Viagem pra Dentro

Sobre desapegar e abrir espaço para o novo

Muito mais do que comer peru, montar uma árvore de Natal ou pular sete ondas no mar, tem uma tradição que adoro na virada do ano: fazer uma boa faxina, jogar fora papéis inúteis e vender ou doar o que precisa de um novo lar. Junto com “gratidão”, “desapego” é uma das palavras da moda nos últimos tempos, né? Mas quando a moda é boa, melhor mesmo que pegue. E não falo sobre desapegar no sentido de evitar criar vínculos e ser indiferente. Falo de manter em nossas vidas só o que vale a pena.

Recentemente passei uma tarde fazendo backup de arquivos do computador e do celular, apagando fotos e documentos que não me servem mais, desinstalando aplicativos que nem lembrava que tinha, eliminando do Kindle alguns livros que baixei de graça por impulso e separando roupas que não uso há meses ou anos.

De tudo que saiu, muitas coisas nunca foram importantes. Estavam guardadas “porque sim”, porque era mais fácil deixá-las ali do que tirar um tempo pra apagá-las. Contas pagas, screenshots do celular com informações de lugares onde já fui, vídeos de Whatsapp que não me fizeram rir, links favoritados que jamais fiz questão de abrir, livros que mantive na lista de pendências só porque me encaravam na estante.

Outras já tiverem até sua importância, mas foram bem mais fáceis de deixar pra lá graças aos seis meses que passei pulando de quarto em quarto por aí, tendo uma mochila como casa. Quando você percebe que vive tranquilamente com “apenas” duas mochilas somando 15 kg de tralhas e não se importa em continuar repetindo as mesmas roupas na volta pra casa, o acúmulo todo da vida ganha uma nova perspectiva.

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Mas tem horas em que desapegar não é assim tão fácil. Às vezes é preciso deixar pra trás aquele que era seu vestido preferido, mas hoje não tem mais a ver com você. Pode ser necessário parar de insistir numa amizade que já foi fundamental e já não faz muito sentido. Sem falar nos relacionamentos que tiveram um fim (nem vou falar em “não deram certo” porque o que é “dar certo”, afinal?). Ah, e já que estamos nisso: sabe aquela música que tinha tudo a ver com uma história que já acabou? Pra fora da playlist.

Pode ser difícil, inclusive, deixar pra trás até aquilo que não se concretizou. Os planos ou sonhos que acreditávamos ser nossos, mas não eram, ou deixaram de ser. Mexendo nas pastas do computador, encontrei textos pra seleção de trainees em jornalismo que nunca foram o que eu realmente quis fazer, mas o que achava que devia. Documentos pra inscrição em cursos que eu pensava que me interessariam, numa época em que me via sem saber que caminho seguir. Possibilidades que me ajudaram a chegar aonde tou, mas já não fazem sentido.

sobre desapegar

Tem também os gostos, passatempos, hobbies. Por algum tempo me incomodou perceber que tenho visto poucos filmes, enquanto por muitos anos o cinema era quase uma obsessão. Deixei também de acompanhar algumas séries que adorava porque as novas temporadas não me agradaram tanto assim (ou será que a mudança foi em mim?). A bicicleta que foi alegria e força numa fase difícil acabou ficando encostada no corredor. As aulas de alemão, que eu adorava, tão em stand-by há mais tempo do que eu planejava. E alguns eventos aonde gostava de ir já não têm tanta graça. Talvez tudo isso volte a ocupar um espaço grande na minha vida no futuro? Claro. Mas talvez não. E tudo bem.

O ser humano é um bicho tão apegado a supostas certezas e zonas de conforto, né? Teimamos em entender, lá no fundo, que é preciso aceitar a impermanência. De pessoas, interesses, pontos de vista, crenças. Lembrar que muito do que fazemos ou vivemos serve pra ajudar a compor o tecido de quem somos; não raro, pra nos fazer ver o que não somos, ou não queremos pra nós.

Pra isso é preciso, também, abrir espaço pra o novo, como uma escolha consciente. Sei que esse texto não traz nada inovador e que tudo isso é muito mais fácil de falar do que praticar, mas resolvi publicá-lo aqui como um lembrete pra tornar mais frequente essa reciclagem de fim de ano: virtual, material e (principalmente) emocional.

O conceito de desapego, afinal, tá longe de ser novidade. Há muito tempo bate ponto nos discursos de diversas filosofias e religiões. Mas não é questão de espiritualidade, e sim de sobrevivência. Tempo é artigo limitado, assim como energia. Não é fácil aprender a dedicá-la apenas ao que nos faz feliz, mas cada passo dado nesse sentido ajuda a deixar a vida mais leve.

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4 Comentários

  1. Carla

    Adorei! Estou buscando ver o mundo desta forma! Grande beijo!

    • Oi, Carla! Que massa :) Espero que esteja dando certo! É um exercício constante, né? <3

  2. Bianca

    Cada leitura do seu blog me deixa muito contente e esse em especial condiz muito com o que venho sentindo faz tempo. Obrigada.

    • Que lindo esse comentário, Bianca! :) Fico muito feliz por gerar essa conexão. Obrigada pela companhia e pelo comentário! :) Um abração

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