Síndrome da Impostora: o que é, sintomas e como lidar
“Às vezes desperto pela manhã antes de ir para uma filmagem e acho que não posso fazer isso. Que sou uma fraude” (Kate Winslet). Com essa frase, a consultora de comunicação Anna Terra abriu o episódio #00 do seu podcast sobre a Síndrome da Impostora. E confesso: só de escutá-la, me senti menos só.
Comparações, perfeccionismo, insegurança e questões estruturais da nossa sociedade têm mania de provocar essa sensação de que somos uma fraude. Sensação essa que, vejam só, acomete até profissionais premiadas e super reconhecidas como Kate Winslet.
Eu vinha ensaiando trazer esse tema aqui pra o blog há um tempo. Além de ser uma questão que me afeta com frequência, acho essencial conversarmos sobre a Síndrome da Impostora justamente pra desconstruirmos as falsas percepções que a provocam.
Quando conheci o podcast Chá com a Impostora, resolvi convidar sua criadora pra abordar o assunto aqui no blog.
Além de se definir como “dona de casa, apaixonada por bichos, café, comida e viagens”, Anna Terra trabalha como consultora de comunicação, ajudando marcas e pessoas a se comunicarem de forma mais estratégica e amorosa.
No Chá com a Impostora, disponível nos principais players de podcast, ela fala sobre vulnerabilidade, com foco nessa tal Síndrome da Impostora. Passo, então, a palavra pra ela, que vai compartilhar aqui um pouco do que aprendeu estudando e conversando sobre o tema.
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Uma conversa sobre a Síndrome da Impostora, por Anna Terra
Quando Luísa me chamou pra escrever sobre a Síndrome da Impostora, eu tinha acabado de preparar um material bem interessante pra uma conversa sobre isso e pensei: “oxe, massa demais! Vou aqui no gás produzir um texto massa!”.
Mas aí quem aparece? Ela, a Impostora, dizendo que eu tenho que estudar muito, muito, muito mais pra poder falar com alguma propriedade sobre o tema… Mas bem, aqui estou, de coração aberto, compartilhando o que sei sobre isso e dizendo logo: não é uma questão pessoal, e sim estrutural. Vamos lá?
O que é a Síndrome da Impostora?
Mesmo sendo comumente chamada de síndrome, não é bem uma condição clínica. Tanto que a primeira vez que isso apareceu em artigos científicos, lá nos idos de 1978, o termo utilizado era Fenômeno do Impostor (na verdade, Impostor Phenomenon em inglês, que não tem gênero no termo e me agrada mais).
As psicólogas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes fizeram um estudo com 150 mulheres bem sucedidas, tanto na área profissional quanto acadêmica. Nesse estudo, elas identificaram esses “episódios de fraude”, onde as mulheres pensam que estão ocupando tais espaços por pura sorte ou erro de alguém. Elas não se sentem de fato merecedoras de estar onde estão. Eu vou deixar o link para o estudo completo aqui (em inglês).
A sociedade dos anos 70 dizia de diversas formas que o lugar da mulher não é prosperando profissionalmente. Infelizmente, isso não mudou tanto assim desde então, né? E é a partir deste conceito de desencaixe que surge a Impostora.
Então, ainda que o primeiro estudo tenha tido foco em mulheres bem sucedidas, brancas, de classe média e alta, entendemos que a Síndrome da Impostora afeta de forma mais grave as minorias sociais de gênero, classe, raça.
Esse recorte só aparece em estudos acadêmicos em 2014, na tese de pós graduação de Andréa Victório Camargo de Matos. Pois é, esse assunto ainda carece bastante de mais estudos!
Mas uma coisa é certa: essa síndrome acomete muito mais mulheres do que homens. E é por isso que, na falta de um termo neutro como no inglês, eu trato com Síndrome da Impostora, no feminino.
No episódio #00 do Chá com a Impostora, numa conversa com Dani Arrais, buscamos explicar um pouco e contar algumas histórias sobre O que é a Síndrome da Impostora. [Nota da editora: a jornalista Dani Arrais é outra mulher inspiradora, co-criadora da ótima Contente, e o papo foi uma delícia! Recomendo escutar assim que você terminar de ler esse post ;)
Sintomas da Síndrome da Impostora
Ainda que o termo Fenômeno ou Síndrome da Impostora não seja tão conhecido por muita gente, os seus “sintomas” são muito comuns. Olha só alguns deles:
“Eu estava no lugar certo, na hora certa. Foi sorte”
Não tomar créditos por suas próprias conquistas é certamente um dos sintomas mais conhecidos. É quando a gente responsabiliza um fator externo por nossas vitórias.
Um fato interessante sobre isso, é que no recorte de gênero os comportamentos são exatamente opostos, segundo aquele estudo de 1978 que mencionei acima. E se você tiver a cabeça do “ah mas nem todo homem”, pode parar de ler por aqui. ;)
Pauline e Suzanne constataram que os homens atribuem seu sucesso a questões pessoais como ter habilidade, e seus fracassos a questões externas como azar ou a dificuldade da tarefa.
Enquanto isso, mulheres tendem a atribuir seus sucessos ao que elas não controlam, como sorte ou ainda erros dos outros, e achar que seus fracassos são totalmente pessoais, como falta de habilidade ou conhecimento. Curioso, né? Isso é um retrato de um sistema patriarcal opressor.
