Como ser voluntário no exterior de forma ética
Fazer trabalho voluntário no exterior pode ser massa. Afinal, se trata de conhecer o mundo e estar em contato com a população local enquanto você ajuda quem precisa. Uma situação de ganha-ganha, né? Mas não é tão simples quanto parece.
Existem muitas consequências graves relacionadas ao chamado “volunturismo” (viagens com o intuito de voluntariar), que vão desde questões mais subjetivas como a criação de obstáculos pra o desenvolvimento local a temas indiscutivelmente criminosos como o incentivo ao tráfico de pessoas.
Por isso, na hora de fazer uma viagem desse tipo (ou qualquer outra, aliás) o mais importante é ter certeza de que suas ações não tragam mais prejuízo do que benefícios.
Tem se falado muito sobre os prós e contras de ser voluntário no exterior, com ênfase nos riscos caso o processo não seja tratado com extrema responsabilidade tanto pelos viajantes quanto pelas organizações que promovem esse tipo de experiência.
No post anterior, falei sobre alguns dos principais problemas do voluntariado internacional. E agora venho falar de algumas formas de praticar o tal do volunturismo sem contribuir com eles, com base em recomendações de especialistas. Se você quer ser voluntário em outro país, não deixe de refletir sobre os pontos a seguir.
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Pesquise muito
Essa é a premissa básica antes de se envolver em qualquer projeto do tipo. Por sua própria segurança e pra garantir que seu trabalho não vai ser prejudicial, procure saber como as taxas que você pagar serão usadas (quanto fica com a agência, quanto vai pra instituição e quanto vai pra sua manutenção por lá), qual o nível de participação da população local no projeto, como a organização se financia, quais são os projetos atuais e previstos pra o futuro, qual o plano de ação pra longo prazo, se eles sobrevivem apenas com as doações dos voluntários internacionais, qual foi o resultado do trabalho de outros voluntários, que tipo de habilidades você precisa ter, se existe seleção e treinamento, se os voluntários anteriores deixaram um registro das atividades realizadas…
Lembrando que qualquer projeto social deve ter um plano de ação bem estruturado, com objetivos a curto, médio e longo prazo. Procure organizações que tenham um trabalho consistente e sustentável e que sejam transparentes quanto ao uso de recursos e aos resultados das suas atividades. Se houver crianças envolvidas, seja ainda mais cuidadoso nessa pesquisa. E se você entende inglês, recomendo ler essa lista de perguntas aqui.
Use suas habilidades
Não sabe que projeto escolher? O ideal é colaborar com habilidades que você já tenha e que estejam em falta no projeto ou na comunidade em questão. Se você trabalha em recursos humanos, pode ajudar a organização a administrar melhor seu pessoal. Se é da área de finanças, pode contribuir pra colocar ordem na contabilidade da instituição.
Se trabalha com marketing, pode desenvolver campanhas pra promover os programas e causas. Se for artista, pode promover oficinas. Se for administrador, pode ajudar os comerciantes locais a estruturar melhor seus negócios. Se for professor, pode dar aulas de reforço escolar. Se for biólogo, pode colaborar com projetos de educação ambiental. E assim por diante.
Encontrando funções que esteja capacitado pra exercer você vai se sentir muito mais confiante e tem muito mais chances de ajudar do que atrapalhar. Só não exagere suas habilidades e faça o pessoal esperar de você algo que você não pode entregar, beleza?
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Não pense que vai viajar de graça
Quando pensa em fazer trabalho voluntário no exterior, muita gente logo se anima imaginando que é uma forma barata de viajar. De fato, em muitos lugares dá pra trabalhar como “voluntário” em troca de hospedagem e alimentação e acho isso massa.
Mas no caso de projetos sociais, é preciso ter em mente que você tá ali primordialmente pra ajudar e não faz sentido esperar que uma ONG que precisa de voluntários tenha gastos extras pra lhe manter. Afinal, seria muito melhor que eles usassem esse dinheiro pra empregar trabalhadores locais, por exemplo.
