schussel se formou em design e trabalhou na área por alguns anos, mas sempre sentiu que não se encaixava num estilo de vida mais tradicional. Até que um período morando na Índia, a paixão pela fotografia e uma quedinha por desafios fizeram com que sua vida tomasse um rumo diferente.
Prestes a completar 32 anos, Patrícia aprendeu a viver com menos, a se conhecer muito mais e a rever paradigmas. Dessas lindezas que as viagens nos trazem quando a gente se entrega. Ela não sabe ao certo por quantos países já passou (“uns 40”, chuta), mas acumula uma quantidade muito maior de experiências daquelas que marcam a vida.
Se tornou conhecida no Instagram como PatchinPixels, e depois de esforços e períodos de incerteza conseguiu transformar a fotografia e as viagens, suas maiores paixões, em ganha-pão. Trocou uma vida que não a satisfazia por outra bem diferente. Com muitas dificuldades, também, mas muito mais realização.
Já faz alguns anos que a acompanho no Instagram e admiro a postura lúcida, honesta e espontânea que ela demonstra ter. Acredito que seu estilo de vida é pra poucos, mas que sua forma de enxergar o mundo pode ser inspiradora pra muitos. Por isso, fui atrás de entender melhor sua trajetória e contar aqui pra vocês.
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A frustração com a carreira de designer
“Fazer carreira” como designer nunca esteve nos planos de Patrícia, que costumava passar no máximo um ano e meio em uma empresa e logo ficava inquieta. Ela diz que na época colocava a culpa na empresa onde estava, mas com o tempo se deu conta de que o problema era outro:
“Agora que trabalho com o que eu realmente amo, percebo o quão frustrada eu era com a profissão. O que pesava mais pra mim era ficar presa no escritório, porque trabalhava com criação e acredito que pra criar preciso ficar livre. Também tem a questão dos valores das empresas. Eu implicava, por exemplo, com a quantidade de papel que usavam, ou por não separarem o lixo, e via que ninguém se importava. Acho que é uma contradição dessa profissão, porque ela podia ajudar nisso, mas é o contrário”.
A Índia como “divisora de águas”
Com vontade de passar um tempo num país que a fizesse sair da zona de conforto, Patrícia recorreu a um intercâmbio da Aiesec e conseguiu emprego como designer na Índia, onde morou por quase dois anos entre 2011 e 2012. O período, diz ela, foi um “divisor de águas” na sua vida.
Não apenas porque foi lá que começou a fotografar, mas também pelas transformações que a experiência desafiadora provocou na sua personalidade e no seu jeito de ver as coisas. Até então ela não viajava com frequência, apesar de ter passado alguns poucos meses na Nova Zelândia estudando inglês, e escolher como destino pra esse “intercâmbio” um país com uma cultura tão diferente fez a diferença.
“Escolhi a Índia porque estava buscando um choque cultural, mas cheguei a achar que não ia dar conta porque era muito fresca. Tinha medo de bicho, nojo das coisas, frescura com higiene… Mas quando decido fazer um negócio, vou até o fim. Conversei muito com várias pessoas que moraram no país, fui abrindo minha cabeça, me acostumando e esperando o pior. Por isso falo que quando as pessoas vêm pra Índia (onde estou agora) têm que vir com a expectativa lá embaixo, porque aí tudo vai ser muito construtivo, inclusive as experiências difíceis. Foi a melhor decisão da minha vida”, explica.
Ela foi pra lá trabalhar por um ano numa agência de design, mas acabou trocando de empresa e estendendo o visto. Baseada em Nova Delhi, viajava quase todo final de semana, já que apesar da logística complicada pra viagens o país é barato e tem muitos feriados. No final do período morando lá, ficou ainda alguns meses mochilando pelo Sudeste Asiático, foi até a China e depois voltou pra o Brasil.
Patrícia ressalta que o fato de ter morado na Índia lhe ajudou a quebrar muitos paradigmas: “Eu tinha um monte de frescurites, principalmente relacionadas a bichos e alimentação. Não comia nem a salsinha do macarrão, não provava nada novo. Hoje em dia é bem o oposto, é muito raro você me ver comendo algo que não seja saudável. Aqui me propus a provar tudo, quase nunca sabia o que estava comendo. E em relação a outras coisas também fui perdendo a frescura. No escritório às vezes passava barata no teclado enquanto eu tava trabalhando, por exemplo, então não tinha muito o que fazer. Além disso, cada vez mais vou gostando de lugares mais rústicos e experiências em contato com a natureza, e naturalmente vou me acostumando”.
