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De escolas públicas a MIT, Harvard e Stanford: a história de Matheus Tomoto

Viajantes | 14/10/19 | Atualizado em 15/03/21 | Deixe um comentário

Sonha em estudar no exterior, mas pensa que não tem chances ou não faz ideia de por onde começar? Aqui no blog você encontra várias dicas sobre o assunto, que compilei com base nas minhas experiências. Mas se você ainda estiver precisando de um empurrãozinho, dá uma olhada na história de Matheus Tomoto.

Nascido e criado em Sorocaba, no interior de São Paulo, Matheus sempre estudou em escola pública. Durante a faculdade de Engenharia, conseguiu uma bolsa do extinto Ciência sem Fronteiras para fazer parte da graduação na Purdue University, nos Estados Unidos. E desde então, não parou de ganhar o mundo.

Aos 29 anos, ele acumula no currículo passagens por instituições prestigiadas como MIT, onde fez um estágio, e Harvard, onde colaborou com um projeto de pesquisa. Hoje, está à frente da Universidade do Intercâmbio, plataforma que oferece mentoria e cursos para jovens que querem estudar no exterior.

Sempre faço uma ressalva quando falo de casos como o de Matheus: não podemos cair na ilusão da meritocracia, já que no Brasil o acesso às oportunidades é extremamente desigual. O caso dele infelizmente ainda é exceção, porque o sistema impõe inúmeros obstáculos à maior parte da população. E colocar sobre os indivíduos toda a responsabilidade de superar desafios estruturais profundos é no mínimo injusto. Precisamos, urgentemente, mudar essas estruturas.

No entanto, acredito que essa história pode servir de exemplo e inspiração pra quem deixa de buscar oportunidades por não saber que existem, ou se sabota por medo do fracasso ou autoestima baixa. Por isso, conversei com Matheus por e-mail pra conhecer melhor sua história, que você confere na entrevista a seguir.

matheus tomoto em palestra

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Entrevista com Matheus Tomoto

Como foi a preparação para seu primeiro intercâmbio?

Matheus Tomoto: Foi bem pesada porque na época eu não falava nada de inglês. Então para conseguir uma nota suficiente para passar no teste de proficiência (TOEFL) eu passei a estudar 12 horas todos os dias da semana. Durante esse tempo esse era meu maior foco, então tive de deixar de fazer muitas coisas cotidianas que alguém da minha idade normalmente faria como sair com amigos, ir a festas, etc.

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Quais foram os maiores desafios dessa experiência?

Matheus Tomoto: Essa primeira experiência foi fundamental pra me fazer começar a entender que qualquer pessoa, mesmo com dificuldade, tem capacidade de correr atrás dos seus próprios sonhos.

Eu vim de uma realidade difícil, tendo que começar a trabalhar para ajudar nas despesas de casa aos 10 anos. E mesmo com tantos obstáculos, inclusive a falta de apoio da minha família e amigos, eu consegui dar esse primeiro passo que me levou aos outros que foram surgindo.

Resumidamente, acredito que o meio maior desafio, depois do inglês, foi começar a acreditar que eu era realmente capaz de conquistar uma oportunidade internacional.

Como você conseguiu o summer job no MIT?

Matheus Tomoto: Quando estava nos Estados Unidos decidi que queria tentar outras oportunidades. Foi aí que resolvi me aplicar para as 10 melhores universidades de Engenharia do país e, para isso, escrevi uma carta contando sobre minha vida.

E a resposta foi bem melhor do que eu esperava: recebi aprovação de todas elas para iniciar minha carreira como cientista. Entre as opções, acabei escolhendo o MIT principalmente pela excelência da instituição da minha área de atuação.

Em que projeto você trabalhou lá?

Matheus Tomoto: No MIT eu fiz um estágio de pesquisa, também conhecido como Summer Job. Foi a primeira oportunidade científica na minha carreira. Lá eu comecei um projeto trabalhando com submarinos autônomos mas acabei aprendendo bastante sobre inteligência artificial e transferência de energia elétrica sem fio.

Nessa época eu ainda era muito novo, então foi uma fase de muito aprendizado. Me apaixonei pela minha área e foi aí que surgiram os contatos que me geraram outras oportunidades, como o convite para fazer um Summer Job que posteriormente virou uma pesquisa em Harvard.

Qual foi sua atuação em Harvard?

Matheus Tomoto: Em Harvard eu participei como pesquisador de um projeto focado em análises climáticas. A equipe da universidade precisava desenvolver uma maneira de fazer essas análises na atmosfera e estratosfera. A partir disso, eu participei do projeto de criação de um drone que ajudava nessas análises climáticas.

Fiz toda a parte de inteligência dispositivos para que esse drone funcionasse. Essa pesquisa e o produto final foi tão interessante que, posteriormente, levamos esse projeto para outros lugares, como França, China e até na Floresta Amazônica. Essa fase da minha vida em Harvard durou aproximadamente 2 anos.

matheus tomoto em harvard

Como você conseguiu essa oportunidade?

