Rio de Janeiro

O que fazer no Centro Histórico de Paraty

Rio de Janeiro | 16/08/17 | Atualizado em 31/01/24 | 18 comentários

Uma cidade colonial mega bem preservada, à beira-mar, repleta de pousadas e restaurantes charmosos, com ruas só pra pedestres e sem o perrengue das ladeiras olindenses ou ouro-pretanas. Pegue isso tudo e acrescente um entorno com praias deslumbrantes, cachoeiras, trilhas e alambiques. Mexa um pouco e então misture um calendário de eventos recheado com programação o ano todo, desde a Flip (maior feira literária do país) ao Festival da Cachaça. O resultado? Paraty, um destino que muito dificilmente não vai te agradar. <3

Durante séculos, Paraty teve uma importância estratégica no Brasil, servindo pra entrada de mercadorias e escravos e pra escoar o ouro vindo de Minas Gerais e o café do Vale do Paraíba. Com o passar do tempo, foram criadas rotas alternativas que reduziram a importância do porto e isolaram Paraty. Assim, a cidade meio que parou no tempo, e por isso podemos hoje curtir ruazinhas que parecem cenário de filme.

Passei duas semanas por lá num work exchange e aproveitei pra conhecer muita coisa nos arredores, mas só o Centro Histórico já seria suficiente pra me apaixonar. Juro que não queria deixar suas expectativas muito altas, mas é difícil controlar a enxurrada de adjetivos quando falo sobre essa lindeza. :) São casinhas brancas com janelas coloridas, luminárias que imitam lamparinas, lojinhas e cafés fofos, barquinhos coloridos no porto, simpáticas ruas pavimentadas por pedras irregulares…

As tais ruas, aliás, são tão charmosas quanto traiçoeiras, mas essa característica que já virou ícone de Paraty é relativamente recente. É que na década de 1950 as pedras originais (que eram niveladas) foram retiradas pra instalação de serviços de esgoto, fornecimento d’água e eletricidade – repare que não tem nenhum fio aparente na cidade, o que contribui pra sua lindeza e pra que ela tente ser declarada patrimônio pela Unesco.

Depois de retiradas, as pedras “sumiram” e foram substituídas por outras aleatórias, jogadas de qualquer jeito. Por isso, é preciso uma certa dose de equilíbrio (e estratégia, eu diria) pra caminhar por lá sem tropeçar e sem parecer um bêbado. Não preciso nem falar que saltos altos são a pior escolha do mundo pra andar por ali, né? O lado bom é que você é praticamente obrigado a deixar a pressa de lado. ;)

centro-historico-paraty13

centro-historico-paraty12-charrete

centro-historico-paraty11

centro-historico-paraty8

Outra característica da cidade é que as ruas são propositadamente curvas e com esquinas difíceis de identificar, porque é tudo branquinho. O recurso foi usado pelos portugueses pra confundir eventuais invasores – que na verdade nunca chegaram, porque as fortificações protegeram direitinho o lugar. Só quem se perde são os turistas mesmo, mas nem se preocupe: você sempre vai se encontrar (ou encontrar algum cantinho fofo pra conhecer).

Procurando hospedagem em Paraty? Clique aqui para comparar preços e reservar os melhores hotéis, pousadas e albergues

Sem falar no curioso fenômeno da invasão das ruas pelo mar na maré alta, que também foi proposital. Nossos colonizadores projetaram as ruas com a parte do meio mais funda, deixando a água entrar e sair, pra lavar a cidade, já que todo o lixo e dejetos eram jogados nas ruas. É engraçado ver as placas de trânsito mostrando onde não é permitido estacionar, sob o risco de ter seu carro “afogado” pela maré (coisa que infelizmente vi acontecer).

Encontrei as ruas cheias d’água um dia quando voltei do passeio de escuna, mas dava pra achar uns caminhos com pedras mais altas pra se equilibrar ou se espremer e chegar do outro lado sem molhar os pés; caso o nível da água suba muito, não entre em pânico: algumas lojas vendem galochas.

paraty-alagada1

paraty-alagada4

paraty-alagada2

O que ver

Além de andar sem rumo pelo centrinho, que é bem compacto, vale prestar atenção a algumas construções. Pra começar – como não podia deixar de ser, numa cidade colonizada pelos portugueses – tem as igrejas. Em Paraty elas são simples, sem aquela vibe ouro-até-não-poder-mais de outras cidades coloniais, mas como não sou fã de ostentação religiosa, pra mim elas ficam mais bonitas assim.

