Pernambucana viaja pelo mundo sem pagar por hospedagem
Enquanto eu acompanhava as viagens de Luna pelo Instagram, sentia uma grande inveja: o fato de ela conseguir ler em ônibus numa boa, o que é impensável pra mim, que enjoo com qualquer mísero sinal de balanço. E sentia também, é claro, identificação e admiração. Assim como eu, Luna Markman, 30 anos, é jornalista e pernambucana. E assim como cada vez mais gente hoje em dia, achou que precisava de mais do que os 30 dias de férias pra mergulhar em experiências diferentes e conhecer outras culturas.
Depois de seis anos de trabalho num grande veículo de comunicação, resolveu pedir demissão e se jogar pelo mundo. O empurrãozinho foi ter sido selecionada pra um programa de trabalho na Disney: “isso foi fundamental, porque me deu uma desculpa pra sair do emprego e uma data limite pra tomar a decisão”, explica.
Luna partiu em maio de 2015, e depois de três meses na Disney foi pulando de cidade em cidade, viajando de ônibus. Ao encontrar uma passagem barata pra o México, resolveu ir descendo pela América Latina; só foi parar no Uruguai, já em janeiro de 2016.
Foi sozinha em parte do percurso, e noutra parte teve a companhia da irmã. Em oito meses de viagem, só viajou de avião duas vezes, por preferir a flexibilidade que os ônibus oferecem: dava pra decidir o próximo destino de uma hora pra outra, de acordo com as surpresas do caminho.
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De volta ao Brasil pra o Carnaval de 2016 (como boa olindense), a jornalista percebeu que – pasmem – ainda tinha dinheiro guardado. Ela não fala em números, mas garante que as economias não eram tão gordas assim. A principal explicação pra os gastos moderados foi o modo de hospedagem escolhido: através do Couchsurfing, ela ficava nas casas de moradores sem pagar nada.
Com a grana que sobrou, Luna partiu sozinha novamente: em maio de 2016, foi pra França, onde trabalhou por um mês num camping e por mais um mês numa fazenda de olivas, ambos em troca de hospedagem e alimentação. De lá, saiu explorando outros países europeus e ainda deu um bom rolê pelo Sudeste Asiático antes de voltar pra casa – a tempo, é claro, do Carnaval desse ano.
Dois fatores me chamaram a atenção nas aventuras dela: o primeiro foi a economia, explicada em grande parte pela questão das hospedagens, já que ela só gastou com hostels em 5 dos 17 meses de viagem. E outro, como comentei nesse post, foi a espontaneidade: Luna gosta de “ir com o fluxo” e foi planejando seu percurso sem muita antecedência.
A fazenda de olivas, por exemplo, foi dica de um viajante que conheceu no acampamento francês: “Ia ficar dois meses no camping, mas me aconselharam a ir pra o sul aproveitar o verão e conhecer as praias, o que foi incrível. Por isso que é legal não deixar tudo amarrado: pra deixar espaço pra essas surpresas”, recomenda.
Nos encontramos num café do Recife Antigo pra trocar uma ideia sobre assuntos que a gente adora. Eu queria saber mais sobre as experiências dela, especialmente agora que tou me preparando pra passar um tempo por aí afora num esquema diferente do que tou acostumada (sem um objetivo tão específico como estudar idiomas, intercâmbio acadêmico, mestrado ou trabalhar). E queria, é claro, trazer pra vocês algumas dicas que Luna aprendeu depois de 17 meses de estrada, período que resultou numa bagagem de 28 países e muitas histórias pra contar. Foi tanta conversa que o post ficou longo, mas garanto que vale a pena ir até o final. ;)
Planejamento
“Os viajantes são melhores do que qualquer agência: sempre tem gente chegando e gente indo, então é só estar aberto pra escutar as dicas”, defende Luna, ao explicar que nas suas viagens tudo foi acontecendo de forma muito natural. Mas, apesar de ter uma personalidade mais relax, ela diz que na hora de conhecer um lugar novo nem sempre foi assim: “Eu sempre fui de viajar com um roteiro bem amarrado, acordando cedo pra cumprir agenda.
