Marrocos

O que fazer em Chefchaouen, a cidade azul do Marrocos

Conhecida como “cidade azul”, Chefchaouen (ou simplesmente Chaouen) foi a única parada realmente certa no meu roteiro pelo Marrocos. Viajei sozinha para lá durante uma temporada na Europa, e desde o início sabia que iria incluir esse destino no itinerário. Minhas expectativas eram altas porque as fotos da cidade me lembrava Jodhpur, na Índia, outro “destino azul” que eu amei. Felizmente, Chefchaouen não decepcionou.

Enquanto muita gente visita a cidade em um bate-volta ou passa apenas uma noite, eu decidi ficar três noites lá. Não é “necessário” se você tem pouco tempo ou quer apenas ver as atrações turísticas, mas eu gosto de viajar devagar e tinha ouvido falar que esse era um dos lugares mais tranquilos para mulheres sozinhas no Marrocos. Concordo: me senti bem à vontade por lá.

Chefchaouen fica a cerca de 600 metros de altitude, aos pés das montanhas Rif, cercada por natureza, trilhas e paisagens bonitas. A medina, com a maioria das casas pintadas em diferentes tons de azul, é sem dúvida um dos lugares mais fotogênicos do país. Por outro lado, achei a cidade bem turística, especialmente quando comparada à experiência menos “polida” que tive em Fez.

Neste artigo vou falar sobre o que fazer na cidade e arredores, onde se hospedar e contar um pouco sobre a história do lugar e algumas curiosidades que descobri nos meus dias lá.

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o que fazer em chefchaouen

roteiro em chefchaouen

cafeteria

Como chegar em Chefchaouen

Cheguei a Chefchaouen de ônibus saindo de Fez, para onde voei a partir de Madri. Comprei a passagem pelo site da CTM, principal companhia de ônibus de lá, e foi bem simples.

Para embarcar é só mostrar o bilhete no celular, mas atenção: ao chegar na rodoviária é preciso ir até o guichê para pagar separadamente pela bagagem que vai no bagageiro. O valor em 2015 era de 5 dirhams por mala (cerca de R$ 3).

A viagem foi confortável, mas tem um trecho com muitas curvas, então se você enjoa fácil vale a pena tomar um Vonau. Saindo de lá eu peguei um ônibus até Tânger, onde passei uma noite antes de seguir de trem para meu próximo destino, Marrakech. Eu nem planejava visitar Tânger, mas não tinha transporte direto entre as duas cidades (e acabei curtindo muito esse destino inesperado).

O que fazer em Chefchaouen

Passear pela Medina (Cidade Antiga): O principal atrativo da cidade é caminhar sem rumo pelas ruelas labirínticas, admirando as casas azuis e surpresinhas inesperadas. Foi num desses passeios que encontrei por acaso um restaurante bem simples, meio escondido e com ótimo custo-benefício, onde acabei tomando café e almoçando dois dias seguidos.

roteiro em chefchaouen

restaurante em chefchaouen

Explorar os Souks: Dentro da Medina você encontra várias lojas com artesanato, tecidos, sabonetes, especiarias, pinturas retratando a cidade e arredores, entre outras lindezas.

tapetes

Praça Uta El-Hammam: Essa praça é o coração da cidade, com cafés, restaurantes e a entrada da Kasbah. Almocei lá no meu primeiro dia e achei que valeu a pena pagar um pouco mais (por ser um lugar muito turístico) porque foi uma delícia ficar horas observando o movimento.

praça principal

Kasbah (Fortaleza): Na praça principal fica a Kasbah, uma fortaleza do século XV, que abriga um museu. Outros viajantes me falaram que não curtiram tanto e eu estava mais a fim de relaxar, então não visitei.

o que fazer em chefchaouen

kasbah

Mesquita Espanhola: Vá até lá no fim da tarde para curtir a melhor vista panorâmica de Chefchaouen no pôr do sol.

mesquita espanhola

Nascente do rio Ras Elma: Você vai passar lá perto no caminho para a mesquita, então vale a pena ir mais cedo ou voltar outro dia para conhecer esse trecho de rio onde antigamente as mulheres lavavam roupas e hoje existem alguns cafés e restaurantes.

rio

Fazer um tour guiado: Eu reservei pelo site GuruWalk um “free walking tour”, modalidade de passeio guiado a pé em que você paga no final o quanto achar que o tour valeu (lá no Marrocos se recomenda pagar pelo menos uns 10 euros). Fiz o mesmo em Marrakech e Fez e foram todos ótimos.

tour guiado em chefchaouen

Bate-volta para Akchour: Essa vida nas montanhas fica a 40 minutos da cidade e é muito procurada por marroquinos para passar o dia, especialmente quando faz calor. Lá você encontra trilhas leves, poços cristalinos para banho e restaurantes simples à beira do rio. O lugar é lindíssimo, e mesmo num domingo dava para encontrar áreas tranquilas.

akchour

A seguir, vou compartilhar o que aprendi sobre Chefchaouen e falar mais sobre alguns desses atrativos.

