Tour de um dia pelas Highlands escocesas até o Lago Ness
Além do whisky, da gaita de foles, do kilt e do tartan, as Highlands compõem as imagens mais simbólicas da Escócia. Na minha viagem ao país, queria muito acrescentá-las ao roteiro, mas teria poucos dias e não estava de carro. A solução? Fazer um tour no esquema bate-volta saindo de Glasgow. Vou contar como foi e se acho que vale a pena, mas antes de mais nada, vamos ao básico: o que são essas tais de Highlands, afinal?
O que são as Highlands escocesas?
“Highlands” significa, literalmente, “terras altas”. O termo se refere à região montanhosa da Escócia, no norte do país – ainda que outras partes sem montanhas também “entrem no bolo”, por proximidade geográfica e afinidade cultural. A maior parte da população vive na outra parte da Escócia, as Lowlands, onde ficam cidades como Edimburgo e Glasgow.
Essa divisão é histórica e tem a ver com os povos que habitavam cada região: enquanto as Highlands eram ocupadas pelos gaélicos e pictos, nas Lowlands você encontrava os scots, entre outros povos. E é dessa área mais ao norte que vêm elementos como o kilt, o tartan e a gaita de foles, que chegaram a ser proibidos quando os ingleses dominaram a região, no século 18, assim como o uso do idioma gaélico.
As brigas entre povos também fizeram com que muita gente fosse pra colônias como os EUA, a Austrália e o Canadá, e com a industrialização milhares de habitantes das Highlands acabaram indo pra as Lowlands trabalhar nas fábricas. Nesse processo, a população dali diminuiu muito e a língua gaélica quase deixou de ser usada: atualmente, apenas 1,5% dos escoceses usam o idioma.
A região passou a ser vista como um lugar inóspito e sem atrativos, até que a Rainha Vitória se encantou por lá, construiu ali um castelo e transformou as Highlands em uma área trendy. Garota esperta, né? Seria mesmo um absurdo deixar esse canto do mundo esquecido, já que não falta coisa bonita pra ver por lá: lagos, vales, montanhas, ruínas e muitas, muitas ovelhas – o país tem duas pra cada habitante, fofíssimas.
Um passeio por ali vai despertar algumas lembranças em quem viu filmes como Coração Valente e Highlander e a série Outlander. Trechos dos filmes de Harry Potter também foram gravados por ali, como o momento em que o Hogwarts Express passa por uma espécie de ponte em Harry Potter e a Câmara Secreta: trata-se do Viaduto de Glenfinnan.
A área das Highlands é bem grande e pode ser explorada em vários dias, seja com tours de agências ou de carro. Os passeios têm saídas de Edimburgo e Glasgow (que fica mais perto), e alguns dos destaques no caminho são o Lago Ness, Glencoe e a Ilha de Skye.
O centro administrativo da região é Inverness e você pode usar a cidade como base pra explorar outros lugarzinhos ao redor. Se estiver de carro, dá pra escolher estradas que passam por vilarejos e lagos ou pelo litoral, e também fazer várias trilhas. Você encontra informações detalhadas sobre as trilhas no site Walking Highlands.
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Tour pelas Highlands escocesas
Fiz o tour de um dia de Glasgow até o Lago Ness com uma agência de ótima reputação no Reino Unido, a Rabbie’s, que também oferece vários outros passeios interessantes com pequenos grupos pela Escócia, Irlanda e Inglaterra. Outra opção é reservar um tour do Lago Ness e Highlands pela Civitatis, pagando em Reais.
Saímos às 8h da manhã, a partir da George Square, bem no miolinho de Glasgow. O passeio foi feito numa van confortável com aquecedor/ar condicionado e entradas USB junto dos assentos pra carregar o celular. O motorista usava um microfone e ia contando histórias sobre os clãs que ocupavam a região e outras curiosidades, além de colocar músicas típicas pra tocar. ;)
Achei o guia super simpático, profissional e atencioso, sempre explicando direitinho cada parte do roteiro. Passamos bastante tempo no carro, já que o percurso é longo (são 290 km de Glasgow até o Lago Ness), mas graças ao guia agradável e às muitas paradas no caminho, não achei a viagem tão cansativa.
O percurso de ida pelas Highlands
Nossa primeira parada foi no Lago Lomond, por volta das 9h, onde ficamos uns 15 minutinhos. Esse lago é o maior da Escócia e dá nome a uma música que é tocada em vários casamentos e jogos de futebol. Não achei o lugar superbonito, ao menos com o dia nublado, mas pra quem vai por conta própria dá pra explorar melhor a região fazendo um passeio de barco. Nessa parada tinha uma cafeteria e banheiros.
Saindo de lá, passamos pela minha parte preferida do caminho: Glencoe, um vale muito bonito que muda de cara dependendo da estação. No outono, o caminho tava todo amarronzado-amarelado, e além de apreciar a paisagem pela janela da van fizemos algumas paradas pra fotos.
