O que foi esse tal de World Forum for Democracy?
Comentei num post pré-viagem e nesse outro pós-viagem que o motivo pra minhas mini férias na Europa entre o final de outubro e o começo de novembro foi o World Forum for Democracy (Fórum Mundial pela Democracia). Tá, mas que danado foi isso? Contextualizando: essa foi a terceira edição do evento, promovido pelo Conselho da Europa, e teve como tema um questionamento: “A juventude pode revitalizar a democracia?”.
Pra que “a juventude” tivesse espaço pra dizer o que pensa sobre o assunto, foram selecionados 215 jovens de vários países (71, pra ser mais precisa), entre os quais estava euzinha aqui \o/ hehe. Fomos lá pra Strasbourg, onde fica a sede do Conselho (juntinho do Parlamento Europeu, btw), pra mostrar às autoridades lá que sim, merecemos ser ouvidos. E foi massa!
Primeiro, por causa das pessoas. Infelizmente foi impossível conhecer os 215, mesmo com alguns dias de preparação só entre a gente, lá no European Youth Centre, antes de começar o fórum propriamente dito. Também não consegui – ainda – conversar o tanto que gostaria com os que eu conheci. Mas os poucos dias que passamos juntos foram suficientes pra uma dose cavalar de inspiração, porque ó, o povo lá não era fraco não, viu?
No meio desse tanto de jovem tinha gente como David, do Paraguai, que além de falar um português perfeito é presidente de uma organização chamada Reacción Juvenil de Cambio, que trabalha pra combater a corrupção através da educação. Como se não bastasse, ele tem só 23 anos, assim como Leonardo, da Colômbia, que fundou a ONG Bogotart pra democratizar a cultura e empoderar jovens em situação de risco. Eles promovem oficinas, levam arte pras ruas da cidade, conectam os jovens a oportunidades de trabalho e mostram a eles que existem outras possibilidades além de drogas e violência.
E eu não sei o que acontece com o número 23, porque essa é também a idade de Melissa, do Canadá, que foi nomeada entre 10 jovens “impulsionadores de mudanças” pela MTV. Além de ter um ótimo senso de humor, Melissa passou os últimos dois anos e meio trabalhando na Geórgia (o país, não o Estado norte-americano), no Chile e na Indonésia, com projetos relacionados a desenvolvimento comunitário, saúde e direitos das mulheres. Melissa tava comigo no grupo de jornalistas, que produziu material multimídia sobre o evento, e enfrentou comigo as trincheiras do buffet pra conseguir jantar <3
Saindo das américas, encontrei também uma galera massa que usa a comunicação como ferramenta de militância, como Stone, da Uganda, que criou o site A Thing Understood pra produzir textos contextualizados/analíticos a partir de fatos que vão desde a censura a filmes no Quênia ao prêmio Nobel da paz. Sem falar em Zouhir, jornalista freelancer do Marrocos que questiona vários fatos controversos no seu país e não por acaso teve que responder a um longo questionário pra poder ir pra França falar sobre democracia.
Mas sim, além desse povo todo (esses aí são apenas uma amostra, é claro!), teve o fórum em si :) Na abertura, o destaque foi a palestra do economista Jeremy Rifkin, consultor de uma galera nada importante tipo Angela Merkel e autor de vários livros sobre o impacto das mudanças científicas e tecnológicas sobre a economia, a sociedade e o meio ambiente.
Na conversa, ele falou sobre como a digitalização estaria levando a gente a uma sociedade com zero “custo marginal” (o acréscimo no custo total de alguma coisa pela produção de mais uma unidade), o que teria, é claro, grandes efeitos no capitalismo tal como é hoje em dia. O desenvolvimento de soluções mais personalizadas e ambientalmente amigáveis, a internet das coisas, a economia do compartilhamento, o barateamento de tecnologias como smartphones e o poder que a internet confere aos indivíduos foram alguns dos temas abordados, mas se você quiser saber mais, recomendo dar uma lida nisso aqui e aqui, ou comprar o livro dele ;)
Rolaram também outras discussões bem interessantes no hemiciclo do Conselho da Europa :) Além disso, pudemos participar de dois labs, onde conhecemos iniciativas relacionadas a juventude e democracia. No primeiro que escolhi, conheci uma iniciativa de orçamento participativo em escolas da França, Portugal e Inglaterra e descobri que a Turquia tá desenvolvendo um projeto pra estimular a educação em cidadania, democracia e direitos humanos nas escolas – ele já foi aplicado em 22 escolas-piloto pelo país e vai se expandir um bocado, incluindo disciplinas obrigatórias sobre os temas.
No segundo, ouvi as falas superestimulantes de Pia Mancini e Santiago Siri, do Partido de la Red, da Argentina. O partido propõe um novo modelo de participação cidadã, híbrido entre democracia direta e democracia representativa, baseando-se no uso da internet. Também foram massa as colocações mega pertinentes da galera que compunha a mesa: um blogueiro sul-africano, um cara do partido pirata da Islândia e a criadora do DigitalMaidan, um movimento online que levou os protestos na Ucrânia ao primeiro lugar dos trending topics do Twitter.
Resultado: saí de lá com muito mais dúvidas do que antes, algumas possíveis respostas muito instigantes e uma penca de embriões de planos – alguns deles envolvendo essa galera massa de lá ;) Saí, também, com ainda mais certeza de que esse mundão é grande, muitas coisas são diferentes entre nós (e a graça é essa!), mas que no fundo (quase) todo mundo quer a mesma coisa: um mundo mais justo, onde todos possam realizar seus potenciais. Vamos nessa?
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2 Comentários
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Que demais tudo isso! Ler seu post sobre isso me deixou inspirada. Desculpe caso você já tenha falado disso nos outros posts, mas quando você diz que foram jovens selecionados, queria saber: como foi essa seleção? Algum lugar para se inscrever ou algo assim?
De resto, acho maravilhoso tanta gente jovem engajada por aí e as histórias que você mencionou são ótimas! Parabéns!
Oi, Fran! Que massa que você ficou inspirada também \o/ hehe. A seleção foi online; a gente tinha que mandar um vídeo e responder a algumas perguntas sobre nosso trabalho relacionado a juventude e democracia :) Viajamos com tudo pago, foi massa. Eu soube por indicação da presidenta da ONG da qual faço parte, o Mirim Brasil, mas tem sites que publicam essas convocatórias também, como o Edu Active. Obrigada pelo comentário!