Dois anos de blog e fim da Copa
Ontem acabou a Copa do Mundo no Brasil. E hoje o Janelas Abertas completa dois aninhos de vida. Pensei em fazer dois posts separados, mas blog é um troço pessoal, né? E pra mim, pessoalmente, esses dois fatos tão meio que relacionados. Então vai tudo num bolo só mesmo ;)
Primeiro o blog. Quando ele nasceu, eu tava nos últimos preparativos pra ir fazer mestrado em Valladolid, na Espanha. Quando ele completou um ano, eu tava defendendo a dissertação do mestrado e arrumando as malas pra passar uma temporada em Budapeste. Agora, faz quase um ano que tou de volta ao Recife. E olhe tempo pra passar rápido, viu?
Desde essa última volta (“última” no sentido de “mais recente”, só pra deixar claro), minha área de trabalho mudou. Minha visão sobre a minha cidade também – devido não só às coisas que vivi lá fora, mas também ao que tem acontecido no Recife ultimamente. E no meio de tudo isso, meus planos pra o futuro foram se transformando um pouco. O blog – e vocês leitores lindos – teve um papel importante nisso, e terá ainda mais no futuro, se Deus quiser ;)
Em breve, a carinha do Janelas vai mudar. A frequência de postagens, espero, vai voltar ao que era nos meses mais regulares – pelo menos três posts por semana. Um projeto paralelo no qual embarquei de gaiata, e que tem tudo a ver com o blog, também tá tomando forma.
Entre outras novidades que devem vir por aí, a médio e longo prazo, graças a você que me lê :) E graças a essa sede que não passa. Essa vontade que continua me dando – mesmo que por vezes atropelada pelas 354 coisas que eu invento de fazer – de explorar o mundo, de escrever, de compartilhar e de aprender com vocês.
Agora a Copa. Eu sempre disse que se me fosse dada a possibilidade de escolher, lá nos idos de 2006, se o Brasil se candidataria pra sediar o evento, eu diria que não. Achava que não valia a pena por tudo de negativo que o Mundial podia trazer, e que aparentemente trouxe: desvios de verba, desapropriações, elefantes brancos, obras de infraestrutura sendo feitas “nas coxas” e deixando um legado bem longe do ideal, movimentos sociais criminalizados…
Mas ela chegou. E muita coisa ruim aconteceu; muito que a gente nem sabe ainda, muito que a mídia esconde. Felizmente, ao menos, tem gente reforçando o papel social do jornalismo por aí e mostrando um pouco do que há de podre no reino da Dinamarca, como a Mídia Capoeira, Agência Pública, entre outros. Muita coisa negativa pra que a festa fosse bonita, é verdade. Mas uma coisa não posso negar: ela foi bonita mesmo.
Num nível bem pessoal, eu me surpreendi muito com a delícia que foi esse último mês. Nunca dei a mínima pra futebol, não cogitei pagar caro pra ver um jogo, achava que na minha cidade nem ia rolar Fan Fest e que os momentos de jogos iam ser todos em ambientes privados e fechados. Mas quando ela começou, tudo mudou :)
Acabei indo ver dois jogos na Arena Pernambuco e me diverti litros com aquela profusão de torcedores fantasiados, pintados, interagindo, brincando, tirando fotos, trocando itens das suas respectivas seleções… Acabou rolando Fan Fest e aquele lugar virou minha segunda casa por 30 dias. E me peguei assistindo – e prestando atenção de verdade, pela primeira vez na vida – a vários jogos de seleções aleatórias :O
E no meio disso tudo, finalmente aprendi como uma Copa do Mundo pode ser fascinante, dramática, divertida e – o que é mais legal – o potencial que ela tem pra criar um clima de conversa global, mesmo que temporário. Esse evento, mesmo que indiretamente, trouxe coisas ruins pra muita gente e disso não podemos nos esquecer. Mas também criou uma vibe muito especial em terras brasileiras, transformando meu Recife e outras sedes outrora tranquilinhas e desconhecidas do ‘público internacional’ em cidades cosmopolitas do dia pra noite. Como resultado, vi e vivi um intercâmbio cultural intenso, num país onde poucos podem viajar e entrar em contato com outras realidades.
Fazendo uma mini retrospectiva, várias lembranças alegres vêm à mente – bem mais fortes que o sofrido 7×1, aliás ;) Como o dia em que levei um grupo de mexicanos pra um bar pé-sujo aqui no Recife e vi os caras batendo papo em portunhol e mímica com senhoras que tavam por lá, achando tudo maravilhoso apesar da péssima estrutura e da cerveja quente. Ou as conversas que tive com taxistas e garçons cheios de histórias pra contar sobre coisas que aprenderam e ensinaram aos gringos.
Também ouvi de um americano que ele tava muito feliz porque aqui as pessoas falam olhando no olho, enquanto outro chegou a afirmar que depois do tempo passado no Brasil tinha vontade de ser uma pessoa melhor e mais generosa, vejam só. Vi gente que nunca tinha pensado em conhecer minha cidade aprendendo a comer farofa (que não, não é areia) e lembrando à nossa gente o quanto a gente é massa :) E esses são só alguns exemplos, e você que tá lendo provavelmente tem sua cota de histórias pra contar.
Mas agora os dois assuntos juntosemisturados. Como disse uma amiga, no último mês o mundo quase todo coube no Brasil. E isso, acredito, lembrou a muita gente o quanto esse mundo é grande, diferente, controverso. E ao mesmo tempo, formado por pessoas! Seres humanos que entre uma cerveja e um gol, entre um passinho de frevo e uma tapioca, podem ter ajudado a reforçar o espírito de que no fundo, todo mundo tá junto em pelo menos uma coisa: querer ser feliz.
O orgulho de ser de um país que recebe tão bem se misturou à alegria de conhecer tanta gente diferente e trocar experiências. O futebol era só um pretexto: o mundo é um só e tá aí pra gente conhecê-lo, abrindo as nossas janelinhas internas pra o que ele tem a oferecer. Vamos nessa?
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