Nepal

Annapurna Base Camp por conta própria: tudo sobre a trilha no Nepal

Nepal | 08/05/20 | 7 comentários

A primeira vez em que ouvi falar no Annapurna Base Camp, trilha deslumbrante no Nepal, foi através de Bárbara Cady, mais conhecida como Babi. Essa mulher inspiradora estava no seu período sabático, que durou 4 anos, quando resolveu fazer a trilha por conta própria. Os relatos dela me deixaram cheia de vontade de conhecer esse trekking, e a convidei pra compartilhar aqui todas as dicas para que você possa fazer o mesmo.

O que é o Annapurna Base Camp?

Vamos começar do início, né? O Annapurna é a décima montanha mais alta do mundo e fica no Nepal, mais especificamente na cordilheira do Himalaia. Ela foi a primeira montanha com mais de 8.000 metros de altitude a ser escalada, em 1950. 

Nos anos 1970, foi aberto para estrangeiros o Circuito do Annapurna, uma rota de 200 km que dura pouco mais de 20 dias. Mas o percurso mais popular por lá é a trilha até o Campo Base do Annapurna, ou Base Camp ou ABC – Annapurna Base Camp.

Mais curta e lindíssima, ela é de nível considerado moderado e passa por diferentes paisagens e vilarejos. A trilha tem como ponto de partida a charmosa cidade de Pokhara, localizada às margens de um lago, é de lá que sai o ônibus até um dos vilarejos onde você pode começar a caminhada.

A época ideal para fazer a trilha do Annapurna Base Camp é no outono (outubro e novembro) ou então na primavera (março e abril). Nesses períodos, as temperaturas não costumam ser tão baixas e a visibilidade geralmente é boa. 

Babi Cady, que compartilha sua experiência a seguir, fez a trilha até Poon Hill e depois até o Annapurna Base Camp (ABC) em 9 dias, entre 1 e 9 de Maio de 2019. A seguir, você encontra todas as dicas dela pra quem também quer fazer o trekking do ABC – seja por conta própria, como ela fez, ou com um guia local.

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babi analisando o mapa da trilha do annapurna base camp

Roteiro de Babi Cady no Annapurna Base Camp

1 – Pokhara Birethanti – Ulleri
2 – Ulleri – Ghorepani
3 – Ghorepani – PoonHill – Tadapani
4 – Tadapani – Chhomrong
5 – Chhomrong – Dovan
6 – Dovan – MBC
7 – MBC – ABC – Bamboo
8 – Bamboo – Chhomrong
9 – Chhomrong – Jhinu (hot spring) – Siwa Pokhara

Eu não dormi no Annapurna Base Camp pois estava fechado devido a uma avalanche que tinha acontecido alguns meses antes. Se estiver aberto, sugiro que você se organize para dormir lá. 

Diferentes circuitos

Existem trilhas diferentes nessa região, sendo que as mais conhecidas são o Annapurna Circuit e o Annapurna Base Camp. O Circuit leva em média 20 dias, é mais complexo e vai mais alto. É uma trilha mais longa e você passa muito mais frio. Por isso, escolhi o Annapurna Base Camp, que tem outra rota, com altitude mais baixa, menor e menos fria.

Escolhi começar pelo PoonHill, uma trilha que leva no máximo três dias, porque não sabia se ia ter disposição pra completar o percurso até o ABC. Pensei assim: faço primeiro o Poonhill, que é uma trilha bem legal e chega num lugar lindo, se eu estiver muito cansada, volto. Se perceber que tenho fôlego pra ir até o Annapurna Base Camp, continuo e termino tudo em 9 dias.

Algumas pessoas fazem só o Annapurna Base Camp sem o Poonhill, em uns 6 dias. Também dá pra fazer mais rápido, porque tem gente que vai “correndo”, mas não é minha pegada. É comum fazer só o Annapurna Base Camp, só o Poonhill ou o Circuit, depende do seu preparo e de quanto tempo você tem disponível.

babi a caminho do annapurna base camp

Sobre fazer a trilha sozinha

Resolvi fazer o trekking do Annapurna Base Camp sozinha, sem guia e sem a companhia de outro viajante, porque queria me conectar comigo mesma. Queria ter aquela experiência na montanha. 

