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Trabalho em troca de hospedagem: 10 dicas essenciais

Dicas Práticas | 29/01/18 | Atualizado em 06/02/24 | 4 comentários

Viajar fazendo intercâmbio de trabalho em troca de hospedagem é não só muito barato como também super divertido e enriquecedor. Albergues, pousadas, fazendas orgânicas, centros holísticos, ONGs, ecovilas e muitos outros tipos de anfitriões mundo afora oferecem acomodação e outros benefícios como alimentação pra pessoas dispostas a trabalhar algumas horas por dia (geralmente de três a cinco) nas mais variadas funções. Eu já viajei assim algumas vezes e amei!

No exterior, esse tipo de troca é chamado de “work exchange”. Aqui no Brasil, ficou mais conhecido como “voluntariado”, apesar de que muitas das vagas não têm fins sociais. Existem, sim, oportunidades em organizações do terceiro setor, e também em projetos ecológicos. Mas também tem muitos anfitriões que são pequenos empreendimentos de hotelaria, com fins lucrativos mesmo.

As atividades que você pode fazer nessa troca de trabalho por hospedagem são bem variadas. Dá pra dar aulas de idiomas, cozinhar, fazer reparos, pintar paredes, recepcionar hóspedes, arrumar camas, organizar passeios e festas, trabalhar o marketing, desenvolver sites, criar peças gráficas, cuidar de jardins e hortas…

Em geral, o período mínimo de permanência do voluntário é de duas semanas, com um ou dois dias de folga e tempo livre durante a semana pra descansar, fazer farra, explorar a cidade ou trabalhar em projetos pessoais. Mas alguns anfitriões também aceitam viajantes por menos tempo, então pode ser uma experiência interessante mesmo num feriadão ou em férias curtinhas.

Esse tipo de intercâmbio traz grandes vantagens: além de economizar com hospedagem (um dos maiores gastos em viagens), o participante tem uma imersão na cultura local e contato com pessoas de outros países, nos casos em que há mais voluntários no local. Sem falar na possibilidade de desenvolver seus talentos ou descobrir novas habilidades, já que muitas vagas não exigem experiência na função buscada.

Além das minhas próprias experiências de viajar oferecendo trabalho em troca de hospedagem, conheço muita gente que passou meses na estrada nesse esquema e que mudou de estilo de vida a partir disso. Só é preciso ficar ligado em algumas dicas básicas pra não entrar numa roubada e aproveitar o melhor dessa experiência.

Veja também meu guia completo sobre troca de trabalho por hospedagem aqui no blog.

Trabalho em troca de hospedagem: como viajar assim

1. Monte um perfil num site especializado

Tem muitas formas de conseguir um voluntariado nesse esquema de trabalho em troca de hospedagem. Você pode buscar uma oportunidade entrando em contato com albergues na cidade aonde você quer ir, pedindo indicações a outros viajantes ou mesmo indo presencialmente nos lugares ao chegar no destino. Mas a forma que sempre usei, e que considero mais segura, é fazer um perfil num dos sites especializados em fazer a conexão entre estabelecimentos e voluntários.

As principais plataformas de work exchange atualmente são Worldpackers, Workaway, WWOOF e Helpx. Você encontra mais informações sobre cada uma delas nesse outro post que escrevi sobre troca de trabalho por hospedagem e alimentação, mas adianto que eu e vários conhecidos já usamos Worldpackers, Workaway e WWOOF.

O ponto negativo desses sites é que todos cobram uma taxa pra contactar os anfitriões, mas na minha opinião é um valor que super compensa pelo tanto que você vai economizar e todas as experiências legais que vai viver. Os pontos positivos, por outro lado, são muitos: você tem acesso a descrições das tarefas e benefícios e a avaliações deixadas por quem já foi voluntário no local, por exemplo. E a Worldpackers até oferece suporte (incluindo hospedagem em outro local) caso o anfitrião não cumpra o combinado.

Como escolher o melhor site de trabalho em troca de hospedagem? Se você já tem uma ideia do destino aonde quer ir e do que gostaria de fazer, recomendo que dê uma olhada nas oportunidades disponíveis em cada um.