O esperado é que no mínimo você cubra seus custos de acomodação e manutenção no local, que em muitos países podem ser bem em conta pra quem ganha em Reais. Além disso, você também pode fazer doações pra o projeto (se não tiver muita grana, uma ideia é fazer uma “vaquinha” entre seus amigos).
E, caso procure uma agência pra fazer o meio de campo entre você e a organização, espere pagar também taxas extras que – caso a empresa seja séria – serão destinadas a cobrir os custos do processo, como o salário do pessoal que trabalha pra fazer essa conexão acontecer e se assegurar que tudo corra bem pra as duas partes.
Entenda suas motivações e expectativas
Sejamos sinceros: a indústria do volunturismo não existiria se as pessoas usassem o dinheiro da viagem pra ajudar as organizações a se manter por conta própria, né? A vontade de ajudar in loco pode ser uma experiência de aprendizado incrível e não acho que isso seja errado. Ela pode trazer muitos benefícios pra você, pra comunidade e pra outros projetos nos quais você pode se envolver no futuro.
Mas é essencial ser muito honesto consigo mesmo. Avalie suas motivações, qual é o papel do seu ego nessa história e também suas expectativas. Lembre-se que no “volunturismo”, a parte do “turismo” vem em segundo lugar. Se seu foco é passear, conhecer a cultura local e viajar de forma barata, existem muitas outras opções.
Na prática, provavelmente você vai aprender mais do que transformar. Muita gente entendida do assunto, como Daniela Papi e Zahara Heckscher, argumenta que um dos aspectos principais pra promover desenvolvimento global é construir empatia, e que os voluntários devem ter o aprendizado como sua prioridade.
“Acredito que todo esse aprendizado ajuda os voluntários a serem o tipo de pessoa que pode criar mudanças de longo prazo, seja voltando para outros países de forma profissional, trazendo ideias de fora para ajudar a desenvolver suas próprias comunidades ou se envolvendo em diferentes formas de mudança social num nível mais profundo”, defende Zahara.
Seja humilde e aberto pra aprender
Sabe qual é o principal problema pra chegar nisso aí que Zahara mencionou? É quando os voluntários não estão dispostos a mudar de perspectiva e chegam achando que têm respostas pra todos os problemas do mundo. Não seja essa pessoa!
Lembre-se que você não sabe quase nada sobre o que de fato acontece ali. Os problemas dos outros podem parecer mais simples do que os nossos porque não sabemos o contexto que está por trás deles e temos uma visão superficial das coisas.
É bem comum alguém chegar de fora e pensar “ah, se eles fizessem tal coisa do jeito em que nós fazemos, isso estaria resolvido”. Mas é essencial entender que questões de desenvolvimento são complexas. Tem gente pesquisando e trabalhando nelas há anos e muitas perguntas ainda estão em aberto; quem é você pra achar que sabe tudo?
Além de escutar as necessidades das pessoas, tente compreender o jeito delas de fazer as coisas, tenha sensibilidade cultural e busque entender a cultura da organização. Preste atenção à forma em que as pessoas agem e às suas regras, tradições e costumes, e tente se adaptar.
Antes de ajudar, aprenda. Em hipótese alguma trate os locais como “coitadinhos” que vão ser salvos por você; eles são seres humanos capazes e você não é superior porque veio de fora ou de um país com mais recursos. Nesse sentido, os especialistas destacam que voluntários devem ser aprendizes e assistentes, reforçando o valor das pessoas da comunidade envolvidas nas ações.
Por isso, em vez de liderar um projeto sem nem entender direito o que acontece ali, o ideal é ajudar a equipe permanente da organização a alcançar metas de longo prazo definidas por eles.
Faça o que é mais útil
Pode ser muito divertido brincar com crianças ou filhotes de animais, mas muitas das atividades mais necessárias pra organização (especialmente se você não for especialmente capacitado pra outra coisa) podem ser bem mais tediosas.