Queria fazer o percurso no meu tempo, sem a pressão de ninguém. Não queria ser influenciada por outra pessoa e sabia que uma companhia que eu não conhecesse podia acabar não sendo uma boa opção. E sabia também que não ia ficar sozinha, porque todos que tinham ido me falaram que conheciam pessoas durante o caminho. 

Vale ressaltar que eu tinha na época um telefone via satélite chamado InReach, então todo dia eu o usava pra enviar pra minha mãe as coordenadas de onde estava, embora em quase todos os lugares houvesse Wi-fi eu escolhi não usar. E ressalto também que, apesar da minha escolha, não é recomendável fazer trilhas sozinhx, por questões de segurança. 

babi cady e amigas na trilha

Inseguranças antes da trilha

Alguns fatores me deixaram insegura antes de fazer a trilha do Annapurna Base Camp. Primeiro porque eu não tinha uma bota de trekking apropriada, tentei comprar antes quando estava na Índia mas não achei, então contrariando as recomendações eu comprei uma nova 10 dias antes de começar. 

Além disso, nunca tinha feito uma trilha de mais de um dia sozinha, e havia a questão da altitude. Já havia feito uma trilha longa de 4 dias mas não estava sozinha e não tinha a questão da altitude.

Mas minha maior insegurança foi porque tinha acontecido uma avalanche uns meses antes que fechou o Campo Base do Annapurna e uma parte perto do Campo Base tinha muita neve, então existia um risco. 

Muitas pessoas diziam que seria necessário usar crampon, equipamento que você coloca na bota para travar na neve ou gelo, e eu estava insegura de usar pois nunca tinha nem ouvido falar. Não sabia se só a bota seria suficiente. Eu tinha medo do frio, medo de ter problemas no meu joelho e medo de que houvesse outra avalanche. Vale ressaltar que ninguém morreu na avalanche; todos foram retirados a tempo, porque eles conseguem monitorar a montanha.

Trecho de cartão postal para mim mesma escrito no dia 30/04, antes da trilha:

(Dois búfalos acabam de passar seguidos por um senhor com o chapéu típico)

Sim, você está com medo de fazer a trilha e tá tudo bem, é normal ter medo do desconhecido. É normal quando estamos sozinhxs sentir mais medo. Você não está acostumada a fazer tantas trilhas, muito menos longa e é por isso que dá medo. Tá tudo bem. Você analisa tudo com cuidado, com atenção, você avalia os riscos, você se informa, você corre atrás, você não é irresponsável e por isso que às vezes é tão difícil tomar algumas decisões.

Você se conhece tão bem que sabe quando é preciso parar, analisar, descansar e rever os planos. Às vezes o plano precisa ser refeito, repensado ou até cancelado. Às vezes aquele sonho era tão antigo que você já mudou tanto que o sonho não se encaixa mais. Não é esse o caso dessa trilha.

 Você gosta de estar nas montanhas, você sabe que a recompensa vai ser tão incrível que todas as dúvidas, todos os questionamentos vão se transformar em beleza diante dos seus olhos. Novos desafios surgirão e novas reflexões também ocuparão sua cabeça. Que bom, né? Fica bem, Babi Cady.

“Uma vida não questionada não merece ser vivida.”

Don’t be to hard with yourself! Be kind with yourself.

Contratando porter e/ou guia

Encontrei mais pessoas fazendo a trilha sozinhas, inclusive mulheres, mas a maioria tinha porter (carregador de bagagem) e/ou guia. Geralmente o porter vai mais na frente e o guia vai junto com o grupo. Contratando um guia e/ou um porter você ajuda diretamente a economia local e famílias que têm o turismo como principal fonte de renda.