Pra quem busca exercer uma função mais específica, recomendo a Worldpackers porque o site tem bons filtros por tipo de trabalho. Além disso, essa é uma plataforma brasileira e tem um ótimo suporte – e em português.

Pra quem quer ver mais opções de oportunidades em países onde a Worldpackers ainda não tem tantos anfitriões, vale conferir também o Workaway. E se seu foco for trabalhar em fazendas orgânicas e você não tiver se apaixonado por nenhuma vaga nos dois primeiros, pode olhar o WWOOF, que é focado nesse nicho. No entanto, eles têm sites separados pra cada país, então não acho tão prático.

Na hora de montar o perfil, que inclui fotos e informações sobre sua personalidade, qualificações e interesses, dedique tempo e atenção. É como se seu cadastro fosse um currículo, e quanto mais caprichado ele estiver, mais chances você tem de conseguir uma oportunidade legal – lembrando sempre de ser honesto e não criar falsas expectativas.

Faça uma descrição bem completa, ressaltando suas habilidades e, se possível, mencione experiências anteriores que demonstrem que você é um bom candidato. Vale trabalho remunerado ou voluntário, viagens e intercâmbios, por exemplo, especialmente se as habilidades forem relacionadas à função que você quer.

Também deixe claro o que você procura tirar dessa experiência (“passear muito e não ter que pagar pela hospedagem” não vale, né? a experiência vai além disso!) e como pode contribuir além das funções práticas do trabalho.

Saiba mais sobre minhas experiências com work exchange:

Trabalhando num hostel em Budapeste
Trabalhando numa pousada em Paraty
Trabalhando com um casal no interior da França

2. Escolha um destino interessante

Existem centenas de vagas disponíveis pra intercâmbio de trabalho por hospedagem e pode ser difícil filtrar as que mais o interessam. Uma boa forma de começar é delimitando alguns destinos específicos. Pense em quão longe você pode ir (de acordo com preços de passagens e tempo disponível), veja se precisaria emitir visto e avalie o custo de vida, idioma e clima dos destinos.

Reflita também sobre sua vibe nessa viagem: tá a fim de ficar no meio do mato e entrar em contato com seu eu interior ou quer ir pra balada numa cidade grande? É surfista e tá doido por uma praia ou quer aprender a esquiar? Quer sair da zona de conforto e buscar algo totalmente novo ou está numa das suas primeiras viagens e prefere um lugar mais parecido com sua cidade natal?

Avalie ainda as condições do país na época específica em que você pretende viajar, caso já tenha isso bem definido: clima, datas comemorativas, eventos… Pode ser interessante evitar um destino muito frio no auge do inverno, ou uma cidade de praia na época de chuvas. Por outro lado, pode ser legal ir na época de algum festival, como aconteceu comigo no Bourbon Jazz Festival em Paraty. :)

troca de trabalho por hospedagem

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3. Procure uma atividade adequada para você

Escolheu alguns países ou tipos de destino pra focar? Agora é hora de determinar que tipo de trabalho você quer fazer. Como mencionei lá em cima, existem vagas pra todo tipo de atividade, e é essencial escolher uma pela qual você tenha interesse, além de se sentir capacitado.

Não adianta aplicar pra uma vaga que exige muito trabalho físico se você tem alguma limitação, pra uma função específica tipo programação se você não tem a habilidade necessária ou pra um trabalho que exige lidar com pessoas o tempo inteiro se você não tem aptidão nem interesse nisso.

Não que não seja massa sair da zona de conforto: uma das minhas viagens de trabalho em troca de hospedagem envolveu jardinagem e pintura, duas coisas nas quais eu tinha zero experiência, e foi ótimo aprender um pouco na prática – mas antes confirmei com os anfitriões se eles poderiam me ensinar.

Essa pode ser sua chance de usar habilidades profissionais, ganhando inclusive um item legal pra o currículo, mas também pode ser a oportunidade de descobrir algo novo, como permacultura ou culinária asiática.

Seja como for, leia com atenção a descrição das funções e benefícios da vaga. Leve em consideração o nível de esforço que o trabalho vai lhe exigir e os benefícios oferecidos em troca, pra avaliar se vale a pena pra você.