A paixão pela fotografia
Estar em um país tão fotogênico e repleto de cenas interessantes fez crescer nela a paixão pela fotografia. “Tinha zero conhecimento técnico e só tinha uma câmera compacta. A Índia por si só é uma escola porque é tudo muito fotografável, muito incrível. Eu tinha várias amigas aqui que tinham câmeras profissionais, já tinham feito curso, e ficavam me pedindo dicas e elogiando minhas fotos. E aí fui acreditando mais em mim. É difícil esse processo de acreditar que você consegue fazer bem alguma coisa, porque a gente sempre tenta se diminuir”, observa.
Na época, ela criou uma página no Facebook junto com o amigo Brian Baldrati, autor do perfil do Instagram @isthisreal: “Ele não tinha ido pra Ásia ainda e me pedia muitas dicas, então fomos ficando amigos e começamos a página juntos. Comecei a divulgar sem intuito profissional, era meio que um refúgio. Eu gostava de escrever a história por trás das fotos, e assim foi fluindo. A página se chamava World Sweet Home e ainda existe, mas a gente não usa mais”.
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O pontapé para o nomadismo
A Índia foi a semente inicial pra grande mudança de rota que Patrícia viveu, mas a transição pra vida nômade ainda demorou um pouco: “Voltei pra o Brasil porque achei que era o momento de voltar mesmo, estava cansada da poluição e da bagunça de Delhi. Procurei uma cidade em que tivesse qualidade de vida, e Floripa veio na minha cabeça. Consegui emprego na Imaginarium, uma empresa que adorava e tinha sede lá, e fui achando que seria um sonho, mas foi um inferno. Acho que foi a fase mais difícil da minha vida. Acredito que as pessoas fazem tua experiência ser boa ou ruim, e a galera que trabalhava diretamente comigo era muito difícil de lidar. Mas sou muito grata pela experiência tão difícil que tive, porque foi o que me deu forças pra fazer algo diferente. Tive muita certeza do que não queria. Acho que o principal pra mudar algo é isso: ter força de vontade e consciência do que você não quer. O que você quer, você vai descobrindo. Eu só sabia que queria trabalhar com fotografia”.
Depois de um ano e meio, ela saiu de Florianópolis sem nenhum planejamento. Ser nômade nunca foi um objetivo, explica, e sim algo que foi acontecendo naturalmente. Nos primeiros meses depois de deixar o emprego, Patrícia foi fazer um curso de fotografia em São Paulo. Passou um tempo indo e vindo, entre Curitiba e Foz.
Quando viu, o tempo foi passando, as viagens se tornaram constantes e o nomadismo virou sua vida. “Depois de um tempo eu assumi isso, porque por enquanto simplesmente não tem sentindo eu parar em lugar nenhum”, diz.
Os workshops de fotografia
O processo, no entanto, não foi fácil. Ao se desvincular do seu último trabalho fixo, há quatro anos, sem planejamento, Patrícia conta que ficou numa grande crise financeira: “Eu não tinha dinheiro pra nada. Meus pais achavam um absurdo, não entendiam o que eu tava querendo fazer, porque têm uma mentalidade mais tradicional. Eu ainda não sabia bem como me sustentar, mas um dia me deu um clique. Estava falando pra um amigo que não tinha grana e disse ‘se eu ganhasse um Real por cada dica de fotografia que eu dou, meus problemas se resolveriam’. E ele respondeu: ‘ué, por que então não cobras por isso?’. E aí surgiu a ideia de dar workshops de foto, que eram itinerantes e ministrados junto o Brian. No começo foi difícil cobrar pelo meu trabalho, colocar preço, acho que muita gente da nossa geração tem esse problema. Também fazia muita permuta, conseguia o espaço trocando por divulgação, fazia permuta até da água pra os alunos tomarem… É o lance de aprender primeiro a gastar menos, pra depois aprender a lucrar. O início dos workshops foi outro divisor de águas na minha vida”.
Durante mais de dois anos, os workshops circularam por cidades como Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Foz do Iguaçu e Porto Alegre. Paralelamente, ela fez trabalhos pontuais como freelancer, facilitou algumas oficinas sobre viagens de baixo custo, criou o Instagram @PatchInPixels (a princípio sem objetivos profissionais) e se uniu à equipe do blog Mochilando (hoje Dicas de Viagem).
