São Paulo

Centro Novo de São Paulo: passeio guiado gratuito

Você já ouviu falar no “Centro Novo” de São Paulo? Muita gente passa por ali apressada, sem perceber que essa região guarda histórias de uma São Paulo que se modernizou até se tornar uma potência econômica nacional. Eu já tinha circulado por ali várias vezes em outras idas à capital paulista, mas adorei redescobrir a área durante um passeio gratuito do programa Vai de Roteiro, da Prefeitura de São Paulo.

Esse programa tem diversas rotas turísticas espalhadas pela cidade. Atualmente, são 16 roteiros, todos conduzidos por um guia credenciado e a maioria com duração de cerca de duas horas.

O que é o Centro Novo?

Como explica a Secretaria Municipal de Cultura, São Paulo foi fundada oficialmente em 25 de janeiro de 1554, tendo como marco inicial a missa realizada pelos jesuítas para inaugurar o colégio deles no local hoje conhecido como Pateo do Collegio. A cidade então se desenvolveu naquela região, entre as igrejas de São Bento, São Francisco e Carmo. Esse é o chamado Triângulo Histórico, conhecido também como Centro Velho.

Enquanto cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Recife já estavam consolidadas, São Paulo demorou a se desenvolver. “Cerca de três séculos depois de sua fundação, São Paulo não passava de uma calma aldeia colonial, estendendo-se pouco além dos estreitos limites do Tamanduateí e do Anhangabaú. A pequena população de no máximo 20 mil pessoas dormia cedo, já que as ruas não eram iluminadas, e o local era de pouco movimento. Era essa a representação que pairava sobre São Paulo: uma vila sem graça, uma cidade de barro“, diz o site Viva o Centro.

O Vale do Anhangabaú era uma barreira natural para o crescimento da cidade, só transposta no fim do século 19, com a construção do Viaduto do Chá. A partir daí, e com o boom do comércio cafeeiro, a cidade começou a crescer para o outro lado do Anhangabaú, região batizada de Centro Novo. Essa área marca a expansão de São Paulo rumo à modernidade. Foi onde a cidade começou a sonhar alto – literalmente, já que passou por um rápido processo de verticalização.

theatro municipal de são paulo

O itinerário do tour pelo Centro Novo de São Paulo, que no dia do meu passeio foi guiado pelo simpático Rafa Gushi, é este aqui (não entramos em todos os lugares da lista):

  • Shopping Light
  • Theatro Municipal
  • Biblioteca Mário de Andrade
  • Praça Dom José Gaspar
  • Galerias Icônicas do Centro Novo
  • Edifício Louvre
  • Avenida São Luís
  • Copan
  • Edifício Itália
  • Avenida Ipiranga
  • Praça da República
  • Galeria do Rock
  • Sesc 24 de Maio

Começo do passeio: entre vitrais e trilhos esquecidos

Nosso ponto de encontro com o guia foi o Shopping Light, que funciona no Edifício Alexandre Mackenzie, antiga sede da fornecedora de energia da capital. A Light, empresa de energia fundada no Canadá, operava os serviços de geração e distribuição de energia elétrica e bondes elétricos do município.

Nosso guia nos levou para ver os elevadores restaurados que datam da época da inauguração do prédio, em 1929, e chamou atenção para detalhes como os lindos vitrais no corredor, herança do arquiteto Ramos de Azevedo, responsável pela obra.

O mesmo arquiteto também estava por trás do projeto do Theatro Municipal, nosso seguinte destino, localizado do outro lado da rua. No curto trajeto entre os dois locais, passamos por um pequeno trecho de trilhos preservados, mantidos como memória dos bondes que um dia cortaram a cidade. Eu tinha caminhado por ali e nem tinha reparado; é por coisas assim que vale a pena fazer um tour guiado, né?

Theatro Municipal

Ao chegar ao Theatro, inaugurado em 1911, o guia nos contou que ele foi o primeiro edifício com luz elétrica de São Paulo, atraindo 10 mil curiosos para a estreia. Inspirado na Ópera de Paris, o Municipal atendia aos anseios da elite cafeeira e tornou-se símbolo de uma nova cidade, modernizada aos moldes europeus. Ele sediou importantes eventos da época, como a Semana de Arte Moderna de 1922, e era um lugar aonde as pessoas iam para “ver e ser vistas”.

Demos só uma paradinha no hall do teatro, mas é possível fazer uma visita guiada gratuita; já coloquei na lista para minha próxima visita. Outra dica é ir no Bar dos Arcos, no subsolo do teatro. Já fui lá tomar uns drinks e achei o ambiente super interessante, com uma iluminação impactante. Outra opção é ir almoçar ou tomar café no Salão Dourado, bem na entrada do teatro, também operado pelo Bar dos Arcos.

centro novo de são paulo - teatro municipal

Galerias e edifícios icônicos

Na caminhada, o guia chamou atenção para prédios icônicos como o Edifício Matarazzo, onde funciona a Prefeitura de São Paulo, e o simpático Edifício Sampaio Moreira, construído em 1924 e considerado o primeiro arranha-céu da cidade.

Passamos também por alguns edifícios residenciais com galerias comerciais embaixo, algo muito comum na arquitetura modernista. E falando em galerias, um clássico nessa região é a Galeria Metrópole, na esquina da Avenida São Luiz com a Praça Dom José Gaspar. Ela abriga desde loja de vinis a ateliês de artistas independentes, além de receber eventos descolados.