Hoje, eu penso ‘que chata eu era’, porque obrigava todo mundo a seguir o roteiro que eu tinha planejado, e se algo não saísse conforme o script eu ficava chateada. Agora faço o inverso: chego numa cidade sem pesquisar muito e lá pergunto o que tem pra fazer, então tudo que vier é lucro.
Em Koh Lanta (na Tailândia), por exemplo, tem vários lugares pra ir ao redor, mas passei nove dias na rua do meu hostel, indo sempre no mesmo restaurante e na mesma balada e indo pra praia tomar sol, jogar vôlei e ver o pôr do sol. Antes seria inimaginável eu fazer isso, sentiria que tava desperdiçando tempo. Hoje, vejo que o ideal é estar feliz e aproveitando aquela situação com aquelas pessoas”, conta, lembrando uma máxima que já foi repetida aqui: quando você viaja sozinhx, só fica sozinhx se quiser.
Couchsurfing
O Couchsurfing, site que permite oferecer e buscar acomodação grátis na casa de moradores, foi um grande aliado de Luna na primeira parte da viagem. Já falei aqui no blog sobre esse tipo de hospedagem, que pode transformar totalmente a forma em que você vive uma cidade.
As primeiras experiências de Luna com esse esquema foram nos EUA: “Eu tinha reservado todos os hostels, aí fui fazer CS pensando que se não gostasse, qualquer coisa eu ‘fugia’. Mas deu tudo certo e fui pegando confiança, aprendendo a me comportar. Cada cultura é um jeito diferente, tem gente que abraça, beija, só aperta a mão”, explica. Ficar na casa de moradores também foi de grande ajuda pra que ela pudesse aprender espanhol, durante sua viagem pela América Latina.
Ao todo, foram cerca de 50 anfitriões: duas mulheres e 48 homens. E mesmo viajando sozinha na maior parte do tempo, ela diz que não teve problemas: “Eu sempre olhava bem os perfis pra ver se tinham referências boas, recentes e de mulheres. No começo eu pensava ‘será que os caras vão dar em cima de mim?’, e realmente davam, assim como em qualquer lugar, mas é só você estabelecer um limite. Eu acho que eles respeitam até mais, porque têm medo de uma referência ruim no site. Algumas vezes o interesse foi recíproco, mas quando não era, todos me disseram pra ficar e me trataram superbem. Já escutei a história de uma amiga na Colômbia que ficou trancada dentro do quarto enquanto o cara batia na porta, esperando ele dormir pra sair fugida. Mas tem gente doida em todo lugar, às vezes é sorte”, opina.
Perguntei se ela não tinha achado cansativo passar meses sem um lar pra chamar de seu, tendo que se adaptar às rotinas alheias, por mais enriquecedora que seja a experiência: “Cansa estar pulando de galho em galho, não desempacotar a mochila, não poder andar de calcinha pela casa. A maioria te dá chave, mas às vezes você tem que se adequar ao horário do anfitrião. É demandante, é preciso prestar atenção na pessoa, mas como era tudo muito novo pra mim no primeiro mochilão, eu não liguei mesmo. Depois que minha irmã passou a me acompanhar a gente ficou alternando entre CS e hostels pra ter um tempo só pra nós. E com o tempo eu fui sentindo falta, ficava pensando: ‘se eu estivesse com um host do CS com certeza saberia um lugar legal pra tomar uma cerveja’. No Sudeste Asiático quase não tem Couchsurfing, então fiquei em hostels, que são superbaratos. Mas então minha experiência foi diferente: me perguntaram, por exemplo, qual é o tipo de música de lá, mas eu não sei direito, porque só convivi mesmo com turistas”.
Work exchange
No segundo mochilão, a vontade de ter uma rotina começou a pesar e Luna buscou outra forma de hospedagem que também já virou post aqui no blog: os “work exchanges”, em que você troca algumas horas de trabalho por dia (geralmente em torno de 5) por hospedagem, alimentação e algumas outras vantagens. Tenho duas viagens assim programadas pra os próximos meses e ouvir as histórias dela me deixou ainda mais ansiosa. ;)
Ela escolheu esse tipo de viagem em primeiro lugar pra economizar dinheiro num país caro: a forma mais barata que encontrou de aprender um pouco de francês na França foi ser voluntária no camping e na fazenda de olivas que mencionei lá em cima.