Costumam contratar em Pokhara, que é a cidade base pra começar essa trilha e onde você pode tirar a permissão para fazer a trilha. Se eu não me engano, um guia custa uns 25 USD a 30 USD por dia, e espera-se que você dê uma gorjeta no final.

Se você vai fazer a trilha sozinhx, não julgue quem vai com guia e porter, até porque eles estão ajudando mais a economia local do que você que vai sozinhx. Se você for fazer com guia, não julgue quem vai sem, às vezes a pessoa não tinha o dinheiro para pagar, como foi o meu caso. 

E se resolver contratar um Porter, seja responsável e consciente: dê o mínimo de peso possível para ele carregar. Infelizmente muitas pessoas abusam deste serviço e é comum cruzar com porters ou guias carregando mochilas enormes dos clientes.

Não é porque você está pagando que você vai fazer carregá-lo coisas que você não levaria. Um peso que acho razoável para um Porter carregar seria 15kg para duas pessoas. Esse peso é baseado no que um casal de amigos deu para o porter/guia carregar e também no peso que um amigo levou durante a trilha. 

Lembrando que o porter leva a mochila diretamente para o alojamento que você vai dormir e você vai caminhar com uma outra mochila menor onde você levará itens básicos como água, comidinhas para o caminho, casaco e outros itens.

Eu não tinha onde pesar minha mochila, mas acredito que não levei mais de 6 quilos. Deixei meu mochilão no hotel em Pokhara e fui só com uma mochila pequena. Mais adiante, vou listar tudo que levei na mochilinha.

trilha do annapurna base camp

Como chegar no início da trilha e voltar no final

Para começar a trilha, peguei um ônibus de Pokhara até uma vila chamada Birethanti. Em Pokhara, paguei 400 rúpias do hotel até o “terminal” de ônibus e a passagem custou 200 rúpias. 

O ônibus saía todos os dias às 8h e recomenda-se chegar no local 20 ou 30 minutos antes. O ônibus fará diferentes paradas, recomendo descer em Birethanti; não desça em Nayapul, porque depois você vai ter que andar uns 45 minutos ao lado de carros e ônibus em uma estrada não tão interessante. 

No final da trilha, caminhe até Siwai. Para voltar pra Pokhara você pode pegar o ônibus local, que custa 300/400 rúpias, mas escolhi pegar um Jeep compartilhado. Dividi com mais duas pessoas que conheci ali mesmo e cada um pagou 1.000 rúpias,ao longo do caminho ele pegou outras pessoas; no final éramos sete.

O Jeep inteiro custava entre 6.000 e 7.000 rúpias. É mais confortável e mais rápido que o ônibus e ele te deixa bem perto da parte turística de Pokhara. Andei cinco minutos até o meu hotel. De ônibus, teria que pegar mais um táxi que custaria 300/400 rúpias.

Permissões para fazer a trilha

Você vai precisar tirar duas permissões para fazer qualquer caminhada que seja na área de conservação do Annapurna. Para o Annapurna Base Camp paguei 5.000 rúpias nepalesas. Tire as duas permissões em Pokhara, porque é mais barato que em Birethanti, por exemplo. 

Vá até o ACAP levando seu passaporte, os dados do seu seguro de saúde e tenha já em mente o roteiro a ser percorrido, eu não tinha certeza e coloquei o mesmo roteiro que um amigo meu, se quiser, copie o meu. 

Você não vai precisar seguir exatamente aquele roteiro, mas eles precisam saber para a sua segurança e para o controle. Você deverá informar o local de início e fim da caminhada, onde você deverá registrar-se no Check Point. É lá que eles irão carimbar a sua permissão e irão registar no sistema a sua entrada e saída. 

