Viagem pra Dentro

Sobre aniversário, identidade e sonhos

Viagem pra Dentro | 10/08/16 | Atualizado em 22/08/16 | 6 comentários

Sempre gostei de fazer aniversário. Se eu acreditasse em horóscopo provavelmente diria que tem a ver com o típico egocentrismo leonino, mas penso que gosto do 10 de agosto por causa do que esse dia provoca em mim: um empurrãozinho pra olhar pra dentro e pra fora e agradecer. Tenho muita, muita sorte nessa vida por estar cheia de carinho à minha volta e por sentir que tenho me tornado, de pouquinho em pouquinho, uma versão melhor de mim a cada ano. É um tal de “o que mudou em mim desde o aniversário anterior?”, “o que eu conquistei?”, “onde quero estar no próximo ano?”, e a cada pergunta vou percebendo que nessa vida a gente não se descobre, mas se inventa.

Aos 27, não levo a vida que imaginava que teria quando era criança e tentava visualizar meu futuro. Não me sinto tão “adulta” e não preenchi quase nenhuma casinha dos padrões tradicionais da sociedade (apartamento, carro, casamento, filhos). Algumas dessas nem pretendo preencher agora, nem nunca. Mas nesse começo de vida (assim espero) já preenchi meu coração de amor e experiências – algumas difíceis e dolorosas, mas sempre importantes, e outras absurdamente deliciosas. E, aos trancos e barrancos, vou aprendendo a respeitar a pessoa que eu sou e criando em mim a pessoa que quero ser.

Às vezes dá, sim, uma certa nostalgia dos tempos de adolescência e faculdade, com aquelas farras homéricas, preocupações poucas e uma energia sem fim. Às vezes dá vontade de pisar no freio, pedir pra descer e voltar ao tempo em que a complexidade do mundo não me atingia com força. Quando não precisava pensar em segurança financeira, problemas de saúde na família, escolhas profissionais. Quando o futuro próximo seguia um caminho muito desenhado: escola, faculdade, estágio, emprego.

Mas aí eu percebo que ao mesmo tempo em que tantos outros fatores entram na equação, que os horrores do mundo dão desânimo, que as responsabilidades vão pesando e que os próximos passos deixam de ser tão claros, a vida vai nos presenteando com o que precisamos pra lidar com tudo isso. Segurança pra saber quem somos, valores pra abraçar e respeitar e desejos próprios (além daqueles que nos faziam acreditar que eram as únicas opções) pra realizar.

Aos 27, continuo sendo uma pessoa insegura, como era aos 7 ou aos 17. Mas vai ficando mais fácil lidar com essa insegurança. Aos 27, não tenho certeza sobre quem sou, como não tinha aos 7 ou aos 17. Mas percebo que posso – e devo – ir encontrando e desenvolvendo novos aspectos da minha identidade e abandonando os que não fazem sentido (às vezes a gente repete umas coisas pra si mesmo e se dá conta de que nem são verdade). E aos 27, tenho muitos sonhos, assim como tinha aos 7 ou 17. Mas transformá-los em realidade é muito mais palpável.

Por isso, espero que meus 27 sejam tão ou mais cheios de vida quanto meus 26, ano em que amei tanto que mal coube em mim. E também fiz festa, trabalhei muito, li livros inspiradores, zerei algumas séries, fiz novos amigos, vi meu sobrinho começar a andar, comecei um curso transformador, tomei decisões importantes, mudei de pontos de vista e me mudei pra outro apartamento.

Também tomei muito sol, cerveja e banho de mar em Maracaípe, vi o novo ano nascer no mar vazio e transparente de Ponta de Mangue, voltei mais uma vez ao Rio, vi golfinhos em Pipa e em Natal, superei a agonia de dirigir e explorei as lindezas ao redor de Maceió, passei um finde de boas num hotel 5 estrelas, revi uma amiga superquerida e aproveitei dias ensolarados em Berlim, tomei o melhor café da manhã da vida em Carneiros, acampei por 18 dias com mais de 2 mil pessoas no sul da Alemanha…

E também continuei, como nos anos anteriores, queimando a língua com café, ficando cheia de hematomas sem lembrar por que, levando minha garrafa d’água comigo o tempo todo, morrendo de preguiça nos domingos de manhã, enrolando um cacho de cabelo com o dedo, falando rápido e comendo demais. E sonhando muito, o que nunca é demais.

Que o tempo continue transformando o que for necessário e fazendo permanecer em mim o que me faz feliz. Bem-vinda, idade nova. Que seja doce! :)

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6 Comentários

  1. analice

    Olá, felicidades é tudo isso e mais um pouco disso. Continue aproveitandos os seus prazeres diários, e sonhando – realizando- sonhando…

  2. Daniela

    Olá, tudo bem?
    Encontrei seu blog por acaso e amei as dicas!
    Parabéns pela coragem e desprendimento.

    Beijão

  3. Que lindo teu texto. Felicidades

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