A maior delas é a Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, que nunca foi finalizada porque começou a afundar, haha. Construída na beira do rio, em cima de terreno de mangue, ela ficou pesada demais e pararam a construção. Olhando direitinho pra o “rodapé” dá pra ver que ela é meio inclinada (um lado é diferente do outro).

centro-historico-paraty9-igreja-matriz

Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios

Tem também a igreja de Nossa Senhora das Dores, conhecida como “capelinha”, criada pra ser frequentada por mulheres, e as de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, pra os negros. E a Igreja de Santa Rita de Cássia, construída pra atender aos pardos.

Igreja Nossa Senhora das Dores

Igreja de Santa Rita

Outro destaque é a casa do príncipe, um sobrado que pertence ao Príncipe João Henrique de Orleans e Bragança, tataraneto de D. Pedro I. Ele é dono da Pousada do Príncipe, que fica perto da rodoviária. Em algumas ocasiões durante a alta temporada e eventos como a Flip ele oferece jantares chiques na sua casa, que tem 20 quartos.

Casa do Príncipe

Também vale conferir os ateliês de artistas locais e dar uma passada na Casa da Cultura, que tem entrada gratuita e abriga algumas exposições, eventos e oficinas. Quando fui lá, tava rolando a mostra de um pescador e artista, com quadros bem legais. Também é um bom lugar pra ir ao banheiro e beber água, caso você esteja só passando por ali. :P

Outra “atração” é a Rua do Fogo, que não tem esse nome por causa de nenhum incêndio ou nada do tipo, como você deve estar pensando. Na verdade, o que tinha por lá antigamente era prostituição; um “inferninho”, como se costumava chamar. Hoje, acho essa é uma das mais bonitas da cidade.

centro-historico-paraty16

Teatro de Bonecos

Em atividade desde 1985, o Teatro Espaço é um teatro pequeno no Centro Histórico, que abriga apresentações de teatro de bonecos pra adultos, normalmente às quartas e sábados às 21h. Muita gente me recomendou o espetáculo, que é mudo (podendo, assim, ser frequentado por estrangeiros) e bem bonito e delicado, mas não me conquistou tanto assim.

Por já ter visto umas obras legais de teatro de bonecos num festival no Recife, pelo preço que paguei (R$ 50 em junho de 2017) e por todos os elogios que tinha ouvido, esperava mais. Mas se você não estiver com a grana apertada, vale conferir! Depois me conta o que achou. ;)

Teatro Espaço - Teatro de Bonecos

teatro-bonecos-paraty

Comida e bebida

Como eu tava no modo #viajantelisa (com exceção dessa extravagância com o ingresso do teatro, hehe) não frequentei os badalados restaurantes paratienses. Um dos mais famosos é o Margarida Café, que é uma graça, mas os menus custam quase R$ 50 e não cabiam no meu orçamento. Felizmente, eles têm também uma padaria, onde fazem sanduíches delícia como um de pastrami que comi (por uns R$ 12), aproveitando o ambiente gostosinho (e o wi-fi, hehe). Também comi boas empanadas argentinas numa pizzaria que fica por trás da Igreja Matriz e que tem rodízio de pizza com um preço bem razoável.

Mas é claro que, apesar das limitações financeiras, não deixei de provar algumas cachaças locais, já que a cidade tem forte tradição e muitos alambiques antigos (prioridades, né, gente?). Pra algumas pessoas das antigas, a palavra Paraty é até sinônimo de cachaça; tem, por exemplo, uma música de Carmem Miranda que diz: “em vez de tomar chá com torradas, ele bebeu Parati”.

Uma versão tradicional de lá é a Gabriela, feita com cravo e canela. Até eu, que não sou fã de aguardentes normais, curti a “Gabi”. ;) Mas melhor ainda é o drinque batizado de Jorge Amado, feito com cachaça Gabriela, limão e maracujá e vendido em quase todos os bares e restaurantes da cidade. Tomei em alguns que ficam junto à Praça Matriz, na parte mais badaladinha da cidade, e fiquei desejando ter essa opção nos cardápios do Recife também.

centro-historico-paraty5

centro-historico-paraty2

Se você tiver pouca grana que nem eu, não deixe de ao menos provar alguns doces vendidos nos tabuleiros ambulantes, uns carrinhos que ficam em várias esquinas tentando os passantes com delícias de vários sabores, como limão, chocolate, maracujá, coco e queijadinha. Provei um com queijo bem gostoso, só achei o pedaço grande demais – valeu pelo preço, R$ 6, mas se você não for mega formiguinha pode valer a pena dividir com alguém.

