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Turismo criativo: viagens com foco em experiências

Dicas Práticas | 25/12/18 | Atualizado em 30/07/24 | 13 comentários

Museus, monumentos, restaurantes famosos, belas vistas. Boa parte dos roteiros turísticos mundo afora se concentra em itens como esses. E, depois de cumprir essa “check-list”, supostamente podemos dizer que conhecemos aquela cidade. Mas será mesmo?

Cada vez mais turistas se questionam sobre o valor de viajar com o objetivo de conhecer atrações turísticas tradicionais. O modelo de turismo de massa consolidado não dá conta de tudo que os lugares e seus moradores têm a oferecer, nem de tudo que os visitantes mais exigentes querem absorver. Além disso, muitas vezes traz mais prejuízos que benefícios pra os destinos.

Felizmente, existem muitas formas de viajar que tentam ir na contramão desses problemas. Como, por exemplo, o chamado Turismo Criativo.

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Turismo sustentável: como ser um viajante mais consciente

O que é Turismo Criativo?

O conceito de Turismo Criativo foi definido em 2000 por Crispin Raymond e Greg Richards como “um tipo de turismo que oferece aos visitantes a oportunidade de desenvolver seu potencial criativo através da participação ativa em cursos e experiências de aprendizado características do destino” (tradução livre).

Na real, isso não é nada novo: já faz muito tempo que viajantes se envolvem em experiências de aprendizado durante as férias. Mas o que os pesquisadores defendem é que esse tipo de turismo se tornou tão comum que representa uma forte tendência da indústria turística.

Segundo Richards, houve uma transição entre a predominância da “alta cultura”, expressa em lugares como museus, galerias de arte e monumentos, pra uma valorização da cultura do dia a dia, considerada mais “autêntica”.

turistas visitando museu em nova york

Por muito tempo, os responsáveis pela promoção dos destinos achavam que uma forma garantida de atrair turistas era construir museus e promover grandes eventos. Mas nem sempre isso tem os resultados desejados, além de sair caro.

Ao mesmo tempo, o número de viajantes frequentes aumentou. E é cada vez mais comum que as pessoas, especialmente as que já turistaram bastante, busquem experiências mais ativas e imersivas, em que não se sintam meras espectadoras.

Nesse sentido, a proposta de quem defende o Turismo Criativo é pensar um turismo que não se limita a recursos tangíveis, como museus, belezas naturais e monumentos, valorizando coisas intangíveis, como estilo de vida, identidade, narrativas, atmosfera e a conexão entre pessoas.

Fazer massas artesanais na Itália, experimentar ser DJ em Ibiza, aprender sobre cervejas artesanais degustando rótulos locais em São Francisco, tocar alfaia junto com um grupo de maracatu no Recife e pisar uvas em vinícolas argentinas são só alguns exemplos de possíveis roteiros de Turismo Criativo.

A ideia é que em vez de simplesmente ver um show de tango daqueles bem cinematográficos, você tenha aulas e vá dançar numa milonga frequentada por porteños, por exemplo.

tour por cervejarias em são francisco

Vantagens do Turismo Criativo

Há quem considere, no entanto, que esse não é só um “tipo” diferente de roteiro, mas sim uma nova forma de fazer turismo, envolvendo tanto os próprios viajantes quanto os moradores na criação dos produtos turísticos.

Afinal, acho que qualquer um concorda que esse tipo de experiência é superenriquecedora pra os turistas, né? Mas o que acho mais massa é o “outro lado” da história.

Ao menos em teoria, a ideia é que os produtos desse turismo sejam construídos “de baixo pra cima”, partindo das potencialidades dos territórios e das pessoas que vivem neles. E aí, não faltam vantagens pra comunidade local.

Pra começar, esse tipo de estratégia gera uma diversificação da oferta turística sem que sejam necessários grandes investimentos além da criatividade e dos recursos humanos. E isso permite a participação de muito mais pessoas, já que procurar formas criativas de promover a cultura local é mais acessível pra pequenos empreendedores do que criar grandes infraestruturas.

Outra vantagem é o fortalecimento da autoestima da população, valorizando e ajudando a preservar tradições culturais. Sem falar no estímulo à economia local, o que é importantíssimo em tempos de domínio de multinacionais e pode ajudar a distribuir renda e combater a pobreza.

Esse fator se aplica especialmente aos projetos de turismo de base comunitária. Esse termo é usado pra descrever iniciativas e atividades protagonizadas por comunidades locais, que geram emprego e renda pra região.

turismo criativo na bomba do hemetério, no recife

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Outro ponto importante é a melhor distribuição do fluxo de visitantes durante o ano em lugares onde os turistas se concentram em determinada época. O investimento em atrações intangíveis ajuda a evitar a sazonalidade, que é um problema em muitos destinos.

Essas experiências podem, ainda, promover a distribuição geográfica, com a inclusão de áreas diferentes das convencionais nos roteiros turísticos. Isso ajuda a diminuir o desgaste dos lugares mais visitados, tanto em termos patrimoniais quanto ambientais, e a distribuir os recursos financeiros pelo território.