“O Mochilando estava procurando alguém que fotografasse bem e viajasse bastante. Foi muito importante pra mim no começo, porque aprendi muito e me deu força pra crescer no Instagram”, conta. Eventualmente, o bichinho da inquietação apareceu de novo, e ela sentiu vontade de se renovar. Além disso, passou a ser difícil conciliar agendas com Brian. Era hora de deixar os workshops pra trás.
Expedições: o Criativiagem
O próximo passo também surgiu naturalmente. Os alunos dos workshops perguntavam por que não levar as oficinas para outros lugares, misturando-as com viagens. Surgiu, então, a ideia de criar “expedições”: grupos de turismo que fogem ao convencional, com roteiros montados por ela em parceria com amigos. O projeto ganhou um nome, Criativiagem, e possibilitou que Patrícia tivesse enfim alguma segurança financeira e, pela primeira vez em anos, pudesse planejar seu futuro próximo.
“Eu vivia na luta pra me manter, e o Criativiagem meio que virou a chave. Minha vida ainda é muito louca, mas já sei mais ou menos o que vou fazer este ano e no ano que vem. Nas expedições eu posso sempre me renovar, então acho difícil me cansar, porque cada viagem é diferente”.
A primeira das expedições foi feita junto com dois amigos fotógrafos, percorrendo de kombi uma parte de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, com foco em fotografia. Em seguida, ela organizou quatro turmas no Atacama, destino que conhece bem. E mais recentemente, levou dois grupos de mulheres para a Índia.
“Cada expedição tem sua identidade. Na Índia foi só pra mulheres, no Atacama mais aventura. Além de fotografia, penso em trabalhar com alimentação saudável, road trips, vários assuntos que curto. Meu foco é muito mais trazer uma mudança de vida pra as pessoas que vão participar da expedição do que ter um negócio com isso. Acho que quando você faz as coisas com o coração, com um propósito maior, tudo flui e o financeiro é só um detalhe”.
Hoje ela se sustenta 100% com base nas expedições, além de eventualmente fazer publicações patrocinadas no Instagram, quando é procurada por uma marca em que acredita. E mudou seu modo de viajar, passando temporadas mais longas em cada destino: “Não gosto mais de ficar pulando de galho em galho sem conhecer profundamente o lugar. Viajar cansa muito, então tenho ficado uns 2 ou 3 meses em cada país”.
“Eu adoro perrengues”
Uma das coisas que mais me chamaram a atenção na conversa com Pati (toda vez que escrevo “Patrícia” acho estranho, hahah) foi quando perguntei sobre os “piores perrengues” que enfrentou viajando e ela disse que não teria como responder isso: “Eu adoro perrengues! Tem aqueles realmente ruins como estar doente ou sofrer um acidente e querer estar perto da família, mas felizmente nunca aconteceu nada grave comigo. Naqueles perrengues mais ‘de aventura’ eu muitas vezes me meto de propósito, porque sempre aprendo com eles. Acho que tudo agrega na vida”, opina.
Apesar de afirmar que toda viagem marca de alguma forma, ela elege como a experiência mais marcante até hoje sua ida com Brian desde Curitiba até Ushuaia, na Patagônia argentina – também conhecida como “fim do mundo”.
Claro que a Patagônia é deslumbrante, mas ela explica que o destino em si não foi a parte mais especial da viagem, e sim o percurso que fizeram até lá. É que eles partiram sem nenhum dinheiro, nem cartões para emergência (alguém aí lembrou da viagem de Aline Campbell por 3 meses pela Europa sem nenhuma grana?).
Durante 37 dias, eles pegaram 30 caronas e passaram muito frio e fome, tendo como “moeda” apenas fotos de autoria deles impressas no formato de cartão postal, que eram vendidas ou trocadas por comida ou o que precisassem.
No caminho, contaram com a ajuda de dezenas de pessoas generosas, que os ajudaram desde dando uma barraca novinha a oferecendo hospedagem ou café da manhã. “Aconteceu de dormirmos em banheiro de posto, entre muitas outras coisas, mas nos divertimos muito. Foi uma experiência incrível e me fez encarar as coisas de outra forma”.