Carrinho de Doces 1

Carrinho de Doces 2

No quesito sobremesa, outra opção com ótima reputação são as trufas recheadas do Bombom da Maga, mas achei os doces com uma cara normalzinha e pedi um alfajor; não foi o melhor da vida, mas tava muito gostoso.

centro-historico-paraty4

Passeios guiados

Pra saber mais sobre tudo isso que falei acima e outras curiosidades sobre a cidade, recomendo muito fazer o free walking tour com o guia Juan José. Já expliquei aqui no blog como funcionam esses tours guiados “gratuitos”, em que você paga no final o quanto achar justo, e desde então já aproveitei esse esquema em dezenas de cidades no Brasil e na Europa. O tour de Juan foi um dos mais legais, porque esse simpático mexicano conta muitas curiosidades interessantes e aponta detalhes que jamais teriam chamado minha atenção.

Ele também é uma pessoa interessante de se conhecer: capoeirista, veio de bicicleta até o Brasil junto com um senhor de 70 anos que desenvolve projetos sociais usando a capoeira em Salvador. Ele termina o tour da tarde, em inglês, com uma aulinha de capoeira – e quem for pra o da manhã, em português, também tá convidado a participar.

walking-tour-paraty2

centro-historico-paraty6

walking-tour-paraty1

Eventos

Vale a pena visitar Paraty o ano inteiro, mas os meses de junho a setembro são especialmente interessantes porque costuma ter menos chuvas e a maioria dos dias é razoavelmente quente, ainda que possam rolar frente frias e à noite chegue a fazer uns 15 graus.

De qualquer forma, não deixe de dar uma olhada no calendário de eventos da cidade, que tem todo tipo de festa. A mais famosa é a Feira Literária Internacional de Paraty, mais conhecida como Flip, que costuma acontecer em julho e reúne reunir grandes personalidades das letras pra palestras e debates muito interessantes.

Eu tive a sorte de estar por lá em junho desse ano durante outro evento muito legal, o Bourbon Festival, que leva pra Praça Matriz e outros palcos menores pela cidade vários shows de jazz, blues e R&B. A cidade ficou cheia de gente nesse fim de semana, e além da programação oficial tinha um monte de artistas de rua muito fodas em cada esquina. Uma delícia!

paraty-bourbon

paraty-bourbon2

centro-historico-paraty3

Também ouvi falar muito bem do Festival da Cachaça, que acontece esse ano agora em agosto, e do Mimo, que começou em Olinda (e eu adoro) e agora rola por lá também; a próxima edição vai ser em outubro. Sem falar nas festas mais tradicionais e religiosas, como a do Divino (que em 2017 foi aconteceu no fim de maio e começo de junho) e a Corpus Christi, que deixa as ruas cheias de tapetes coloridos feitos de serragem e areia.

Contrate seu seguro viagem com desconto na Mondial Assistance
Pesquise e reserve hotéis com os melhores preços no Booking
Alugue um carro nas melhores locadoras com a Rentcars e pague em até 12x
Procure a casa de câmbio com a melhor cotação da sua cidade 

Quando você usa esses links, o blog ganha uma pequena comissão pra se manter vivo e você não paga nada a mais por isso. <3 Saiba mais sobre as políticas de monetização do Janelas Abertas clicando aqui.

Pra conferir muito mais conteúdo sobre viagens todos os dias, siga o Janelas Abertas no Facebook, no Instagram e no Youtube. Espero você lá! :)

Posts Relacionados

18 Comentários

  1. Vanessa

    obrigada pelas dicas

  2. Alexandre

    Muito interessante teu post, bem detalhado e com muitas observações. Parabéns.

  3. Camilla

    Parabens pela resenha super completa, a melhor que achei sobre Paraty :)

    • Que massa saber que as dicas foram úteis, Camilla! Muito obrigada pelo comentário :)

  4. Fátima Veloso Platner cesario

    Gostei muito! Tenho certeza que me ajudará quando for.Obrigada!!!!!

    • Oi, Fátima! Que ótimo, fico feliz que tenha sido útil :) Obrigada pelo comentário. Um abraço!

  5. Wagner Pulzi

    Olá, tudo bem?

