Acampamento Base Everest: como fazer o trekking e dicas práticas
Sonha em fazer a trilha até o Acampamento Base Everest, também conhecida como Everest Base Camp ou simplesmente EBC? Esse trekking no Nepal é considerado um dos mais bonitos do mundo. Como o nome indica, se trata de uma das bases usadas pelos montanhistas que pretendem escalar o Everest.
Considerando a fama da maior montanha do mundo, o trekking até essa base pode parecer algo de outro mundo, possível apenas para pessoas com preparo de atleta. De fato existem alguns desafios, como o frio e a altitude, mas a boa notícia é que a experiência é bem mais acessível do que muitos pensam.
Eu (ainda) não fiz a trilha do Everest Base Camp, mas sempre tive curiosidade sobre o trekking e tenho alguns amigos que o fizeram. Entrevistei um deles, Danniel Oliveira, para escrever este artigo.
Ele já fez o EBC três vezes e tem uma agência, a Viagens de Experiência, que leva brasileiros para lá e para outros destinos muito interessantes, como Egito e Marrocos. Com a ajuda dele, neste texto você vai entender como funciona o trekking até o Acampamento Base do Everest e tirar as principais dúvidas sobre essa viagem.
Ah, vale ressaltar: este não é um post patrocinado e eu nunca usei os serviços da agência, mas já acompanhei muitas viagens de Danniel pelo Instagram e o conheci pessoalmente durante a minha viagem pela Índia. O que conheço do trabalho dele me passa confiança, mas antes de fechar uma viagem com qualquer empresa recomendo que você busque referências de outros viajantes. :)
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Trekking do Acampamento Base Everest na prática
Quando ir? As melhores épocas para fazer o trekking do Everest Base Camp são entre abril e maio e entre outubro e novembro, ou seja, a primavera e o outono. É possível ir em outras épocas, mas não é recomendável porque pode não ser tão seguro (especialmente no inverno) e você vai encontrar menos estrutura.
Como fazer o trekking? É possível ir sozinho de forma independente, contratar um guia (e opcionalmente um porter, profissional que carrega sua bagagem) só pra você ou se juntar a um grupo de uma agência, seja ela brasileira, nepalesa ou de outro país.
Para quem não tem experiência em trilhas longas ou com altitude, acredito que o ideal é ir com uma agência que tenha boas recomendações. Assim, você tem a segurança de contar com pessoas experientes que podem tomar as providências necessárias caso qualquer coisa dê errado. Além disso, deve ser bem cansativo ter que se preocupar com a logística no meio de uma experiência tão intensa, física e mentalmente. E pela minha experiência fazendo trilhas em grupo, seja com amigos ou pessoas que eu não conhecia antes, as trocas e o apoio mútuo são algumas das melhores partes da vivência.
Preciso tirar visto? O visto é necessário para viajantes brasileiros, mas ele é obtido na chegada no Nepal, na capital Kathmandu. Atualmente o valor é de cerca de 40 USD para 30 dias.
Que idioma que se fala lá? A língua oficial do Nepal é o Nepali ou Nepalês, sendo a primeira língua de aproximadamente metade da população, além de diversos outros idiomas regionais. A língua inglesa também é falada nas cidades maiores, que contam com maior número de atrações turísticas.
Qual a moeda local? A moeda local é a Rúpia Nepalesa (NPR). A troca da moeda brasileira para a moeda local não é feita nas casas de câmbio do país, sendo necessário fazer a troca, primeiramente, em dólar ou euro. Isso pode ser feito diretamente no aeroporto ou em outras casas de câmbio, fáceis de achar nas cidades maiores. Caixas eletrônicos (ATMs) podem ser encontrados com maior facilidade nos maiores centros, como Kathmandu e Pokhara, e cartões de crédito são aceitos em lojas grandes e alguns restaurantes.
Trekking do Acampamento Base Everest: tirando dúvidas com Danniel Oliveira
Como comentei, Danniel já fez o trekking do Acampamento Base Everest três vezes. As duas primeiras foram antes de eu entrevistá-lo, a terceira está acontecendo enquanto escrevo este post e ainda devem rolar mais duas este ano. Sua primeira experiência nessa trilha foi em 2019, quando fez o percurso em 12 dias, e depois ele refez o trekking por outra rota mais desafiadora, em 15 dias.
Pra quem pensa que é preciso um preparo físico extremo, Danniel diz que não é bem assim, mas é importante estar ativo fisicamente. “Esse trekking é dividido por dias de longas caminhadas. Não tem trechos de escalada e a dificuldade técnica é baixa, mas é preciso estar com o corpo preparado para um desgaste diário andando”.
Vamos às dúvidas? No texto a seguir, as perguntas são minhas e as respostas dele. Obrigada pela atenção, Danni!
Como se chega no Acampamento Base do Everest?