Nessa fase é importante pensar também se a quantidade de horas de trabalho e as exigências da função são compatíveis com o que é oferecido em troca. Também recomendo avaliar se essa vaga parece estar substituindo o trabalho que seria de um funcionário contratado em tempo integral, se você vai ter que realizar funções que oferecem algum risco à sua saúde ou à de outras pessoas ou animais e se vai precisar realizar tarefas muito complicadas sem supervisão.

4. Pesquise sobre o anfitrião

Uma das vantagens das plataformas específicas pra quem busca hospedagem em troca de trabalho é, como mencionei, a chance de conferir o feedback de outros voluntários que já passaram pelo lugar. Leia os comentários com atenção, tentando ver se não tem nenhuma bronca nas entrelinhas.

Se achar necessário, entre em contato por mensagem privada com o pessoal que deixou reviews – já fiz isso várias vezes e também já fizeram comigo, tanto pra confirmar se o lugar era mesmo como dizia ser quanto pra pedir mais detalhes sobre a experiência.

Também costumo pesquisar sobre o anfitrião no Google mesmo, jogando o nome da pessoa ou do estabelecimento, além de procurar comentários e fotos extras em sites como Facebook, Booking e TripAdvisor, no caso de estabelecimentos de hospedagem.

Conheça histórias de outras viajantes que usaram work exchange:

Pernambucana viaja pelo mundo sem pagar por hospedagem
Slow travel: jornalista explora América Latina e Ásia sem pressa
Paulista viaja pelo Brasil e Europa trocando trabalho por hospedagem
WWOOF: trabalhando numa fazenda orgânica na Itália

5. Inscreva-se para uma ou mais vagas

Escolheu alguns lugares que parecem massa? O ideal é aplicar pra mais de um, especialmente se faltar pouco tempo pra sua viagem ou se você já tiver comprado passagens pra o destino. Uma recomendação do pessoal da Worldpackers é de que os viajantes se inscrevessem pra 8 ou mais oportunidades com uma antecedência de seis semanas, mas isso não é uma regra.

Eu nunca apliquei pra mais de três lugares porque sempre fui meio exigente com relação ao trabalho que ia fazer, até porque não estava realmente dependendo do work exchange pra viabilizar minhas viagens. Por outro lado, sempre pedi com mais de seis semanas de antecedência, porque sou ansiosa e gosto de me planejar.

E apesar de nunca ter sido recusada, já tive que desistir de algumas oportunidades porque minhas datas não batiam com o que o anfitrião estava precisando. Resumindo: tudo depende do quão essencial é pra você conseguir uma vaga e do quão flexível está em relação a trabalhos, datas e tempo de permanência.

Mas mesmo que você se inscreva em 20 vagas, não é bom copiar e colar o mesmo textinho pra todas. É importante mencionar algo na sua mensagem que demonstre que você leu o perfil do host, explicando por que aquela oportunidade em especial chamou sua atenção.

Ressalte os pontos do seu background que têm a ver com a vaga, conte um pouco sobre seus planos de viagem e diga por que acredita que é um bom candidato(a). Assim, você aumenta muito suas chances de receber uma resposta positiva.

6. Esclareça todas as dúvidas sobre a troca de trabalho por hospedagem

Você e seu anfitrião deram match e a troca trabalho de trabalho por hospedagem vai rolar? Massa! Mas antes de sair comemorando, comprando passagens e fazendo as malas, veja se todos os detalhes sobre a hospedagem estão bem claros.

É bom ter uma conversa aberta com a pessoa que vai lhe receber pra esclarecer qualquer dúvida relativa à carga horária, tipos de trabalho, dias de folga e estrutura da hospedagem (tipo de quarto, banheiro privativo ou compartilhado, acesso à cozinha e demais benefícios, tipo uma bicicleta pra uso gratuito ou sei lá, um unicórnio).

Cada lugar tem uma política diferente pra receber os “voluntários” e cada viajante tem expectativas distintas, então é importante estar tudo alinhado e bem esclarecido pra ninguém ficar frustrado na hora H. Aproveite também pra checar quão fácil é o acesso ao local, pedindo instruções pra saber como chegar lá.

Já vi, por exemplo, fazendas nas quais só dava pra chegar de carro e o dono não se disponibilizava pra buscar os voluntários, que tinham que se virar pra arrumar carona. Já no lugar onde fiquei na França não tinha acesso fácil de transporte público, mas o casal ótimo que me recebeu foi me pegar no aeroporto.