Se você tiver tempo sobrando, sugiro colocar uns dias a mais, caso escolha ficar uns dias extras em alguns dos vilarejos, o que eu realmente sugiro. Você precisará de quatro fotos pra fazer as permissões, mas lá mesmo no ACAP eles tiram sem custo. Capriche no sorriso, fica uma bela lembrança da viagem pra o futuro! :)

permit do nepal tourism board

Preparo físico e mental para o Campo Base do Annapurna

Antes de fazer a trilha do Annapurna Base Camp, eu tinha o preparo físico de uma mochileira que carrega mochila pra cima e pra baixo e anda muito. Tinha passado um tempo praticando mergulho na Tailândia, mas logo antes do Annapurna estava viajando de carro na Índia com minha mãe e só vinha fazendo trilhas eventuais de um dia. 

Meu preparo mental, que acho ainda mais importante, estava muito bom. Pouco tempo antes, eu não tinha certeza se ia fazer a trilha porque estava muito cansada. Tinha acabado de ter uma decepção amorosa e aquilo me deu uma baqueada, eu não estava na minha melhor fase e estava muito cansada depois de passar 4 meses na Índia.

Mas quando cheguei no Nepal eu fui me preparando, descansei, aceitei aquele momento de dor, acolhi aquele sentimento e depois fui me energizando, conversando com pessoas, analisando o mapa, vendo roteiros, até que me senti preparada mentalmente para fazer.

 Eu também tinha feito o retiro Vipassana uns 3 meses antes,  ele me preparou muito para aquele momento, para estar sozinha, para perceber o meu corpo e para desfrutar aquela experiência da melhor maneira.

Hospedagem durante a trilha

Durante a trilha do Annapurna Base Camp existem várias hospedagens simples, mas confortáveis. Você pode só chegar e ver se têm vagas, e era isso que eu fazia. No entanto, é possível que você chegue e não tenha lugar pra você, vi acontecer com algumas pessoas.

Nesse caso, é preciso andar até outra hospedagem, que às vezes ficam a uma, duas ou três horas de distância, e você não tem garantia de que a próxima não vai estar cheia também. Se você vai com guia, você não precisa se preocupar, ele organiza sua acomodação e tudo mais. Se não está com guia, pode pedir para o pessoal da acomodação em que você está já reservar outra no próximo vilarejo que você escolher parar.

Conheci duas mulheres no caminho e caminhávamos “juntas”, ou seja, seguíamos cada uma no seu ritmo e combinávamos a vila onde íamos nos encontrar novamente. E aí, quem chegasse primeiro guardava para as três. 

Um dia dividimos quarto com mais dois homens pois não tinha um quarto só para eles e nós tínhamos duas camas sobrando no nosso quarto. Em outro momento dividimos quarto com um outro casal, pois eles também não conseguiram um quarto só para eles e nós também oferecemos as camas que estavam sobrando no nosso quarto.  Todos se ajudam como podem e é lindo ver isso.

Nos primeiros dias da trilha você consegue se hospedar sem pagar, desde que coma pelo menos duas refeições na hospedagem, como o jantar e café da manhã. A partir de Chomrong, tive que pagar pra me hospedar, e o custo era 200 rúpias por pessoa, dependendo do lugar. 

hospedagem na trilha do campo base do annapurna

A partir de Chomrong, não espere lençóis limpinhos e nem quarto privado caso esteja viajando sozinhx. Todos os alojamentos vão providenciar cobertores e em alguns você pode conseguir mais de um; vai depender de quantas pessoas estejam hospedadas. 

Todas as noites usei somente um cobertor e foi suficiente pra me manter quente durante a noite, mas algumas pessoas sentiram frio. Se você for friorento, capriche na roupa térmica e traga um saco de dormir quentinho. 

Você pode alugar em Pokhara caso não tenha um. Aliás, você pode alugar tudo o que precisar em Pokhara ou Kathmandu. Sugiro fazer isso em Pokhara, que é basicamente o ponto de partida para essa trilha.

restaurante e hospedaria na trilha do annapurna

Todas as hospedagens onde fiquei tinham banheiro com chuveiro. Alguns compartilhados, outros dentro do quarto e outros fora da hospedagem. Sempre tinha água quente. Alguns banhos tive que pagar, outros estavam incluídos na diária do quarto. 

