Por que parei de contar países visitados
Até pouco tempo atrás, minha descrição aqui no blog e no Instagram incluía os números de países que conheci e de intercâmbios que fiz. Eu adoro fazer listas e colocar “ordem” nas coisas, então a princípio contar países visitados parecia natural. Até que essas cifras começaram a me incomodar.
Mesmo assim, justificava pra mim mesma: preciso vender meu peixe, afinal, produzir conteúdo de viagens é meu trabalho. “Esses números servem pra mostrar aos novos leitores que tenho alguma ‘autoridade’ pra falar sobre viagens”, pensava. E se eles também aparecem na descrição de tantas outras pessoas da área, que mal haveria nisso?
Mas chegou um momento em que não consegui mais me convencer. Tirei os números do blog e do Instagram e parei até de contar países pra mim mesma.
Mas qual é o problema em contar países?
Por que fiz isso? Porque essa contagem não expressa o que acredito. Porque a quantidade de países onde pisei é irrelevante perto das experiências que vivi e do que aprendi. Porque classificar se tal experiência foi ou não um “intercâmbio” no sentido mais convencional não tem importância.
E porque penso que perpetuar essa lógica quantificável traz consequências ruins. O que faz disso o tipo de “influência” que prefiro não exercer.
Vejo gente se esforçando pra bater recordes tipo “ser o mais jovem a conhecer todos os países do mundo” e, por mais que admire a determinação, não consigo deixar de me perguntar: pra quê? O que se ganha ao acumular carimbos no passaporte?
É claro que quanto mais a gente faz alguma coisa, mais tendemos a aprender sobre ela. E tenho mais conhecimento sobre viagens hoje do que 10 anos atrás, quando conhecia pouquíssimos lugares e só tinha chamado uma cidade estrangeira de casa.
Mas isso não se deve simplesmente aos números, né? Tem muito mais a ver com vivências nada quantificáveis que acumulei graças ao que me abri pra viver. E isso poderia ter acontecido tanto em 2 países quanto em 50.
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Eu não quero basear minhas experiências em quantidade. Não quero que o critério pra decidir pra onde viajar seja a possibilidade de acrescentar muitos países ou cidades à minha lista em pouco tempo. Não quero deixar de “repetir um destino” pra poder mostrar aos outros que conheci um lugar novo. Não quero perder de aproveitar um país com calma porque “preciso” ir pra outro.
E não quero motivar outras pessoas a pensarem assim. A enxergarem viagens como um bem de consumo a se exibir, não muito diferente de um carro ou celular novo.
Quero, sim, pensar mais no que cada lugar pode me ensinar. No que posso viver de diferente, de surpreendente. No que posso descobrir e com o que posso contribuir. Em como tornar meu impacto naquele destino mais positivo.
Viajar como lazer é algo historicamente recente e parece que a gente ainda tá aprendendo a lidar com isso. A entender que viajar não é competição, que passar um dia num canto não nos permite conhecê-lo de fato, que não dá pra encaixar experiências realmente significativas em check-lists.
É claro que você pode continuar contando países se quiser e isso não faz de você um mau viajante. Mas vamos nos esforçar pra ir além disso?
Afinal, em vez de dizer “Oi, meu nome é Luísa. Eu conheço X países e morei em Y deles”, prefiro poder dizer “Oi, meu nome é Luísa. Viajando, eu tento aprender cada vez mais sobre mim e sobre o mundo. E quero compartilhar isso com você”.
O que você pensa sobre isso? Também tem o costume de contar países? Acha que faz sentido parar?
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4 Comentários
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Concordo que ficar contando países não significa nada e as pessoas começam a fazer loucuras para aumentar a conta, como passar 2 dias e Moscou e falar que conhece a Rússia ou pedir carimbo em países que literalmente só passou de carro. Sem falar que isso acaba reforçando o turismo de massa (tipo parada de cruzeiro) e piorando a vida nas cidades turísticas.
Exato, Nívea! Tem consequências negativas tanto pra quem viaja quanto pra os destinos :/ Não sei se você já viu os textos aqui do blog sobre turismo responsável, talvez te interesse: https://janelasabertas.com/2019/05/02/turismo-responsavel/ :)
Eu já tinha refletido sobre isso há algum tempo, mas não tinha encontrado todos os motivos de forma tão clara quanto os encontrei aqui nesse artigo. Eu pensava muito sobre a ansiedade que essa cobrança de conhecer muitos países gera, sendo que as vezes passar um tempo numa outra cidade próxima gera mais experiências, crescimento e aprendizado do que isso. Muito bom!!
Que bom que essa reflexão fez sentido por aí, Stella! :) Eu sinto ansiedade demais, socorro hahaha. Enfiamos metas demais em vários campos das nossas vidas, né? Um abraço!