Voamos de Kathmandu (capital do Nepal) para Lukla e de lá fazemos uma caminhada de 8 dias até o campo base do Everest e depois 3 dias descendo, e no dia seguinte, voltamos para Kathmandu, totalizando 12 dias.
Quais é a rota mais tradicional?
A rota mais tradicional tem 12 dias e é a que oferecemos na agência. Nela, andamos em média 130 km ao todo. Normalmente começamos a caminhada após o café da manhã, entre 8h30 e 9h, e concluímos por volta das 16h. Outra rota cuja procura tem crescido bastante é a chamada de Lagos de Gokyo, que tem 15 dias de duração e é bem mais intensa.
Olha só o roteiro da próxima viagem ao Acampamento Base do Everest com a agência Viagens de Experiência, para você ter uma ideia de como funciona o dia a dia:
- Dias 1 e 2: Passear por Kathmandu
- Dia 3: Kathmandu > Lukla > Phakding – Voo de Kathmandu para o aeroporto de Lukla (2.840 metros), nos Himalaias. Lá, os viajantes encontram os porters, profissionais que levam parte da bagagem, e alinham o planejamento. Começam, então, a caminhada de 9 km rumo a Phakding (2.610 metros), em cerca de 5 horas.
- Dia 4: Phakding > Namche Bazar – Caminhada passando pela floresta de Rhododendron, cruzando montanhas e vales, até chegar em Namche Bazar (3.440 metros), o maior vilarejo do percurso. São 12 km de caminhada em cerca de 8 horas.
- Dia 5: Aclimatação em Namche Bazar – Dia no vilarejo e subida a uma montanha a 4.000 metros, que fica nos arredores da vila, para adaptar o corpo à nova altitude.
- Dia 6: Namche Bazar > Tengboche – Caminhada até o vilarejo de Tengboche (3.860 metros), conhecido por um famoso mosteiro onde monges fazem celebrações quase todos os dias. O percurso de 12 km costuma ser feito em cerca de 8 horas.
- Dia 7: Tengboche > Dingboche – Caminhada de 12 km, também em cerca de 8 horas, até o vilarejo de Dingboche (4.410 metros), avistando a montanha Ama Dablan durante todo o percurso.
- Dia 8: Aclimatação em Dingboche – Subida a uma montanha de quase 5.000 metros de altitude e tarde livre para explorar o vilarejo.
- Dia 9: Dingboche > Lobuche – Subida até o vilarejo de Lobuche (4.910 metros): 12 km em cerca de 7 horas.
- Dia 10: Lobuche > Gorak Shep > Campo Base – Caminhada de 3 horas até Gorak Shep (5.140 metros) para almoçar e guardar as malas na acomodação, começando à tarde o percurso até o Acampamento Base do Everest (5.346 metros). Depois de celebrar a chegada ao objetivo, o grupo volta a Gorak Shep para passar a noite.
- Dia 11: Gorak Shep > Kala Patthar > Periche – Nesse dia é possível subir a montanha Kala Patthar. Para isso, é preciso acordar às 4h da manhã e subir até 5.550 metros, o ponto mais alto da viagem, de onde se pode ver o Everest de frente e com o sol nascendo. Depois, os viajantes voltam à acomodação, tomam café da manhã e começam o percurso de volta, dormindo em Periche (4.240 metros). São 13 km em aproximadamente 8 horas.
- Dia 12: Periche > Namche Bazar – Penúltimo dia de caminhada nas montanhas, descendo de Periche até Namche Bazar. São 22 km em cerca de 9 horas.
- Dia 13: Namche Bazar > Lukla – Caminhada de cerca de 8 horas até Lukla, última parada nas montanhas, totalizando aproximadamente 18 km.
- Dia 14: Lukla > Kathmandu – Voo de Lukla para Kathmandu e dia livre na cidade (a agência costuma incluir mais dois dias em Kathmandu no pacote)
Como lidar com o mal de altitude?
Bebemos muita água e temos algumas paradas para aclimatação. Algumas pessoas tomam um remédio chamado Diamox. E temos dois guias de montanha que acompanham o grupo e são treinados para entender o que estamos sentindo e como reagir caso seja uma urgência.
Como são as paisagens no caminho até o Everest Base Camp?
Incríveis! Andar por essa parte dos himalaias é sensacional. O trekking ao campo base do Everest é considerado por muitos uma das caminhadas mais bonitas do mundo. Picos nevados, rios, as pontes e os vilarejos locais com seus moradores fazem das paisagens algo difícil de esquecer.
Existe interação com os moradores da região?
Sim. Dormimos no que é chamado de Lodge ou Tea house, que basicamente são as casas dos moradores locais que são adaptadas para receber os turistas. Temos um contato muito próximo e diário com moradores e suas famílias.