Outra experiência foi trabalhando num hostel em Moscou, com o objetivo de conhecer um pouco melhor a história da Rússia: “Sempre tive curiosidade sobre o assunto, então passei cinco semanas trabalhando e indo em todos os museus, vendo documentários etc.”, conta.
No Vietnã ela deu aulas de inglês e acabou se apaixonando pelo país: “Eu achava que ia encontrar um país arrasado pela guerra, rancoroso com os EUA e muito pobre, mas é um povo que tá batalhando, se recuperando, os meninos querendo aprender inglês pra viajar. Eu me senti útil lá, por poder passar pra eles o pouco que sei de inglês”.
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Dinheiro
Ok, mas mesmo economizando com hospedagem existiam gastos, né? Passagens, lanches, bebidas e passeios custam dinheiro (infelizmente :P). Luna explica que conseguiu juntar uma quantia razoável porque durante seus seis anos de trabalho como jornalista tinha poucas despesas: “Sei que fui privilegiada porque não tinha dívida nenhuma; até minha conta de celular era paga pela empresa. Continuei morando com minha mãe e sempre fui bem focada, evitando gastos supérfluos e juntando dinheiro sem saber pra quê. Caixão não tem gaveta, então quis investir em experiências”, relata.
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Você consegue viajar sem comprar?
Pra mostrar como viajar pode sair mais em conta do que muita gente pensa, a jornalista revelou alguns dos seus orçamentos: em cinco semanas em Moscou gastou 200 euros, pagando entradas pra museus, baladas e uma viagem a São Petesburgo.
No primeiro mês de viagem, no camping na França, gastou 150 euros, indo a Paris nas folgas. Quando trabalhava na fazenda de oliva no Sul da França, ia a praias em todos os finais de semana (Saint Tropez, Marseille, Nice…) e gastou 300 euros.
Em um mês no Vietnã, o total foi 120 dólares: “fiz dois voluntariados em troca de hospedagem e alimentação, e o país é superbarato”. O Laos foi outro país onde encontrou preços baixíssimos: hospedagem em dormitório com piscina por 4 dólares, cervejas por 25 centavos. “Às vezes é até melhor pagar uma passagem mais cara, mas ir pra um destino barato, porque você aproveita muito mais”, conclui.
Carreira
Mesmo com dinheiro suficiente, muita gente deixa de realizar sonhos como o de Luna por medo de se afastar do mercado de trabalho. Ela, que tá há dois anos fora da área de atuação, diz que não encara isso como problema: “Quando pedi demissão, até meus colegas me diziam: ‘hoje você está aqui e amanhã pode não estar, afinal, essa é uma empresa privada’. E nas duas vezes em que voltei, apareceram propostas. Sei que se não for no jornalismo, vou conseguir emprego em outra coisa, porque não tenho problema em encarar nenhum tipo de trabalho”, garante.
E a viagem ajudou: depois de plantar olivas, pintar paredes e dar aulas de inglês, ela se viu descobrindo ou desenvolvendo outros talentos: “Se você está aberta pra aprender e não tem vergonha de bater em várias portas e assumir qualquer tipo de função, pode ficar tranquila que não vai faltar trabalho”.
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Relacionamentos
Outro tópico que surge com frequência (oi, pressões sociais!) é a questão dos relacionamentos. Afinal, com essa vida na estrada é difícil manter um romance mais estável. Mas Luna diz que colocou na cabeça que era melhor se arrepender do que fez do que daquilo que não fez, e não deixou passar nenhuma oportunidade de ser feliz e aproveitar por medo de se magoar depois.
Mas admite: não é fácil. “Numa viagem assim você cria uma rotina no lugar, conhece algumas pessoas, e mudar completamente a rotina depois de alguns dias é arrasador. Com os relacionamentos é tudo muito intenso, você dorme, come, planeja tudo junto, aquela pessoa cuida de você e vice-versa. Conheço casais que sobreviveram à viagem. No meu caso nenhuma história foi forte o suficiente pra desviar meus planos, mas foram ótimas experiências. É muito bom porque tá todo mundo na mesma vibe, se entregando e se permitindo”. O que muitas vezes não acontece nas nossas “vidas normais”, com essa paranoia do desapego que tem ficado cada vez mais na moda…
Check-list
Quando perguntada se faria algo diferente, Luna disse que só se arrepende de uma coisa: não ter feito um check-list mais detalhado antes de sair de casa. Ela esqueceu a carteira internacional de motorista, que foi importante no Sudeste Asiático: “tem muito policial corrupto que vai pedir esse documento e tirar dinheiro de você se não tiver”.