Só compre passagens e tudo mais depois de confirmar a viagem pelo site e se certificar de que as datas propostas estão OK. Mais perto da data, entre em contato pra reconfirmar tudo e avise a hora aproximada em que vai chegar.

troca de trabalho por hospedagem

7. Separe dinheiro para outros gastos

Um detalhe importante: a hospedagem será grátis e talvez a alimentação também, e alguns anfitriões incluem benefícios extras como passeios, festas, uso de lavanderia, empréstimo de bicicletas etc. Mas você vai ter que arcar com os custos do resto da viagem. Dependendo do destino isso pode incluir vistos, seguro viagem, passagens de avião, transporte desde o aeroporto, passeios, compras e viagens pelos arredores.

Se a grana estiver curta, vale priorizar lugares perto de casa (vamos explorar esse Brasil!), com câmbio favorável pra nós (como a maioria dos países da América Latina e Sudeste Asiático) e que ofereçam refeições (quando troquei trabalho por hospedagem na França não gastei nenhum euro com alimentação).

Outra opção é encontrar formas de fazer uma pequena renda extra durante a viagem, em complemento ao voluntariado. Tem gente que faz freelas online, vende brigadeiros ou bijuterias, encontra outros trabalhos remunerados de poucas horas ao dia… Use a criatividade!

8. Tenha um Plano B

Mesmo tomando todas as precauções possíveis, sempre existe a chance de que a realidade se mostre diferente do combinado. Além de informar os dados de contato e endereço do lugar pra alguém de confiança, vale a pena guardar uma reserva de grana, pesquisar formas de chegar a outros lugares a partir de lá e dar uma olhada em outras oportunidades de work exchange, couchsurfinghotéis ou hostels nas proximidades. Também recomendo comprar um SIMCard do país pra poder se comunicar caso algo dê errado.

No caso de experiências negativas, recomendo notificar a plataforma que você usou. Assim, eles podem não só lhe ajudar como até remover o anfitrião do site. E não se esqueça também de deixar um review contando como foi a sua experiência, seja ela positiva ou negativa.

9. Fique atento à imigração

Sempre me perguntam sobre como lidar com vistos quando você vai fazer uma troca de trabalho por hospedagem em outro país. Como não existe vínculo empregatício, você não será remunerado e não terá um contrato formal de trabalho voluntário, normalmente os viajantes embarcam como turistas mesmo. Não tou dizendo que é o certo, só que todo mundo que conheço fez assim, tá?

É bom checar as regras de cada país, porque os sites que mediam esse processo não se responsabilizam por essas broncas burocráticas. Mas em geral o conselho é não falar que você vai trocar trabalho por acomodação, já que a maior parte do seu tempo será ocupada com turismo mesmo, e se você falar em “trabalho” sem ter o visto apropriado, pode ser barrado.

10. Leve o trabalho a sério

Não é porque você não tá sendo pago que o trabalho não deve ser levado a sério, né? Se você concordou com a execução de determinadas tarefas e o anfitrião está oferecendo o que prometeu em troca, espera-se comprometimento da sua parte.

Lembre-se que você não é só um hóspede e se esforce pra exercer bem suas funções, conversando com os responsáveis caso sinta alguma dificuldade. Afinal, a troca precisa ser justa pra os dois lados.

Também é importante ter jogo de cintura pra lidar com pessoas de outra cultura, sejam elas funcionários do local, outros voluntários ou hóspedes/clientes. Abra a mente pra entender diferentes costumes e se adaptar – sempre com bom senso e respeitando seus direitos, é claro.

horta na frança

E você, já deu uns rolês por aí trocando trabalho por hospedagem? Como foi? Conta aí nos comentários!

Crédito da foto em destaque no topo do post: Pexels – licença Creative Commons Zero (CC0)

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4 Comentários

  1. Edbahia

    Muito bom e esclarecedor,çomo vou viajar no inicio do ano que vêm optei e estou planejando viajar como voluntario e gostaria de saber se um voluntaria de 53 anos pode se cantidata a preencher vaga.
    Desde ja agradeço a atenção a me dado.

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