Como costuma ser a a estrutura dos lodges?
Dormimos em quartos duplos, normalmente com duas camas de solteiro. Não tem calefação dentro dos quartos, mas eles sempre deixam um edredom disponível para cada pessoa. As acomodações têm um refeitório onde deixam uma lareira acesa do fim da tarde até umas 19h ou 20h. Por volta das 20h elas são desligadas e cada um vai para o seu quarto, para dormir cedo, acordar cedo e começar a caminhada do dia seguinte.
Como é a questão dos banhos e da alimentação?
Sempre tem banho disponível nas acomodações. Normalmente é pago, vai de R$ 25 a R$ 40 por banho. Às vezes temos acesso a um chuveiro, às vezes usamos um balde com água quente.
Na estrutura que minha agência oferece, café da manhã, almoço e jantar estão inclusos, então comemos super bem durante todos os dias do trekking do EBC. O cardápio vai de comida local nepalesa a pizza, comida chinesa, hambúrguer, sopas… É bem variado!
E acesso a eletricidade e internet?
Sempre tem lâmpadas nos quartos, mas caso precise recarregar o celular ou câmera é preciso pagar. Os preços vão de R$ 25 a R$ 40 por carga.
Em Kathmandu, antes do início do trekking, você pode adquirir um chip de uma das operadoras locais e utilizar pacotes de dados. A mais famosa do país é a Ncell, que cobre grande parte do Nepal. Com 50 NPR (equivalente a US$0,41) já é possível carregar o seu celular e, para isso, você só precisa levar o seu passaporte para fazer o cadastro nas operadoras.
Até o quarto dia na trilha você consegue utilizar esse chip de telefone e tem 4g ou 3g. Depois disso, você precisa comprar um acesso a Wi-fi, que custa US$ 20 e pode ser usado em todos os lugares em que estiver disponível, o que costuma ser indicado por placas.
O que você acha mais desafiador no trekking do EBC?
Lidar com a altitude, o frio e o cansaço físico. Tudo isso junto te coloca num teste diário, principalmente nos dias 7 e 8, já acima de 5 mil metros.
E o mais gratificante?
A jornada toda em si é muito incrível. As paisagens incríveis, o contato com a natureza e cultura nepalesa, entender mais do nosso corpo, tudo isso te faz crescer muito. O contato com os participantes do grupo também é muito legal. Saímos da viagem com uma nova família!
Como é a questão dos porters?
Eles são os carregadores, que levam a maior parte da bagagem dos viajantes, e se tornam nossos amigos e apoiadores durante toda a viagem. São fundamentais para que nossa experiência fique mais tranquila. Essa função faz parte da cultura de trabalho da região dos Himalaias.
Dá para alugar ou comprar todas as roupas e acessórios em Kathmandu?
Hoje minha agencia auxilia os participantes com tudo que precisam levar. São 61 itens que precisam ser comprados ou alugados. Algumas coisas precisam ser compradas antes da viagem, como por exemplo a bota. Você precisa já ter utilizado ela antes, para evitar dores e bolhas. Mas, sim, hoje é possível conseguir tudo em Kathmandu. Lá existem lojas com produtos em diferentes faixas de preço.
Quanto custa fazer o trekking do Acampamento Base Everest pela agência Viagens de Experiência?
Hoje nossos tours começam a partir de USD 3.500 por pessoa. Esse valor inclui:
- Transfer de ida e vota do aeroporto pro hotel;
- Voo interno ida e volta de Kathmandu para Lukla;
- Hotel 5 estrelas em Kathmandu, 2 dias antes e 2 dias depois do trekking;
- Acomodações na montanha;
- Café da manhã, almoço e jantar nas montanhas;
- Guia credenciado pelo governo durante os passeios em Kathmandu;
- 2 guias de montanhas;
- Porter, profissional que ajuda a carregar as malas durante os dias de caminhada na montanha;
- Todos os transportes internos referente aos tours;
- Todos os documentos, permissões e taxas necessárias para visitar a região do Everest;
- Todas as taxas necessárias a serem pagas ao governo nepalês.
E aí, se animou para fazer o trekking do Acampamento Base do Everest? Conta aí nos comentários!
Crédito das fotos que ilustram o post: Unsplash (Creative Commons/Direitos de uso liberados) e Danniel Oliveira (cedidas para publicação no Janelas Abertas)
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4 Comentários
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Nossa, adorei a materia. Quero muito ir e com certeza vou procurar pela
Agência que recomendou . Obrigada
Que bom que gostou, Patrícia! :) Boas viagens!
Gostaria de obter mais detalhes da viagem,mas é um sonho pode ir a essa viagem e contemplar todos os mistérios das montanhas e desfrutar de momentos inesquecíveis.
Neste Trekking, qual a média geral de idade; e qual foi a maior idade que você já registrou?