Matheus Tomoto: Foi, mais uma vez, através de contatos e networking que eu fiz durante todos esses anos de Estados Unidos e de aplicações. Uma coisa que pouca gente sabe é que muitos laboratórios e empresas abrem oportunidades para alunos internacionais fazerem projetos de pequena duração. É o que a gente chama de Summer Job.

Essas vagas são tão abundantes que as vezes elas não são preenchidas porque a maior parte dos aplicantes quer ir para as empresas mais famosas e esquecem que as faculdades e diversas outras instituições oferecem esse tipo de programa.

O que você está fazendo atualmente?

Matheus Tomoto: Acabei de voltar de um projeto em Stanford e no próximo ano estou embarcando para mais uma fase da minha vida acadêmica, dessa vez em Oxford, no Reino Unido. Enquanto isso estou me dedicando ao projeto Universidade do Intercâmbio e focado em ajudar o maior número possível de jovens a realizar o sonho de estudar fora do Brasil.

O que vê como principais diferenças entre universidades brasileiras e norte-americanas?

Matheus Tomoto: As universidades americanas são mais práticas, enquanto as universidades brasileiras (especialmente as públicas) focam muito mais em teoria. Cada uma dessas duas abordagens têm suas vantagens e desvantagens.

Os estudantes brasileiros que vão pros EUA fazer intercâmbio, por exemplo, tem uma bagagem teórica já mais estruturada que os alunos americanos, e isso pode ajudar academicamente falando. Por outro lado, eu sinto que os estudantes que se formam em uma universidade americana saem muito mais preparados para a atuação no mercado de trabalho.

Como você acha que o ensino brasileiro deveria mudar para oferecer mais oportunidades aos jovens?

Matheus Tomoto: Eu acho que o nosso modelo de ensino, tanto na educação básica quanto na educação superior, já está muito defasado. E quando analisamos, por exemplo, a situação das escolas públicas de ensino básico a situação fica ainda mais crítica. Isso era assim quando eu estava no Ensino Médio e vejo que nada mudou de lá pra cá.

Me lembro bem de passar de uma série para outra na escola apenas decorando os assuntos para as provas. E isso não é aprender! Fui aprender isso na marra depois de entrar na faculdade e perceber que a minha base de ensino era muito fraca.

Falando do ensino superior, como disse mais acima, acho que já está mais do que na hora das universidades brasileiras começarem a se preocupar também em preparar profissionais para o mercado e não apenas pra academia.

Por fim, acho que um bom primeiro passo, tanto pro ensino básico quanto para o ensino superior, é começar a investir em habilidades que estão se tornando cada vez mais necessárias mas que ainda não estão sendo devidamente reconhecidas nesse mundo acadêmico: adaptabilidade, empreendedorismo, capacidade de negociação, inteligência emocional, criatividade, gestão de pessoas, etc.

matheus tomoto nos EUA

Que conselhos você dá para quem quer estudar no exterior?

Matheus Tomoto: O primeiro conselho é começar antes de tudo a acreditar que é sim possível. Acho que isso é o grande primeiro passo para essa preparação. O segundo passo é começar a estudar em casa.

Seja para melhorar a questão do idioma ou para fazer uma prova específica, é perfeitamente possível focar nos estudos por conta própria. Eu sou a prova viva disso. A internet tá aí hoje e é a maior aliada para quem quer buscar informações sobre esse mundo do ensino no exterior de forma gratuita.

Quais os serviços oferecidos pela Universidade do Intercâmbio?

Matheus Tomoto: Nossa missão principal é ajudar o maior número possível de pessoas a conseguir a tão sonhada oportunidade internacional.  E fazemos isso através de duas frentes principais. A primeira delas é a mentoria, que é um produto pago.

No entanto, também estamos diariamente disponibilizando conteúdos muito úteis (no nosso blog e redes sociais) mesmo para quem quem não pode investir agora em uma mentoria do tipo. Também temos o nosso Close Friends, que é uma ferramenta que encontramos para começar a oferecer conteúdo exclusivo, como bolsas e dicas de estudos e viagens, por um preço acessível.

O que o motivou a criar esse projeto?

Matheus Tomoto: Desde quando eu consegui minha primeira oportunidade que eu me faço essa pergunta: “Por que eu?”. Eu tenho plena ciência que a minha história infelizmente ainda é uma exceção aqui no Brasil.

Quantos garotos e garotas que passaram a vida inteira estudando em escolas públicas de baixa qualidade, como eu passei, não conseguem chegar nem mesmo ao ensino superior? Eu sei que eu ainda sou uma exceção à regra e meu motivo principal para criar esse projeto é a minha vontade de mudar essa realidade.

Crédito das fotos que ilustram o post: Matheus Tomoto/Acervo pessoal

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