Tudo tem seu lado ruim
Uma das coisas que curto no “discurso” de Pati no Instagram é que vez ou outra ela lembra os seguidores que essa vida de viagens não é, como pode parecer pra quem só vê pela telinha do celular, 100% alegria. Quis saber se ela não fica cansada de não ter casa; um espacinho com suas coisas, sua cara e a liberdade de fazer o que quiser, quando quiser. “Cansa muito”, ela respondeu. Ainda assim, considera um efeito colateral necessário pra manter o estilo de vida que lhe apaixona no momento.
“Por enquanto estou sempre na estrada, então não faz sentido eu comprar ou alugar um apartamento pra passar um mês por ano. Não é que eu ache legal não ter casa, mas hoje minha prioridade financeira não é investir num apartamento. Quando fizer sentido parar em alguma cidade, vai acontecer naturalmente. Mas faz falta, sim”, admite.
E lembra que até a rotina, que ultimamente tem sido pintada como uma grande vilã, tem seus pontos positivos: “Ela tem seu lado bom. Torna mais fácil ter um grupo de amigos, se alimentar melhor, fazer algum exercício. Não tem mais as piadas com os amigos, uma panela que você gosta de usar, seu chuveiro, seu travesseiro. Conheço muitos lugares e detalhes deles, mas não conheço profundamente mais nenhum. Até quando vou pra Foz não sei mais qual é o melhor bar pra ir, por exemplo. Hoje em dia não tem nenhuma cidade em que eu sei que ‘se for pra tal lugar, vou encontrar fulano e sicrano’. Essas coisas pequenas, que parecem bobas, fazem muita diferença. Mas é uma renúncia diante das escolhas que fiz”.
Amigos e família
Perguntei, também, sobre como os amigos de Foz do Iguaçu e a família reagem ao vê-la sempre pelo mundo. “Minhas melhores amigas de infância não vivem mais em Foz, e os que estão lá ainda eu amo muito, mas são pessoas com quem hoje em dia não tenho nada em comum. Eles fazem meio que piada do meu estilo de vida”.
E a família? Ela diz que a aceitação do seu estilo de vida não foi nada fácil, mas tem melhorado: “Foi muito difícil nos primeiros anos, muito mesmo. Minha família tentava dificultar bastante, porque ficava preocupada com meu futuro. Eles têm uma mentalidade extremamente tradicional no sentido de trabalhar, casar, ter filhos etc. Mas hoje em dia felizmente eles aceitam. Não têm o mesmo pensamento que eu, mas respeitam”.
Relacionamentos amorosos
Eu tou longe de achar que toda mulher tem que querer casar (ou muito menos ter filhos), mas também sei que é difícil estar sempre indo embora e deixando histórias “pela metade”. Manter um relacionamento amoroso sendo nômade é, de fato, apontado por ela como um desafio.
“Sou sempre a pessoa que tá indo embora. Nunca me aprofundo, digamos assim. Eu tenho um estilo de vida que não se encaixa pra praticamente ninguém. E por menos que um homem seja machista, ainda vejo que é uma barreira aceitar que é a mulher que vai estar indo embora sempre e tendo novas experiências. Mas eu fujo muito de relacionamentos também, acho que um pouco coma forma de me proteger, porque seria algo que poderia me fazer parar. Mas não sofro muito com isso, porque acho que quando tiver que acontecer, vai acontecer. Pode ser que eu queira parar, ou que a pessoa queira vir junto. Acho que tenho que acreditar muito que a pessoa é o amor da minha vida pra eu investir nisso, porque se não, priorizo minha liberdade. Deixo rolar, acreditando que no momento em que eu conhecer alguém que entender minha vida, tudo vai fluir”.
Fotografia na prática
Desde que comecei a seguir Pati no Insta, vi que ela vez ou outra faz umas pequenas “loucuras” por uma boa foto – como muito fotógrafos. Ela não conseguiu escolher a situação mais louca, mas lembrou de um dia em que a empolgação foi tão grande que não mediu esforços pelos cliques: “Já fiquei a noite inteira esperando um raio cair. Foi a primeira vez em que fiz longa exposição na vida, tinha uma tempestade bizarra rolando, eu tava sozinha em cima de uma pedra na praia e fiquei a noite inteira, até amanhecer, fotografando raios. Eu estava superempolgada e não queria sair dali”, conta.