Falando nisso, certifique-se do que está incluído quando estiver negociando. Em alguns lugares é preciso pagar para recarregar o celular, por exemplo.

Leve dinheiro (rúpias Nepalesas) para todo o trajeto. Sugiro levar pelo menos 30 USD por dia. Eu gastei menos de 20 USD por dia, mas não usei Wi-Fi, não bebi cerveja e nem comprei chocolate (que são os itens mais caros). 

hospedagem na trilha do annapurna base camp

Temperatura durante a trilha

Não sei exatamente qual foi a variação de temperatura que peguei durante a trilha do Annaturna Base Camp em Maio, mas diria que a mais baixa foi uns -5ºC no dia em que fui até o Campo Base, pois subimos de madrugada pra ver o nascer do sol. Não sei qual foi a temperatura máxima, mas em alguns momentos fiquei só de camiseta de manga curta, porque fazia calor.

babi posando durante a trilha

Média de horas caminhadas por dia

A quantidade de horas caminhadas por dia na trilha do Campo Base do Annapurna varia muito de acordo com o ritmo de cada um, mas a minha média foi umas seis horas, ou cerca de 12 Km. Eu não estava com pressa e fazia paradas para apreciar o visual e o caminho. O meu foco não era chegar, mas sim desfrutar o momento presente.

Mal de altitude no Annapurna Base Camp

Nesse percurso, a altitude máxima que peguei foi 4,139 metros. Tive mal de altitude, mas não foi grave; tanto que na hora nem me dei conta que era isso. Tive dor de cabeça, dormi mal, mas não cheguei a vomitar ou passar mal, é preciso tomar cuidado e se informar de todos os sintomas do mal da altitude e do que você deve fazer caso esteja passando mal. Quando tirar a permissão para a caminhada você receberá alguns panfletos informativos, leia todos, as informações são realmente úteis e importantes.

Uma americana que conheci no caminho e que estava sozinha teve bastante mal de altitude e não conseguiu chegar até o final da trilha. Ela chegou até o MBC, o ponto anterior até ao Campo Base, a duas horas de distância, mas não pôde prosseguir porque o risco era alto. Ela vomitou muito e teve muitas dores no corpo e na cabeça. Eu e outras pessoas que estávamos com ela a ajudamos. 

É importante entender o limite do seu corpo e respeitar, entender que não temos controle. Conversamos muito sobre  o que aconteceu e foi a maior lição da trilha dela: não devemos ir contra a montanha e contra a natureza. Devemos respeitar todos os sinais.

Dificuldade técnica e sinalização

No geral eu diria que não existe dificuldade técnica na trilha do Base Camp do Annapurna, mas depende da época. Como eu fui depois de uma avalanche que fechou a trilha por alguns meses, em muitas partes você tinha que atravessar a neve e era mais arriscado. O ideal era usar crampon, mas eu conversei com algumas pessoas que disseram que não tinham usado e resolvi não usar. 

Mas fora isso, era muito tranquilo. Tinha muita escada de pedra e o caminho era bem demarcado. Para pessoas que têm medo de altura, atravessar algumas pontes pode ser desafiador.

As trilhas eram bem demarcadas e tinham sinalização. Eu tinha acesso ao mapa no aplicativo Maps.Me (faça o download antes de começar a trilha) mas precisei recorrer a ele pouquíssimas vezes. O percurso era bem intuitivo e muitas vezes não tem como errar, porque você já vê o caminho de longe.  

Além disso, sempre tinha gente passando, pra quem eu podia pedir informação se necessário ou simplesmente segui-los pois quase todos iam na mesma direção. Foram poucas as vezes em que não tinha ninguém na minha frente ou atrás no meu campo de visão. 