Free walking tour e um pouco de história

Minha principal dica do que fazer em Chefchaouen é um free walking tour. Eu fiz um que encontrei no site GuruWalk e adorei. O guia foi ótimo, me ajudando a enxergar a cidade além da estética.

Ele explicou, por exemplo, que Chaouen foi fundada em 1471, inicialmente como uma fortaleza militar para resistir a ataques portugueses. Com o tempo, passou a receber muçulmanos e judeus que fugiam da Inquisição Espanhola, o que moldou sua identidade cultural e arquitetônica.

Durante séculos, Chefchaouen foi proibida para cristãos e europeus, o que acabou preservando muitas de suas tradições até o século 20. A cidade também ficou sob protetorado espanhol até 1956, e essa influência segue muito presente.

Me chamou atenção que as placas de rua estão em árabe e espanhol, e não em francês, como em outras partes do Marrocos. Quando comentei isso, o guia contou que cerca de 50% da população local fala espanhol e que eles usam no dia a dia palavras como plaza, amigo e camarero.

Na escola, as crianças aprendem árabe marroquino (darija), além de francês e inglês, mas no cotidiano o darija é o idioma principal.

o que fazer em chefchaouen

Por que Chefchaouen é azul?

Essa é uma das perguntas mais frequentes sobre Chefchaouen. Não existe uma resposta definitiva, mas sim algumas teorias. A mais aceita é que judeus sefarditas que chegaram à cidade passaram a pintar as casas de azul como forma de simbolizar o céu e a conexão com o divino.

Inicialmente, poucas casas eram azuis. O guia do free walking tour nos mostrou fotos de algumas décadas atrás, quando a cidade tinha tons mais terrosos, e apenas algumas áreas se destacavam pela cor. Com o tempo, a estética passou a chamar atenção e se espalhou, principalmente por causa do turismo.

Hoje, Chefchaouen é extremamente instagramável, a ponto de algumas pessoas criarem cenários decorativos na frente das suas casas e cobrarem dos turistas para tirar fotos.

roteiro em chefchaouen

Mais curiosidades sobre Chefchaouen

  • Segunda e quinta são dias de mercado, quando mulheres das montanhas Rif, que ficam ao redor da cidade, descem para vender frutas, verduras e queijo de cabra. Os moradores costumam comprar delas porque os produtos são frescos e orgânicos, e também para contribuir economicamente com elas.
  • Você vai ver muitos chapéus com pompons sendo vendidos nas lojinhas. Eles são tradicionais da região e usados justamente pelas mulheres das montanhas.
  • Outra coisa que você deve perceber logo é que tem muitos gatos pelas ruas. Me falaram que um programa do governo cuida deles, além da própria população, que costuma alimentá-los.
  • Existe uma cooperativa de artesãos na praça principal, uma boa alternativa para comprar artesanato local de forma mais justa.
  • Muitos moradores preferem viver fora da medina, onde é mais barato e tranquilo. Segundo o guia do walking tour, muitos europeus, estadunidenses e chineses têm comprado imóveis lá para investir, e por isso as casas têm ficado muito caras.

Apesar do charme da cidade, não pude deixar de pensar sobre como o excesso de turismo pode transformar lugares e modos de vida (já escrevi um artigo sobre isso aqui no blog). Chefchaouen é realmente muito fotogênica, mas espero que ela não se reduza cada vez mais a apenas isso. Felizmente tive tempo e boas oportunidades para conhecê-la um pouco além dos cenários bonitos e espero que você também tenha.

chapéu com pompom

roteiro em chefchaouen

Pôr do sol na Mesquita Espanhola

No meu primeiro dia em Chefchaouen eu reencontrei um amigo de Fez e fomos ver o pôr do sol na Mesquita Espanhola. Ela fica no alto de uma colina, fora da medina, e a caminhada até lá leva cerca de 20 minutos. O percurso é tranquilo e pavimentado e a vista compensa muito.

A mesquita foi construída pelos espanhóis em 1920 e hoje não é usada para orações, mas se tornou um dos pontos clássicos para assistir ao fim de tarde. Muita gente leva um lanchinho e se senta no muro ou no chão para ver a cidade azul lá de cima. Tem também uma mini cafeteria por lá.

o que fazer em chefchaouen

Bate-volta para Akchour

No meu terceiro dia em Chefchaouen fiz um bate-volta até Akchour, uma vilazinha nas montanhas a cerca de 45 minutos de lá. Pegamos um grand taxi coletivo na frente da rodoviária por 25 dirhams por pessoa (aproximadamente R$ 15). Os “grand taxis” são comuns em várias partes do Marrocos; são táxis compartilhados em que cabem até 6 pessoas e que geralmente são usados para ir a outras cidades. Nem sempre os carros têm cinto de segurança funcionando, mas o trajeto é bem bonito.

