Por que você não precisa viajar para “se encontrar”
“Ele largou tudo, vendeu a empresa e o apartamento e foi viajar pra se encontrar”. “Ela tá fazendo trabalho voluntário na Malásia. Tava meio perdida e foi tentar se encontrar, sabe”. “Sou doida pra fazer uma viagem assim, acho que preciso me encontrar”.
Por mais que ainda seja um privilégio, usar viagens como forma de autodescoberta é uma tendência cada vez mais comum, mais fácil e mais socialmente aceita. Mas não consigo deixar de pensar: quanto peso estamos dando às viagens e seu papel transformador?
Pra começar, essa história de “se encontrar” nunca colou muito comigo. Ao menos no sentido de pensar que nosso “eu” tá perdido por aí, esperando ser revelado pra tudo fazer sentido. Acredito que esse encontro com nós mesmos vai acontecendo permanentemente e tem muito mais a ver com se entender e se inventar do que procurar por respostas definitivas. E nesse caminho, é até meio óbvio: a viagem que mais importa (e com certeza a mais difícil de todas) é aquela pra dentro.
Já falei aqui que viajar mudou minha vida e sei que mudou a de muita gente também, de diversas formas. Mas apesar de ser uma forma poderosa de romper com a rotina e mudar perspectivas, se deslocar fisicamente tá bem longe de ser a única ou melhor maneira de conseguir a mudança que você busca na vida.
É claro que pode ajudar, e muito. Afinal, nos nossos círculos profissionais, de amizades e familiares, tende a ser mais difícil explorar nossa identidade mais profundamente. Sabe a tal da zona de conforto? Dentro dela, acredito, costuma ser mais complicado ir além dos padrões que acreditamos que nos definem, como os papéis que desempenhamos na maior parte da vida e a visão que os outros têm de nós.
Viajar, especialmente sem companhia, nos liberta da sensação de precisar seguir os mesmos papéis de sempre. Nos recorda que o mundo é gigante demais e coloca nossos problemas em perspectiva. Mostra que existem infinitas formas de viver, amar, trabalhar e de realizar as mais insignificantes ações do dia a dia – e que nenhuma delas é a suprema verdade do universo.
Mas se você tá super perdido e acha que uma grande viagem vai ser a solução pra todos os seus problemas, tenho duas notícias: uma ruim e outra boa. A ruim é que se você não estiver preparado pra realmente organizar as coisas aí dentro, vai ser infeliz do mesmo jeito, seja no Brasil ou nas Maldivas. E a boa é que é possível (ainda que não seja fácil) romper com a rotina e o estilo de vida que você leva, entrar em contato com novas ideias e achar novos sentidos pra vida sem sair de onde você está.
Sempre falo que começar a viajar sozinha foi uma saída relativamente fácil (e divertida) que encontrei pra lidar com problemas que limitavam minha vida, como a ansiedade e o medo do desconhecido. Mas eu podia ter feito isso de outras formas, se não tivesse a oportunidade ou vontade de sair pelo mundo. E um dos objetivos desse post é lembrar que você também.
Se você não tiver, agora, o tempo ou o dinheiro que julga necessários pra procurar um “sentido” indo conviver com monges no Tibete ou cuidar de animais doentes na África do Sul, isso não significa que você tem que se conformar com a vida que leva. E se estiver em busca de uma solução fácil, de nada adianta gastar milhares de reais numa volta ao mundo: os problemas vão viajar junto com você, ou no mínimo estarão lhe esperando quando voltar.
Tá querendo encontrar um propósito na vida, entender melhor suas motivações, fazer uma mudança radical? Vá viver, experimentar e tentar se conhecer. Fazer terapia, frequentar outros lugares e círculos sociais, aprender coisas novas, consumir fontes de informação diferentes, criar projetos paralelos à sua ocupação principal, explorar a espiritualidade, dedicar um tempo pra ficar só, fazer uma lista de coisas que lhe dão medo e enfrenta-las.
Vale experimentar de tudo que chame sua atenção, e até coisas que o fazem torcer o nariz. Meditar, ter aulas de teatro, aprender permacultura, fazer trabalho voluntário, estudar filosofia, partir pra um retiro, explorar trilhas na sua região, aceitar aquela oportunidade de emprego que você nunca imaginou, se encontrar com viajantes que passam pela sua cidade, retomar um hobby da infância, ver filmes inspiradores, conversar mais com seus pais.
Vale fazer sua própria linha do tempo e destacar desafios e qualidades, refletir sobre o que você faria se tivesse todos os recursos do universo, pensar em quem você admira e por que, ou até em como gostaria que o descrevessem no seu obituário. Vale fazer listas do que gostaria de mudar, criar metas realistas e traçar planos concretos pra alcançá-las pouco a pouco. Vale basicamente qualquer coisa que esteja ao seu alcance e possa te ajudar a abrir a mente sem prejudicar ninguém.
Só não vale achar que a resposta tá necessariamente guardada lá do outro lado do mundo e usar isso como desculpa pra deixar de viver o agora. Afinal, não é a viagem que vai provocar mudanças internas significativas. É você.
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