    Adorei suas dicas! Viajarei para Paraty na próxima semana e estou procurando por dicas de viagem. O problema é que não tenho muita experiência com viagens em lugares conhecidos como esse. Costumo rotineiramente conhecer as praias e SP e principalmente interior do estado, pois de carro eu me viro muito bem (rs!). Irei com minha família e gostaria de saber por onde começar e como traçar roteiros. Essa sempre foi minha principal dúvida em viagens. Ano passado fizemos nossa primeira viagem de avião para Floripa e adoramos, mas penso que poderíamos ter aproveitado melhor. Por exemplo, acho que um ponto falho foi depender de Uber naquela região. Contudo, como marinheiros de primeira viagem, agora sabemos que o melhor é investir um pouco mais e alugar um carro, talvez. Porém, surge uma outra dúvida: notei em seu artigo que aparentemente não se trata de uma questão de dinheiro, mas de saber aproveitar o passeio de forma inteligente. Assim, gostaria que me indicasse ou desse dicas de como traçar um roteiro ideal. Confesso que tenho até um pouco de inveja de pessoas que conseguem largar o emprego para viver assim. Como pai de família, acredito ser um passo muito maior que a perna fazer isso, então, aproveitamos ao máximo da forma que podemos. E mesmo tendo muita vontade, confessando que sou meticuloso para me organizar (organização essa que se “aprimorou” no meu mestrado), ainda falho muito em organizar roteiros, itinerários, ordem dos passeios e gastos. Se puder me ajudar, ficaria feliz e grato.

    Obrigado e meus parabéns pelo seu blog!

    • Oi, Wagner! Obrigada pelo comentário :) Não acredito em nenhuma “fórmula ideal” pra planejamento de viagens. A questão central é pesquisar bastante mesmo, como você tá fazendo! Em relação a Foz, por exemplo, foi através das minhas pesquisas que descobri que valia mais a pena alugar um carro, como você comentou. Eu sempre leio bastante sobre o destino pra ver que atrações me interessam e quais são as dicas práticas pra ir até lá (se tem alguma época do ano em que não vale a pena ir, ou como se deslocar, por exemplo) e então coloco os lugares no Google Maps pra ter uma ideia da localização e montar o itinerário dia a dia. Nesse processo, tento ir montando uma previsão de gastos com base em valores de entradas pra atrações, alimentação etc., fazendo uma previsão “por alto”. E sempre deixo espaço pra imprevistos e mudanças de ideia, porque fazer tudo muito amarradinho impede a gente de curtir as surpresas da viagem, que geralmente rendem os melhores momentos :) Acho que aproveitar o passeio de forma inteligente, como você mencionou, é tão importante quanto estar aberto pra vivenciar de verdade o lugar que a gente visita. Se quiser uma consultoria específica pra ajudar a se organizar, me manda um e-mail pra [email protected] que a gente conversa sobre esse serviço.

      E sobre largar emprego pra viver viajando: é muito legal, mas muito menos “glamouroso” do que parece pra quem vê de fora, e normalmente bem mais trabalhoso e cheio de perrengue do que pra quem viaja nas férias! Conheço pessoas com filhos que vivem assim, mas nesse caso realmente é preciso um planejamento financeiro maior. Caso seja realmente seu sonho, vale a pena ir atrás, mas acredito que não é o modo de vida ideal pra todo mundo. A rotina também tem suas delícias e dar várias escapadas durante o ano pode ser maravilhoso também :)

      Um abraço e boas viagens!

  6. Fabiola Ferreira

    Olá! Ótimos textos, maravilhosas fotos, parabéns e muito obrigada pelas dicas!

    • Oi, Fabiola! Que massa que você gostou :) Eu que agradeço pelo comentário! Um abraço e boas viagens

  7. Regina

    Muito legal, voce fez tudo muito organizadinho. Ficou joia. E as dicas especias. Paraty é linda. Abraço.

  8. Gaby Alvarez

    Oi, Luísa! Muito completo e útil seu post, obrigada! Porém, tenho uma pergunta: quais atrações vc acha interessantes para crianças? Vou visitar Paraty semana que vem com a minha filha de 10 anos e gostaria saber se pode me dar uma ou duas dicas de atividades, lugares ou passeios que possamos curtir juntas. Obrigada!

  9. Kelly

    Olá!! Adorei as dicas, especialmente a do “free walking tour”. Você ainda tem o contato dele pra me passar?

Deixe o seu comentário