Procrastinar, adiar tarefas
Pode ser por medo de errar, de não fazer o suficiente, ou um medo do sucesso que é mais difícil ainda de identificar. Mas adiar tarefas é uma forma clássica de auto sabotagem, onde invertemos prioridades e muitas vezes nos prejudicamos e nos culpamos. A sua Impostora pode estar te segurando, fica atenta.
Perfeccionismo
O mito de que tudo precisa estar perfeito pra acontecer já tem sido questionado, mas ainda é uma crença muito forte. O perfeito nunca chega, estamos sempre querendo fazer algo além e muitas vezes isso nos paralisa. “O feito é melhor que o perfeito” soa como um remédio e tanto pra isso. Projetos na gaveta não servem a ninguém.
Necessidade de se esforçar demais
Se a sociedade nos diz que o sucesso não é pra nós, naturalmente vamos nos esforçar muito mais pra poder conquistar algo. E além de promover um cansaço mental e emocional enorme, isso faz com que muitas vezes, ainda com todo esforço, a gente ache que não é boa o suficiente. Nós somos sempre as melhores que podemos ser hoje, e isso basta. Combinado?
Se comparar com os outros
A Impostora nunca teve tanto espaço quanto na era das redes sociais. Estamos muitas vezes nos comparando com o recorte que vemos da vida das pessoas, e talvez se não for pra fazer yoga todos os dias na natureza é melhor nem começar… Se não for pra ser o melhor perfil sobre literatura é melhor nem tirar essa ideia do papel…
E então não nos sentimos suficientemente boas pra relacionamentos, pro trabalho, pra casa, pra nada. Lembrar que ninguém é 100% o que vemos, e que nós somos muito mais do que podemos mostrar, é bem importante. Só nós somos quem somos, sentimos o que sentimos e podemos fazer o que fazemos. Somos únicas, sempre seremos.
E a lista desses sintomas é beeem maior que essa, viu. A Síndrome da Impostora é capaz de se manifestar em vários âmbitos da nossa vida, apesar de ser amplamente conhecida no aspecto profissional.
Mas além dessas dicas aí, tem outra ótima forma da gente amenizar esses vários sentimentos que a Impostora é capaz de nos causar: falando sobre isso.
Vamos falar mais sobre a Síndrome da Impostora?
Existe um termo chamado ignorância pluralística. Essencialmente, ele se refere a quando os indivíduos de um grupo acham que são diferentes, que só eles sentem o que sentem, que são os únicos a terem aquelas dores.
No entanto, quando esses indivíduos externam isso, entendem que na verdade várias outras pessoas do grupo sentem a mesma coisa, e o mais interessante: também achavam que era só com eles. E a partir do momento que a gente compartilha nossas vulnerabilidades, elas ficam menos assustadoras e mais fácil de serem acolhidas.
Foi por isso que surgiu o Chá com a Impostora. Pra ser um espaço de compartilhar e acolher nossas vulnerabilidades e falar de forma verdadeira e sincera sobre como nos sentimos quando achamos que somos uma fraude, que não deveríamos estar onde estamos.
A ideia é nos levar a pensar sobre a Síndrome da Impostora em diferentes espaços. E quando a gente escuta outras pessoas falarem sobre isso, podemos nos identificar. Assim, essa dor e agonia de achar que era só com a gente tende a diminuir.
Pra finalizar, deixo aqui duas dicas:
- Escute o Chá com a Impostora no seu player de podcast preferido. :P
- Fale com as pessoas da sua confiança como você se sente, ainda que isso seja desconfortável.
Como disse Brené Brown no livro A Coragem de Ser Imperfeito, “Vulnerabilidade soa como verdade e é sinal de coragem. Verdade e coragem nem sempre são confortáveis, mas nunca são fraquezas.”
Gostou desse papo sobre a Síndrome da Impostora? Acompanhe o trabalho de Anna Terra no Instagram @terrinha, assine a ótima Newsletter dela ou escreva pra [email protected] se quiser entrar em contato direto com ela. Ah, claro: não deixe de escutar o podcast Chá com a Impostora, que também está no Instagram @chacomaimpostora.
Crédito das fotos usadas no post: a que mostra Anna Terra é de arquivo pessoal. As demais são dos bancos de imagem Unsplash e Pexels – Creative Commons (Direitos de uso liberados)
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6 Comentários
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Adorei o conteúdo e já vou ouvir o podcast.
Obrigada!!!
Que bom, Nathália! Espero que goste do podcast, achei massa! :) Um abraço
Foi assistindo uma série da Netflix que ouvi a primeira vez sobre a Síndrome da impostora e me identifiquei. Dai, a curiosidade de saber mais sobre e tentar ser melhor diante do fato. Seu texto me ajudou muito. Obrigada!!
Que massa, Julie! Qual foi a série, Valéria? :) Tou criando um projeto em que vou falar sobre a Síndrome da Impostora, se quiser conferir me avisa que te mando notícias quando for lançar ;) Espero que você consiga calar a voz dessa impostora por aí <3
Nossa é exatamente como eu me sinto, mesmo após anos luz trabalhando com a mesma coisa. Excelente texto. Obrigada
Geralmente quanto mais a gente “cresce” num trabalho ou qualquer que seja a área, mais a impostora pega, né? :/ Um abraço apertado!