Outro esquecimento foi a carteira internacional de vacinação contra febre amarela, pedida em vários países asiáticos. Deu pra resolver, mas teria sido melhor evitar a dor de cabeça: “Tudo isso tive que pedir pra minha mãe mandar por correio e ficar esperando chegar, tive que ir em consulado etc”.
Bagagem
Também aproveitei pra pedir dicas em relação à bagagem: Luna passou os longos meses de viagem com uma mochila compacta, de 55 cm por 20 cm, que cabe como bagagem de mão nos voos low cost da Europa. “Me planejei pra levar só o que cabe ali, porque quando você vai pagar 10 euros num voo e tem que pagar mais 30 pra despachar, você pensa duas vezes na quantidade de coisas que vai levar”, explica.
Pra manter a bagagem compacta, ela adota técnicas comuns entre viajantes econômicos. A primeira é viajar no verão, o que reduz suas roupas de frio ao mínimo: um casaco de chuva, um moletom e uma bota de trilha. Outra estratégia é ir mudando o “guarda-roupa” ao longo da viagem, indo a lojas de caridade pra doar as roupas que já não usa e comprar outras.
“Quando você tá mudando muito de lugar, tá sempre vestindo aquela roupa pela primeira vez, porque ninguém nunca te viu”, observa. Assim, um short jeans, uma calça jeans, uma legging, dois vestidos e algumas blusas são suficientes, com uma observação importante: as peças preferidas ficam em casa, porque no caminho existe grandes chances de se estragarem.
E o que não pode faltar na mala? Um item multiuso é a canga, que serve pra cobrir no frio, fazer sombra no calor, forrar um sofá ou cama em condições questionáveis, cobrir os ombros pra entrar num templo, colocar no chão de m parque ou praia…
Ela também menciona havaianas, que usa sempre e são caras lá fora, e um sapato de trilha, bom pra caminhadas e pro frio. “Saquinhos tipo Ziploc também são muito massa pra colocar coisas de higiene ou guardar uma comida que sobrou. Lencinhos umedecidos podem ajudar bastante, caso você vá fazer uma viagem em que não tenha onde tomar banho por um ou dois dias. E sempre levo vários biquínis brasileiros, porque os de outros países não têm a menor graça”, finaliza. ;)
Viajar sozinha
No momento, Luna continua fazendo planos pra cair na estrada – sozinha, mais uma vez. Ela acredita que nas viagens solo consegue se conhecer melhor e se tornar uma versão melhor de si mesma: “Você decide se quer dormir no beliche de cima ou de baixo, ir pra o campo ou pra praia, e acaba descobrindo do que realmente gosta. Se uma pessoa tá com um papo chato, você não precisa ficar com ela porque é seu amigo do trabalho ou porque vai precisar dela depois, por exemplo. Assim, só fica junto de pessoas que realmente lhe fazem bem”, argumenta.
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E o fato de ser mulher? Ela diz que nunca parou pra pensar “vou viajar sozinha, pra que lugares eu não posso ir?”. “Se tivesse parado pra pensar, talvez tivesse ficado com medo, mas simplesmente fui”, explica.
Passou, sim, por situações de assédio ou desconforto, e ressalta que não foram só em países como a Índia, onde os olhares incomodaram bastante: “em Bristol, na Inglaterra, ao andar na rua às 17h um cara passou e pegou no meu peito, por exemplo. Mas vivi poucas situações desse tipo, então continuo viajando. E não pretendo parar. No momento, é isso que me faz feliz”.
E tu aí: tás esperando o quê pra realizar teus sonhos?
Todas as fotos que ilustram o post pertencem à entrevistada, Luna Markman, e foram cedidas por ela para publicação no blog.
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