Quando fui voluntária numa ONG em Budapeste, por exemplo, boa parte do meu trabalho tinha a ver com organizar livros e documentos e fazer pesquisas. Nada muito emocionante e revolucionário, mas era o que eles mais precisavam no momento – e o que eu tinha condições de fazer bem. Não mudei o mundo, mas ajudei algumas pessoas que tão na luta diariamente a terem mais tempo pra correr atrás das mudanças.
Passe mais tempo
Como comentei no post anterior, um dos obstáculos pra efetividade do trabalho dos voluntários pode ser o curto período de permanência. Vale ressaltar que isso não é uma verdade absoluta: alguém que já tenha experiência em trabalhar com pessoas de outras culturas, que consegue aprender e se adaptar rapidamente e que tem determinadas habilidades específicas pode ajudar bastante em pouco tempo. Já ouvi falar de casos em que um profissional passou só dois dias na ONG, mas ofereceu workshops pra equipe que foram valiosíssimos pra atuação deles dali em diante, por exemplo.
Dito isso, no geral é preferível ficar pelo maior período possível. Afinal, você vai precisar de um tempo pra se acostumar à cultura local, entender como funciona o projeto e desenvolver atividades de acordo com um planejamento de médio ou longo prazo.
Dar aulas de inglês por uma semana sem entender o que interessa aos alunos, quais os obstáculos deles pra o aprendizado e qual foi a metodologia usada pelos professores anteriores, por exemplo, tende a ser inútil, se não prejudicial.
Tente permanecer envolvido com o projeto
Acabou o período de voluntariado no local? Não precisa parar por aí. Muitas vezes é possível estender sua influência, continuando a colaborar com a organização depois que você vai embora. Se o projeto for sério e você acreditar nele, pense em formas de permanecer envolvido. Pode ser fazendo algum trabalho remoto, doando alguma quantia mensal, promovendo uma arrecadação de fundos pra ajudar a levar a cabo alguma ação…
Só não se esqueça de ser muito realista e honesto com o que você vai fazer, pra não gerar expectativas irreais – especialmente se houver crianças envolvidas.
Considere outras formas de viagem
Não pode fazer tudo isso? Então faça uma viagem “normal”. Trabalho voluntário não é a única forma de se envolver com a realidade local, nem de ajudar a comunidade visitada. Você pode se hospedar na casa de moradores (através do CouchSurfing ou AirBnb, por exemplo), usar transporte público, puxar assunto com as pessoas e visitar lugares menos turísticos pra conhecer melhor a cultura do lugar.
E pode, também, contribuir com o desenvolvimento local ao consumir produtos cultivados lá, priorizar hotéis e restaurantes da região em vez de grandes redes ou comprar em lojas de associações de trabalhadores do lugar. Além de divulgar o destino, incentivando que mais pessoas o visitem de forma responsável e ajudem a movimentar a economia.
No fim das contas, como defende Daniela Papi, não importa tanto se a viagem é rotulada como “turismo” ou “trabalho voluntário”: o que mais importa é o impacto que ela provoca: “Você pode dizer que está ajudando os outros, mas fazer uma escolha errada e acabar gerando mais danos do que benefícios. Ou pode viajar pra aprender e melhorar como pessoa ao mesmo tempo em que deixa um impacto positivo”.
Se você tem interesse em saber mais sobre desenvolvimento, ONGs, sustentabilidade, desigualdade, entre outros assuntos, recomendo dar uma olhada nessa lista de leituras e vídeos recomendados no site Learning Service (em inglês). E aproveita pra ler o post sobre problemas do volunturismo e me contar aí nos comentários: o que você pensa sobre o assunto?
Crédito das fotos que ilustram o post: Pexels – licença Creative Commons Zero (CC0)
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Gostaria de ser uma voluntaria em alguma coisa ajudar o proximo em q esteja presisando tenho tempo pra doar
Gostaria de ser voluntaria sou estudante no CEFT MG Bh curso tecnico de estradas ja to concruindo o curso quero uma oportunidade de ajudar faso bordados poso ensinar algumas coisa de casa ou de belesa construsao etc