É uma trilha turística e com uma estrutura boa, difícil errar, mas não deixe de usar o mapa, no celular ou mesmo o de papel (que fica uma excelente recordação para o futuro).

trilha do annapurna base camp

sinalização na trilha

Diferentes paisagens

Conforme você vai chegando mais perto do Annapurna as montanhas vão ficando maiores. No percurso, você passa por diversos tipos de vegetação, vai andando ao lado de rios e passa por muitos pássaros e flores. Tem uns caminhos mais fechados e com muito verde e outras partes com neve. É tudo muito lindo!

Na trilha também você passa por vilas e casas em vários momentos. Às vezes tem várias casas de moradores, em outras só a hospedagem e a casa de quem cuida daquele lugar. Durante o caminho, é difícil você ficar três horas sem passar por nenhuma casa.

Curtindo as paradas

Durante a trilha, eu saía cedo e chegava cedo até o ponto seguinte. Se não estivesse muito cansada, dava uma volta no vilarejo, conversava com o pessoal hospedado por lá, assistia a filmes que tinha baixado no celular e sempre escrevia no meu caderno, excelente companheiro de trilha, super recomendo. 

Tinha gente que aproveitava e ficava bebendo cerveja, mas eu não bebi nada porque era caro pra caramba e também porque eu queria me conectar comigo mesma e tinha medo de passar mal por causa da altitude.

Uma coisa que gostaria de ter feito, mas não fiz porque estava com pouco tempo, foi ficar uns dois ou três dias em alguma cidade no meio da montanha. Tenho vontade de voltar pra lá e fazer isso, pra curtir mais ainda. Se você puder, faça isso, vai ser incrível!

Ah, também tomei banho numa pequena cachoeira no caminho, foi uma delícia para quebrar o cansaço do caminho e para energizar com as águas dos Himalaias. Dá pra curtir bastante se você estiver num ritmo tranquilo, sem pressa.

babi em uma das pausas na trilha

Sobre o ritmo de caminhada

Lembre-se que não é uma competição! Cada um tem um ritmo, história, limites e mais um monte de coisas diferente. Ouça o seu corpo e não se compare com ninguém. Vá com calma e se tiver com alguém que vai mais rápido combine um lugar para se encontrarem ou se separe.

Recomendo fazer tudo com calma, sem pressa e com presença. Quando for beber água, pare e beba água. Quando for comer, pare e coma. Mesmo que seja só uma barrinha de cereal e que você possa fazer as duas coisas ao mesmo tempo, não faça. Pare e escute os pássaros. Pare e observe a natureza. Vá no seu ritmo!

Sugiro também não ouvir música. Esteja totalmente presente na sua caminhada, observe seu corpo, sua respiração, seus músculos, dores e o que mais aparecer. É importante conectar-se consigo mesmo. Ouço o silêncio que vem de dentro, que pode ser bem alto.

Lembre-se que você não é melhor que alguém só porque resolveu fazer uma caminhada mais longa. Esse é o seu caminho. Ao mesmo tempo, quem resolveu fazer uma trilha mais difícil que o Annapurna também não é melhor que você. Não se compare!

Trecho do diário de viagem no sétimo dia de trilha do Annapurna Base Camp: “Por que eu estava descendo a montanha correndo? Por que estava com pressa? Eu não tinha pressa, eu demorei 7 dias pra chegar até ali e em duas horas já estava indo embora? No lugar mais incrível daquela montanha? No lugar que as pessoas pagam sei lá quanto para chegarem de helicóptero? Por que eu já estava indo embora? (…)

Fui pra pedra, deixei garrafa e bastões no chão, me acomodei na posição de flor de lótus, coloquei as mãos na frente e comecei a meditar. Agradeci cada partezinha do meu corpo, da cabeça aos pés, todos os órgãos, músculos, tecidos, sentidos, ossos, tudo que me trouxe até o aquele momento, até aquela montanha incrível. 