Passamos também por Fort William, cidadezinha que cresceu ao redor do forte de mesmo nome. A maior parte do tal forte, no entanto, foi destruída pra construção de uma estação de trem. Muita gente que viaja por ali de carro faz uma parada lá, e apesar de pequenina a cidade tem algumas opções de restaurantes e pousadas.
Por volta das 12h chegamos em outra cidade pequena, Fort Augustus, onde fizemos uma parada de uma hora pra almoço. O lugar tem apenas 650 habitantes e é charmosinho, com bares, restaurantes e algumas lojas distribuídos à beira do Caledonian Canal, que é frequentado por patos simpáticos.
Por ali, vi lugares que vendiam fish and chips por 8 libras, um pub com pratos por 13 libras e lanchonetes com sanduíches, pizza e hambúrguer por menos de 4 libras. Fui num mercadinho, comprei uma scottish pie quentinha e gostosa por 1,80 libras e comi à beira do canal. <3 Por ali você também encontra um caixa eletrônico e banheiros públicos.
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Passeio de barco pelo Lago Ness
Seguindo mais pra o norte, chegamos ao Lago Ness perto das 14h. O grande atrativo do lugar é, claro, a mitologia formada ao redor do suposto monstro que habita o lago. O primeiro registro por escrito de que alguém tenha avistado o monstro do Lago Ness, chamado carinhosamente de Nessie, data de 565 DC.
Foram tantos os relatos de que o bicho teria sido visto que já rolaram várias buscas usando submarinos, sonares e até modernos drones marinhos. Acho eu que a lenda foi propagada ainda mais porque a galera viu que essa história tinha potencial turístico – vide Nessies de pelúcia abaixo, à venda por lá. ;)
Chegando no Lago Ness existe a opção de fazer um passeio de barco com a empresa Jacobite, que não tá incluído no preço do tour da Rabbie’s. Na época da minha visita, em outubro de 2017, eram 13 libras e só era aceito pagamento em dinheiro. Pagamos ao guia e ele comprou os ingressos de todos nós, e aí foi só descer da van e ir pra fila do barco.
Quem não quisesse ir pro barco podia curtir o visual num café ou no bar em cima de um hotel bem em frente. Por ali também tem uma trilha de uma meia hora que aparentemente era legal, mas segundo o guia tava muito enlameada, então ele só recomendou que fôssemos se estivéssemos com sapatos próprios pra trilha.
Durante uma hora, navegamos pelo Lago Ness, que tem a água super escura e é enorme (56,4 km²), além de fundo, chegando a 230 metros de profundidade. O barco tem uma parte coberta com sofás e mesas e o topo aberto, onde passei a maior parte do tempo, apesar do vento superfrio. E tem, como é de costume nesse topo de passeio, comentários por áudio, que contavam sobre fatos e lendas curiosas relacionadas ao monstrinho.
O destaque do passeio é a vista do Castelo de Urquhart, ou melhor, do que resta dele. O castelo tem um passado bem violento e turbulento. Sua posição estratégica permitia observar o lago nas duas direções e fez dele uma fortaleza importante pra vários exércitos durante uns 500 anos entre os séculos 13 e 17. Ele mudou de donos várias vezes até ser destruído em 1692 e só sobraram as ruínas.
Se você for até lá por conta própria e tiver mais tempo, pode contratar um passeio que permite descer do barco e fazer uma visita ao castelo durante uma hora (o ingresso do barco + castelo custava 22 libras em 2017).
A volta para Glasgow
Depois do lago, fomos voltando em direção a Glasgow e paramos em mais umas cidadezinhas fofas pra esticar as pernas. Adorei o caminho, passando por várias árvores muito lindas com os tons do outono. Achei curiosa a variedade de espécies nessa área e o guia explicou que o chefe do clã que dominava o lugar na época queria reflorestar o espaço e saiu jogando umas sementes aleatórias. :P
A última parada na volta foi na cidadezinha de Pitlochry, que era frequentada pela Rainha Vitória e ganhou uma estação de trem no século 19, tendo se tornado um destino turístico popular desde então. Passamos meia hora explorando a rua principal da cidade, que também reúne vários cafés, lojinhas e pubs. Depois de mais 1h30 de estrada, chegamos de volta em Glasgow.
Achei esse tour uma boa opção pra quem, assim como eu, não tem tanto tempo disponível pra explorar a região e não tá de carro alugado. Pra saber mais sobre o roteiro e fazer sua reserva, acesse o site da Rabbie’s ou vá direto na página do tour que eu fiz, que custa entre 41 e 55 libras dependendo da época do ano. Outra opção é reservar um tour pelas Highlands com a Civitatis, pagando em Reais.
A blogueira fez o tour com a Rabbie’s a convite do Visit Britain. As opiniões expressadas nesse post são sinceras e não sofreram nenhuma interferência das instituições. O Janelas Abertas preza pela transparência e sempre sinaliza qualquer parceria ou patrocínio, como informado nas políticas do blog.
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