A tal Praça Dom José Gaspar, aliás, super vale a visita (ao menos se você gosta de praças como eu). Ela é bem arborizada e agradável, um dos respiros da selva de pedra. E em frente a ela fica o Edifício Louvre, que é um dos meus preferidos no centro. Ele foi projetado por João Artacho Jurado nos anos 1950 e é coberto por pastilhas coloridas feitas especialmente para esse projeto. Acho uma gracinha.

Biblioteca Mário de Andrade

Dali seguimos para a Biblioteca Mário de Andrade. Fundada em 1925, ela foi a primeira biblioteca pública da cidade e é a segunda maior do Brasil, atrás apenas da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Seu acervo tem mais de 3 milhões de itens, incluindo raridades, jornais antigos e documentos históricos.

Desde os anos 1940 ela funciona no edifício atual, projetado pelo francês Jacques Pilon e considerado um dos marcos do estilo art déco em São Paulo. São 22 andares, o que era impressionante na época da construção. O prédio também abriga exposições e tem salas de estudos e áreas de leitura abertas ao público. Já fui para um evento lá e achei massa.

biblioteca mário de  andrade

Hotel Jaraguá e Bar do Estadão

Depois de visitarmos a biblioteca, vimos o Hotel Jaraguá, localizado no encontro das ruas Consolação, Martins Fontes e avenida São Luiz. Considerado o primeiro hotel de luxo da cidade, já recebeu personalidades como Mick Jagger, Fidel Castro, Edith Piaf, Ella Fitzgerald, Brigitte Bardot, Iuri Gagarin e Federico Fellini.

Ali também já funcionaram a redação e o parque gráfico do jornal Estado de São Paulo e da Rádio Eldorado, ocupando os primeiros oito andares. Ali junto funciona até hoje o Bar e Lanches Estadão, que segundo nosso guia foi o primeiro estabelecimento comercial da cidade a ficar aberto 24 horas e logo se tornou ponto de encontro de políticos, artistas e, claro, jornalistas. O bar é famoso pelo sanduíche de pernil, elogiadíssimo.

Copan: o prédio que é uma cidade

A parada seguinte do nosso passeio pelo Centro Novo foi em um dos principais cartões-postais da cidade, o edifício Copan, que se destaca na paisagem com sua largura considerável e sua silhueta curvilínea (se você não sabe, é ele que se destaca na foto principal lá no topo desta página).

Com 1.160 apartamentos, o prédio projetado em 1950 por Oscar Niemeyer foi inaugurado em 1966 e tem capacidade para mais de 5 mil pessoas. Se fosse uma cidade, o Copan teria mais habitantes que 1.331 municípios brasileiros.

No térreo do edifício tem de tudo, de cafeteria (prove o espresso do Café Floresta, a loja mais antiga da galeria) a locadora de DVDs (a Vídeo Connection, que começou com VHS e segue resistindo aos streamings). Vale conferir também a Livraria Megafauna, que é excelente, e restaurantes, bares e cafeterias como o Copanzinho, o Dona Onça e a Tem Umami.

centro novo de são paulo - copan

centro novo de são paulo - copan

Para saber mais sobre o edifício, veja o curta “Copan Cidade Vertical”.

Ali pertinho do Copan, demos ainda uma espiada no Edifício Itália, o segundo mais alto de São Paulo, com46 andares. Lá em cima funciona o Terraço Itália, restaurante chique com vista panorâmica. Fui lá para um evento há alguns anos e curti muito o visual. Se quiser só visitar, atualmente é possível fazer uma reserva por R$ 50.

Sesc 24 de Maio: arquitetura, cultura e cafeteria

Depois de umas duas horas de caminhada tranquila, nosso tour pelo Centro Novo de São Paulo terminou no Sesc 24 de Maio, na rua de mesmo nome, que eu ainda não conhecia e adorei. Essa unidade do Sesc funciona num prédio da antiga loja Mesbla que ficou abandonado por alguns anos até ser reformado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o mesmo que fez o projeto de reforma da Pinacoteca.

O espaço tem 11 pavimentos com diverso serviços voltados para comerciários e algumas áreas abertas ao público, como o café no penúltimo andar. Subimos até lá para um lanche e achei o espaço muito agradável, com vista, uns espelhos d’água bonitos e comidinhas boas com preços justos.

sesc 24 de maio

sesc 24 de maio

Dica extra: o autêntico Bauru

Não fomos lá, mas o guia nos lembrou que ali pertinho, na esquina do Largo do Paiçandu com a Avenida São João, funciona o Ponto Chic, onde foi criado o sanduíche Bauru. A receita é a mesma há mais de 80 anos: pão francês sem miolo, fatias finas de rosbife, tomate, pepino e muito queijo.

Quer fazer esse tour pelo Centro Novo de São Paulo?

Como eu disse lá no início, o passeio é gratuito e conduzido por guias credenciados. Atualmente tem saídas às sextas e domingos, às 10h e às 14h. Para participar é só se inscrever na página do Sympla do Vai de Roteiro – Roteiros Guiados SP.

Eu fiz o passeio em abril de 2025 a convite da Secretaria de Turismo de São Paulo e da Prefeitura de São Paulo, como parte da programação do seminário anual da Associação Brasileira de Blogs de Viagem. As fotos que ilustram o artigo são minhas, com exceção da imagem em destaque no topo, que é da Deposit Photos.

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