Conheça o Turismo Regenerativo: muito além da sustentabilidade
“Com licença, turismo sustentável. O turismo regenerativo chegou”. Com esse título provocador, o jornal New York Times resumiu uma discussão que vem ganhando mais alcance no último ano: no estado de crise sistêmica em que o mundo se encontra, viajar de forma “sustentável” não parece ser suficiente.
O termo sustentabilidade significa “suprir as necessidades do presente sem afetar as gerações futuras”. Mas as gerações futuras já estão afetadas, e não é mais possível respeitar os limites do planeta se eles já foram superados. Cada vez mais gente concorda que manter nosso modo de vida igual e tentar mitigar os prejuízos que ele provoca pra todos os seres é uma estratégia que não está funcionando.
Por isso, quem defende o turismo regenerativo argumenta que em vez de reduzir as mudanças climáticas, é urgente revertê-las. Pra proteger nosso futuro, é preciso recuperar os danos que já causamos, não só em termos ambientais como também sociais e econômicos. E isso só será possível se mudarmos nossa forma de pensar – e, consequentemente, de viajar.
“Mesmo que o conceito de sustentabilidade tenha evoluído com o passar dos anos, ao utilizar um enfoque reducionista que tenta resolver os problemas dentro do mesmo marco em que foram criados esse paradigma continua excluindo os seres humanos ou até mesmo os colocando em oposição à natureza. A sustentabilidade tem se dedicado a minimizar os danos e a usar de forma mais eficiente os recursos, mas, embora isso retarde a degradação, não é uma mudança de rumo. É imperativo que se tenha uma abordagem diferente para essa questão, uma abordagem que cause mudança de valores”, afirma Sonia Teruel, co-fundadora do The RegenLAB for Travel, em artigo pra o site Travindy.
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Desenvolvimento regenerativo
O turismo regenerativo não é um nicho de viagem, como o ecoturismo, nem uma palavra da moda que apareceu agora. Ele tem suas origens no chamado desenvolvimento regenerativo, que vem sendo discutido há décadas e é uma espécie de evolução do desenvolvimento sustentável, termo mais popular. Ele se relaciona, em maior ou menor medida, a outros conceitos que você talvez conheça, como economia circular, permacultura, agricultura regenerativa e rewilding.
A ideia de desenvolvimento e design regenerativo é aplicada por instituições como o Regenesis Group, que defendem a importância de considerarmos a complexidade dos sistemas vivos e entendermos que somos partes de um todo, integrados à natureza. Trata-se de fazer como os povos originários e encarar o mundo como um organismo vivo, e não uma máquina.
“Essa visão de mundo particular implica a superação de um modelo mental antigo, que pode ser chamado de paradigma mecanicista, e convida a uma nova perspectiva: o paradigma ecológico ou a visão sistêmica da vida”, diz o site do Instituto de Desenvolvimento Regenerativo.
Essa oposição a uma visão mecanicista da vida também aparece no discurso da consultora Anna Pollock, fundadora do Conscious Travel e assessora dos governos da Nova Zelândia e de Flandres (região da Bélgica) sobre viagens regenerativas. Ela usa termos como “prosperar” e “florescer” em oposição a “performance” e “produtividade”, que vêm da lógica industrial, e afirma que “regeneração é sobre a criação de condições férteis que permitam à vida prosperar”.
Turismo regenerativo
É bem sabido que o turismo de massa provoca vários danos aos destinos. Alguns exemplos são o esgotamento de recursos naturais, degradação de patrimônios históricos e prejuízos econômicos e sociais pra os moradores. A maior parte da renda do turismo costuma ir pra fora das comunidades anfitriãs, que geralmente têm pouco poder de decisão sobre a exploração turística dos seus territórios.
Em resposta a isso, o turismo regenerativo pretende aplicar os preceitos do desenvolvimento regenerativo pra não apenas evitar esses e outros efeitos negativos das viagens, como também trazer melhorias ambientais, sociais e econômicas pra os destinos. Ou seja: não se trata apenas de tentar viajar com o menor impacto negativo possível, mas de trabalhar ativamente pra que o turismo seja um agente de transformação positiva.
Mas como fazer isso? Os especialistas no assunto explicam que não existe uma resposta única, nem soluções prontas pra serem replicadas mundo afora. Afinal, um dos princípios do desenvolvimento regenerativo é a necessidade de regenerar e desenvolver as capacidades sociais e naturais de cada sistema de acordo com suas particularidades.
“É essencial que o planejamento seja feito a partir do local e com a participação de todos os atores, identificando sua visão e desenvolvendo a identidade comunitária, além de analisar a história e a vocação do lugar, criando uma ética de cuidado e uma conexão com a sua essência”, afirma Sonia Teruel.
Essa ideia da comunidade local como protagonista tem tudo a ver com o que preveem os defensores do Turismo Responsável, outro conceito que vai além da ideia de Turismo Sustentável: “criar lugares melhores para as pessoas morarem e visitarem, nessa ordem”. Pra que isso seja realidade, é preciso contar com o envolvimento de pequenos e grandes negócios do setor de turismo, do governo e dos viajantes.
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E segundo os defensores do turismo regenerativo, também temos que deixar de definir o sucesso do turismo num local através de indicadores como número de visitas e contribuição ao PIB. Em vez disso, a ideia é avaliar localmente a qualidade dessas atividades turísticas, considerando métricas como o desenvolvimento de pequenos negócios, distribuição de renda e regeneração da natureza.
Princípios do turismo regenerativo, segundo o The RegenLab for Travel:
- Se origina no desenvolvimento e design regenerativos. É um novo paradigma.
- Incentiva a geração de perguntas acima das respostas, o que nos ajudará na espiral de aprendizado.
- Valoriza processos e relacionamentos mais do que coisas individuais.
- Tem origem na comunidade e é pensado 100% com base na cocriação.
- Promove a sabedoria coletiva e a colaboração.
- Coloca a natureza no centro e é projetado para que os seres humanos coevoluam com ela.
- Seu objetivo é permitir que a comunidade e seu ambiente floresçam.
- Projeta experiências transcendentais que criam agentes de mudança.
Você já tinha ouvido falar em turismo regenerativo? O que achou dessa forma de ver o mundo? Me conta aí nos comentários!
Crédito das fotos que ilustram o post: Unsplash e Pexels – Creative Commons (Direitos de uso liberados)
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5 Comentários
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Gostei muito da materia. Quero aplicar esse conceito ao meu trabalho.
Que bom, Aline! :)
Não conhecia o conceito. Achei a matéria extremamente objetiva e educativa!
Que massa, Cláudia! :) Obrigada pelo feedback
Bem isso mesmo: ser humano, natureza em uma convivência harmônica, digna,com justiça social e bem estar para pessoas e meio ambiente.