Acabei de meditar e deitei pra apreciar a paisagem, ficava tonta com tanta beleza sem saber pra onde olhar, se olhava pro Annapurna ou pras outras montanhas, era incrível estar ali. Observei a vegetação, o barulho da água que passava, os poucos pássaros que cantavam e um que comia. Não sei quanto tempo passei naquela pedra, fui adiando minha volta ao máximo. Acho que fiquei uma hora, mas essa questão do tempo é muito relativa”.

trilha do annapurna base camp

Turismo consciente no Annapurna Base Camp

É importante ler todas as recomendações dos panfletos que você receber, porque elas são muito úteis. Reitero aqui as mais importantes pra mim:

– Traga de volta todo o lixo que você gerou ao longo da trilha. Se possível, também cate lixo ao longo do seu caminho e fale sobre isso com as pessoas que encontrar. Nada como dar o exemplo e criar consciência! Na hora de consumir, também é interessante priorizar produtos com pouca ou nenhuma embalagem. Temos um impacto grande estando ali e é essencial minimizá-lo.

 – Não dê nada para as crianças que encontrar pelo caminho: nem chocolates, nem canetas, muito menos dinheiro! Se quiser dar alguma coisa, dê aos pais. Ou dê seu tempo: brinque, faça cosquinha etc. 

– Evite negociar! Os preços são mais ou menos tabelados e dá muito trabalho levar as coisas para o meio da montanha. Lembre-se: eles não vão ficar ricos com o que você comprar; eles provavelmente vão ter uma baixa temporada mais tranquila. Pense muitas vezes antes de dizer que alguma coisa é cara, pense no caminho que você fez para chegar até ali e depois pense em quem levou os produtos que você vai comprar até ali.

Hospedagem em Pokhara

Em Pokhara, fiquei hospedada no Hotel Immortal Inn. Peguei 11USD pela diária para duas pessoas. É um hotel simples, mas bem localizado, limpo e seguro. Você pode deixar sua mochila ou mala lá e pegar depois da trilha. Não tem nenhum custo adicional e é seguro; quase todo mundo faz isso.

O que fazer em Pokhara

Gostei muito de Pokhara, é uma graça! Tem um lago bonito e dá pra fazer muitas trilhas lá perto. É turístico, tem lojinhas e bares… Passei uma semana lá com brasileiros que conheci pelo Instagram e adorei.

Recomendo ir no Umbrella Café (amei a sopa de abóbora e o hambúrguer de feijão), no Little Window (o barbecue veggie platter é ótimo), no OKR2 (vale muito a pena ir e passar horas vendo o lago), na French Creperie Bar (ótima atmosfera, vista pra o lago, bem aconchegante e bons crepes), no Fresh Element (peça lemon mint juice e creamy mushroom toast! Muito bom!), no The Freedom Café (vista pra o lago e café da manhã “italiano”) e no The Juicery Café (não comi lá, mas tem uma vibe legal e me indicaram).

Tem mais de um cinema ao ar livre em Pokhara. Procure, vale a pena! Fui em um que ficava no meio da mata, uma vibe muito boa! Também recomendo alugar um barquinho e dar um rolê pelo lago. :)

O que levei para a trilha do Annapurna Base Camp

itens que babi levou na mochila

– Mochila Osprey Tempest 20 litros (comprei em Pokhara) 

– Capa de chuva para mochila (comprei em Pokhara)

– 1 bota impermeável Gore-Tex para trekking da North Face (comprei em Kathmandu)

– 1 chinelo havaianas

– 4 meias: 2 de lã merino especiais para caminhada e que revezava enquanto uma secava, um par quentinho que usava todos os dias à noite ou pós caminhada e 1 meia liner, que você usa com a meia merino para evitar bolhas durante a caminhada. 