Dá para simplesmente chegar na rodoviária e esperar um grand táxi encher com outras pessoas indo na mesma direção, especialmente em finais de semana, quando costuma ter muitos turistas indo para lá. Eu me juntei com outros viajantes que conheci e dividimos dois táxis. Se não quiser arriscar, você também pode contratar um passeio para lá em sites como Get Your Guide.

akchour

akchour

Akchour é um lugar onde muitos marroquinos vão passar o dia, especialmente aos domingos. É basicamente um povoado com trilhas leves, poços de água cristalina para banho e restaurantes simples à beira do rio.

A trilha até a principal atração, a God’s Bridge (uma ponte natural de pedra sobre o rio), leva cerca de 40 minutos. É fácil, mas envolve caminhar sobre algumas pedras e fazer umas pequenas travessias em pontes improvisadas sobre o rio. Tem também outra trilha que leva até umas quedas d’água pequenas e depois uma cachoeira maior, mas outros viajantes nos alertaram que ela estava seca, então não fomos até o fim.

god's bridge em akchour

Foi interessante observar a dinâmica do lugar: quase todo mundo era marroquino, havia muito mais homens do que mulheres na água, e a maioria das mulheres estava totalmente vestida. As meninas mais novas costumavam usar uma espécie de maiô-macaquinho, cobrindo bem o corpo.

Acho importante lembrar de respeitar a cultura local. Eu fui de biquíni, mas fiquei de roupa durante a trilha e entrei na água vestindo uma camiseta. Outras mulheres do meu grupo entraram só de biquíni em uma área com menos gente não achei que causaram grande estranhamento ou algo do tipo, mas acho válido evitar se possível.

Levamos lanches para enrolar a fome, mas aproveitamos para almoçar naquele cenário lindo, em um dos “restaurantes” que consistem basicamente em uma ou duas pessoas com panelas de tagine, um fogareiro e umas cadeiras e mesas. Dividimos dois tagines grandes para oito pessoas e deu cerca de R$ 12 por pessoa. Não foi o melhor tagine da viagem, mas o ambiente compensou.

akchour

Onde ficar em Chefchaouen

Para se hospedar em Chefchaouen, a melhor escolha é ficar dentro ou bem perto da medina, onde dá para fazer tudo a pé e se perder sem pressa pelas ruelas azuis. Afinal, boa parte do encanto da cidade está justamente nisso. Mas vale ter em mente que Chefchaouen é construída numa encosta, com muitas escadas e ruas estreitas, então é quase inevitável carregar a mala por escadarias em algum momento (essa foi uma das razões pelas quais viajei com um pequeno mochilão). Se você tem dificuldades de locomoção, provavelmente será melhor ficar nos arredores da medina.

Como em todo o Marrocos, os riads são a opção mais charmosa: essas antigas casas transformadas em hospedagens têm pátios internos charmosos e muita história. Eu fiquei no Aymane Rooftop, um hotelzinho simples que me deixou muito satisfeita pelo custo-benefício e pela localização. Não tinha café da manhã nem ar condicionado, mas o quarto era confortável, fica perto de uma das entradas da medina (mas um pouco escondido) e tem um terraço com vista linda.

hospedagem em chefchaouen

hospedagem em chefchaouen

hospedagem em chefchaouen

Para quem busca algo mais especial, a cidade tem opções maravilhosas e com excelentes avaliações, como o Dar Jasmine, o mais sofisticado e romântico, o Dar Echchaouen, com jardim e piscina na entrada da medina, e o Lina Ryad & Spa, que combina arquitetura tradicional com hammam e piscina. Existem também bons riads mais acessíveis, como Casa Amina, Casa Sabila e Riad Cherifa.

Se você quiser economizar e/ou conhecer pessoas, vale conferir o Hostel Aline. Os viajantes que conheci lá em Chefchaouen estavam hospedados lá e curtiram muito. Não vi o interior do local, mas fui encontrá-los para sairmos juntos e achei a localização ótima.

Vale a pena visitar Chefchaouen?

Na minha opinião, super vale a pena. Chefchaouen é pequena, bonita, acessível e cheia de história. Além de caminhar pelas ruas azuis e tirar fotos bonitas, recomendo aprender sobre o passado da cidade, conversar com moradores, curtir o pôr do sol e dar um pulo em Akchour para um dia bem gostoso em meio à natureza.

roteiro em chefchaouen

 

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