E como fazer pra estar sempre em movimento e carregar pesados equipamentos fotográficos? “Geralmente levo só duas lentes mais versáteis, que não são as melhores em termos de qualidade em relação às lentes fixas, mas tenho que poder brincar mais em ambientes diferentes sem levar equipamento demais. Uma dia eu posso estar no Atacama, que só tem paisagens, e dali a um mês estar na África e precisar de muito zoom pra fotografar animais. E além da câmera DSLR e lentes tenho drone, GoPro. Falo que o mochilão com roupas é minha casa e a outra mochila é meu escritório, e geralmente o escritório pesa mais que a casa”.
Como economizar na estrada
Quem já fez mochilões longos sabe bem: não dá pra lidar com dinheiro como você talvez faça nas férias, fazendo extravagâncias pra pagar depois em 10 prestações. Pra alguém que viaja permanentemente, então, o negócio é ainda mais sério. Por mais que não existam gastos fixos como aluguel de apartamento, conta de água e luz, prestação do carro e gasolina, o orçamento tem que ser bem pensado.
“Viajar é minha vida, então tive que aprender a priorizar. Nos primeiros anos nômade eu não bebia praticamente nada de álcool, por exemplo, porque é uma das coisas com que você mais gasta, por mais que beba pouco. Se você curte muito sair à noite isso é uma prioridade pra você, mas não era pra mim. Também evito ir a lugares onde é preciso pagar pra entrar, até porque gosto de lugares menos turísticos, que normalmente são mais baratos. E sempre fico hospedada na casa de amigos e pessoas que vou conhecendo, ou pelo Couchsurfing. Nos últimos anos tem sido muito raro eu pagar alguma hospedagem. Economizo em tudo que puder, e às vezes minha vida social ‘sofre’ com isso, mas minha prioridade é continuar viajando”.
Sobre manter o deslumbramento
Perguntei, também, como ela faz pra manter o deslumbramento depois de ter conhecido tantos lugares. Afinal, aquele encantamento das primeiras vezes em que viajamos sós ou saímos do país dificilmente se repete da mesma forma depois que nos acostumamos com o diferente.
“Muda muito mesmo. Depois de um tempo você começa a achar os lugares mais normais. Mas pra mim o que nunca mudou e espero que continue assim é que sou apaixonada por coisas simples, como tomar uma água de coco na praia, ver o pôr do sol todo dia, sentir o cheiro da chuva, sensações simples. Independente do lugar onde você tá, cada detalhe desses é diferente. Quando você tá numa cidade pela primeira vez, fica vendo o lugar em si, monumentos. Depois de um tempo, começo a apreciar mais sentar num café, ver como as pessoas compram o pão, qual é o sotaque. São prazeres diferentes. Cada vez mais, vou odiando lugares turísticos. Tem vezes em que vou pra alguma cidade e não vou no principal lugar que tem pra visitar porque eu não gosto”, explica.
E o futuro?
Como alguém que tem construído seu caminho pouco a pouco, de acordo com as surpresas que a vida traz, imaginei que Patrícia diria que não pensa muito no futuro.
E acertei: “Do mesmo jeito em que virei nômade sem planejamento e tudo fluiu, acho que vai continuar fluindo. Tudo na minha vida é de acordo com meu instinto, então se eu sentir num momento que tá na hora de parar ou tiver um motivo de força maior, como problemas de saúde ou alguma questão na família, acho que vai acontecer naturalmente. Tomara que não seja por nenhum problema, claro! E com certeza não vou ser nômade pra sempre, não acho que seja possível, mas acredito que o dia de me fixar em algum lugar está longe”, diz.
O importante é que no presente ela está bem certa de estar vivendo a vida que quer levar: “Estou sempre me questionando e acho que isso é eterno, colocar sempre na balança e ver o que pesa mais. Mas tenho plena segurança sobre as minhas escolhas. É muito diferente de quando trabalhava em empresas, quando todos os dias me questionava. Sei que no dia em que as dificuldades pesarem mais eu vou parar, mas por enquanto tenho muita certeza do que estou fazendo”.
Todas as fotos que ilustram o post são de autoria de Patrícia Schussel, foram cedidas para publicação no blog e não podem ser usadas por terceiros sem autorização.
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2 Comentários
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A sua história é muito inspiradora. Eu queria ter a metade da coragem que você tem para me aventurar assim.
Nosssssa, história senssacional e inspiradora! E que coragem!