– 1 calça-bermuda da Decathlon (usei todos os dias)

– 1 legging preta (usei nos dias mais frio por baixo da calça-bermuda)

– 1 calça térmica pra dormir (só usava pra dormir, porque aí ficava limpinha)

– 1 calça preta de malha e elástico super confortável que colocava em cima da calça térmica pra usar nos lodges enquanto jantava e conversava. Antes de dormir tirava e dormia só com a térmica

– 1 blusa manga curta dry fit preta (evitar cores claras, porque a sujeira fica mais evidente)

– 1 blusa manga longa dry fit cinza 

– 1 casaco fleece preto da quéchua 

– 1 blusa térmica de lã merino (usava só pra dormir e me sentir limpinha)

– 1 luva fininha da Decathlon

– 1 luva mais potente e impermeável 

– 1 casaco de pena de ganso Columbia 

– 1 capa de chuva laranja 

– 1 par de bastões pra caminhada 

– 1 power bank

– 1 garrafa life straw (tem um filtro acoplado, então eu pegava água de qualquer lugar)

– Kit de Primeiros socorros: anti-inflamatório, antibiótico, remédio pra diarreia, relaxante muscular, paracetamol, band-aid, Compeed (especial pra evitar bolha), agulha e linha (pra caso tivesse bolha), remédio de alergia, remédio pra altitude e colírio 

– Óculos escuros 

– Caderno e 3 canetas

– Celular e fone de ouvido 

– 8 barrinhas de cereal

– 600 gramas de castanhas (nozes, castanha do Pará e amêndoas)

– Chocolates (sou formiga e durante a trilha custam pelo menos 1 USD)

– InReach – Telefone Via satélite (demanda da minha mãe; não é preciso, mas indo sozinha e sem usar o Wi-Fi foi uma mão na roda)

– Toalha

– Mochilinha compacta e pequena pra levar as coisas pro banho (uma sacola de pano é suficiente)

–  5 calcinhas 

– 1 top 

– 1 suéter de gola alta

– 1 gorro quentinho e pequenino 

– Nécessaire: shampoo, escova, pasta de dente, sabonete líquido, hidratante para os pés, absorvente diário, álcool em gel e protetor labial, protetor solar, desodorante (deixava do lado de fora da mochila), lenço umedecido (pacote com 20), lenço de papel e papel higiênico (tudo em versões bem pequenas, para carregar pouco peso).

O que senti falta:

– 2/3 pregadores para prender as roupas lavadas na mochila, pra secarem enquanto eu caminhava. Perdi uma meia que caiu pois eu não tinha os pregadores.

– Cordinha pro óculos de sol 

Sugestão:

– Se você tiver problemas com lençóis e cobertores sujos, sugiro levar um saco de dormir ou pelo menos um lençol daqueles feitos pra usar por dentro do saco de dormir, que é leve e não ocupa quase nada de espaço. 

mochila pronta para a trilha

Mais informações sobre o trekking do Annapurna Base Camp

Quer mais dicas ou inspiração pra fazer a trilha do Campo Base do Annapurna por conta própria? Babi Cady oferece um serviço de mentoria via Skype. Envie um e-mail para [email protected] para mais informações.

 

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7 Comentários

  1. Josiane Santos

    Amei o relato! Parabéns! Muito inspirador… já me vi concretizando esse sonho :)

    • Também fiquei super inspirada com o relato de Babi, Josiane! Espero que nós possamos também realizar esse sonho :)

  2. Fernanda

    Ahhh que texto Lindo! Me senti na trilha, junto com você! Parabéns!!!

  3. Fernando Ageu

    Comecei a estudar sobre esse percurso e sobre o circuito Annapurna. Assistindo a alguns vídeos e lendo seu emocionante relato cheguei à fácil conclusão de que os arredores do Annapurna serão meu próximo destino. Fiquei curioso quanto ao custo da viagem, caso você puder dizer, serei grato, mas compreenderei se não quiser fazê-lo. Seu relato já foi inspirador o suficiente e de grande ajuda. Muito obrigado e parabéns por sua visão na/da experiência!

  4. Charliston Santos

    Olá. Gostei muito das informações. Pretendo fazer o EBC e Three pass no final do ano e provavelmente irei sozinho. Essas dicas de quem já foi irão me ajudar bastante. Obrigado.

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