Ou seja: além divertido, o Turismo Criativo tem uma proposta que tende a ser mais socialmente igualitária e ambientalmente amigável que os passeios tradicionais.

Vale ressaltar, no entanto, que nem tudo é sempre tão bonitinho. Como quase tudo no capitalismo, esse tipo de iniciativa também pode ser usado de forma negativa. É o caso das atrações em que comunidades locais, especialmente as de baixa renda, são exploradas por atores externos, em processos travestidos de inclusão.

Isso acontece, por exemplo, quando povos tradicionais ou favelas são transformados em atração turística por iniciativas que não são capitaneadas pelas próprias populações.

Frequentemente, nesses casos, a maior parte do lucro não vai pra essas pessoas e não são elas que decidem como a atração será abordada. E isso pode até gerar o desenvolvimento de uma indústria que mantém as comunidades em condições precárias pra não “descaracterizar a atração turística”.

Redes de Turismo Criativo

Se você quiser saber mais sobre o assunto, vale conferir o site da Creative Tourism Network, organização internacional que conecta várias iniciativas de Turismo Criativo mundo afora.

Em âmbito brasileiro, existe a Recria (Rede Nacional de Turismo Criativo). Criada no Recife, essa organização ainda tá no início e atualmente só inclui iniciativas na própria capital pernambucana, mas pretende alcançar âmbito nacional.

muro grafitado em berlim

Você já tinha ouvido falar em “turismo criativo”? Conhece iniciativas que têm a ver com o conceito? Me conta!

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13 Comentários

  1. Rogério de Assis Brasil

    Olá Luisa, prazer em falarmos. Muitoooooo interessante sua escrita. Sou turismólogo, no Rio Grande do Sul e, estou modelando ações no Turismo Criativo, onde já fazia algumas interações, porém agora vou inserir forte,ente a gastronomia na caminhada. Obrigado por falarão no Turismo. Estamos te seguindo a partir de hj.

    • Oi, Rogério! Que bom que o artigo foi útil! Muito obrigada pelo comentário e boa sorte nas suas iniciativas por aí! :) Espero que o turismo logo se recupere pós pandemia e que possamos viajar de forma cada vez mais consciente. Um abraço!

  2. André Farias

    Muito bom o artigo! Vale um olhar inovador!
    Meu primeiro questionamento seria de achar a maneira de identificar este “novo Turista”, que “que já turistaram bastante, busquem experiências mais ativas e imersivas, em que não se sintam meras espectadoras”.
    A participação REAL do turista, imerso em atividade, rito, tradição…locais, já tem algumas iniciativas por aí. Vale muito, mesmo, o SUPER cuidado, citado no texto, mas também poder-se-ia sistematizar o que se tem de informação, para pensar no processo de busca/atração deste Turista.

  3. WALLACE DOS SANTOS

    Olá Luisa, matéria excelente! Você consegue enxergar o turismo de uma forma diferente das tradicionais abordadas pela grande maior do blog. Inclusive no meu TCC estou buscando delimitar o tema, e apareceu através do seu blog, esse conceito de Turismo Criativo, que ainda não sei diferenciar do Turismo de Experiência, você sabe? Parabéns, realmente pelo blog, é muito bom!

    • Oi, Wallace! Que bom que o texto foi útil e te ajudou nessa ampliação dos olhares sobre o turismo! :) O turismo criativo tem como premissa a co-criação, ou seja, além de participar de uma experiência, a ideia é que o turista construa algo junto com os locais. Por exemplo, fazer adereços e brincar carnaval com eles, sabe? Mas recomendo procurar os textos de Greg Richards, criador do conceito, pra mais detalhes :) Um abraço!

  4. Tatiana

    Olá.
    Sou Cabo-verdiana e guia de turismo no meu país.
    Estou a fazer um mestrado em Direção e Consultoria turística, estou nesse a tentar criar a minha propria agencia, direcionada mais para o túrismo solidario/criativo.
    Gostei muito do bog.
    Adoraria muito me inteira mas do assunto fiquei com uma dúvida, porque quando se fala em turismo solidário, impressão que eu tenho é que o túrismo criativo e solidário tem o mesmo conceito.
    Pode me explicar a diferença?

    • Oi, Tatiana! Não sou especialista, mas até onde entendo, os conceitos se conectam em alguns pontos (assim como o Turismo de Base Comunitária, em muitos casos), mas o Turismo Criativo teria como especificidade a co-criação, ou “participação ativa em experiências de aprendizado” no destino :)

  5. Naike Charlo Henriques MANUEL MANUEL

    Gostei

  6. Duda Carvalho

    Que texto maravilhoso, Luísa! Muito obrigada por todas as referências :)

  7. Anya Ribeiro

    Oi Luiza, gostei muito do seu comentário e dicas;sou arquiteta ,especialista em Turismo e coordeno uma Camara de Turismo e Eventos no Ceara!gostaria de entrar em contato com você, se possível com brevidade

  8. Oi Luiza, boa noite! Retornei só para dizer que o TCC foi um sucesso! Obrigado por compartilhar. Sigo de olho aqui!

    • Ah, que massa, Wallace! Fico muito feliz, parabéns! \o/ Obrigada por vir contar ;)

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