Carnaval é estado de espírito: um resumo de quatro dias em Olinda
Tem um monte de coisa que a gente supostamente devia “fazer antes de morrer”. Visitar 100 lugares, comer isso e aquilo, ir àquele super festival de música, praticar tais esportes radicais… Passar um Carnaval hospedado em Olinda, dizem meus conterrâneos, é uma delas. E por mais que eu não acredite nesses dogmas da realização pessoal, peço licença pra fugir da DPC (depressão pós-carnaval) enaltecendo a festa e, de quebra, agradecendo ao universo pela chance de curtir a folia da Cidade Alta sem parar, da noite da sexta até o tradicional Bacalhau do Batata.
Já fiz um post sobre o Carnaval da minha terra, alertando aos desavisados que essa festa é bonita que só ela, mas também requer preparação. Estar imerso 24 horas por dia na brincadeira é uma experiência inigualável, mas exige bastante de qualquer cristão (ou qualquer que seja sua religião, ou falta dela). Exige energia, estratégias pra driblar a ressaca, tênis resistentes, protetor solar, habilidade pra não se perder dos coleguinhas ou boyzinh@s no empurra-empurra, bom humor pra lidar com as paqueras engraçadas, paciência pra lidar com as paqueras sem graça, boa memória pra cantar os frevos certinhos do começo ao fim, geolocalização pra não se perder pelas ladeiras…
Mas acima de tudo, o que o Carnaval pede de você é vontade. Dica nenhuma de sobrevivência é suficiente pra carnavalizar de corpo e alma: o que vai transformar o suor em alegria é a vontade de olhar pra o lado e tirar aquela brincadeira amigável com um desconhecido, de se solidarizar com alguém que se espreme com você em vez de empurrá-lo de volta, de curtir o frevo que te acorda às 5h da manhã tocando estridente pelas ruas, de gritar o refrão do Hino do Elefante de Olinda a plenos pulmões e, a cada momento, sentir que tudo isso é muito mais do que uma festa, uma música, um momento de descontração.
Porque quando você tá cantando “teus coqueirais, o teu sol, o teu mar” – ou qualquer que seja o frevo que mais mexe com você – e aquele povo todo em volta canta junto, você percebe que Carnaval é um estado de espírito. E as circunstâncias ajudam, é claro: todo mundo tira as fantasias (reais e metafóricas) do armário, a vida real dá uma pausa, um universo paralelo de liberdade e glitter se instaura… Mas tudo começa dentro da gente.
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O melhor dia do meu Carnaval foi aquele em que encontrei muitos amigos, vi fantasias engraçadas, acompanhei blocos legais e fiquei pulando até tarde, mas também foi um dia de aperto, sol infinito e cerveja quente, como todos os outros. Só que nele eu decidi uma coisa simples: que ia rir, sempre que possível, dos tropeços do caminho.
É que no Carnaval de Olinda, você aprende que dois corpos (ou mais) podem ocupar o mesmo espaço, que manter um nível muito alto de organização não é assim tão essencial, que dormir bem é relativo, que pão com mortadela em casa e macaxeira com charque na rua são suficientes pra alguns dias de energia, que tem gente de todo tipo nesse mundo, que somos todos iguais na hora de esquecer das mazelas e festejar como se não houvesse amanhã…
E aprende, também, que se alguma coisa der errado, tem outro bloco vindo mais adiante pra você seguir e pular, cantar e rir. Que se você se deixar levar por alguma preocupação ou problema vai perder um dia de alegria. Que os encontros inesperados marcam mais que os desencontros. E que ser feliz é, muitas vezes, questão de escolha.
Que seja Carnaval o ano inteiro dentro da gente, então. Em Olinda ou onde quer que você esteja :)
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2 Comentários
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Sou pernambucana e não curto carnaval (moro em Campinas (SP) Fui a Olinda e constatei que é muito bom o carnaval de Olinda !
Tradição e frevo é tudo de bom !
Que bom que você curtiu, Lu! Concordo que tradição e frevo são coisas incríveis ;) Um abraço!