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Desafiando seus Sonhos

Viajantes | 18/09/12 | Atualizado em 20/06/16 | Deixe um comentário

Todo mundo sabe que viajar vicia, né? Não satisfeitos com apenas uma grande viagem, muitos fazem questão de repetir a dose. Foi o caso da paulista Grace Downey, 35 anos, e do inglês Robert Ager, 47, idealizadores do Challenging your Dreams (Desafiando seus sonhos). Entre 2002 e 2005, eles partiram em uma Land Rover mundo afora. Na volta, lançaram um livro sobre a experiência. Mas queriam mais. 

Em dezembro de 2009, Grace e Robert começaram outra expedição, intitulada Brasil por Terra e concluída um ano depois. Dela, nasceu outro livro: Challenging your dreams: Brasil por terraHoje eles participam de eventos e ministram palestras pra empresas, faculdades e escolas. “O projeto se tornou nosso meio de vida e continua sendo um sonho e um desafio”, resume Grace.

Professores de educação física e apaixonados por viajar e acampar, eles deixaram famílias e amigos chocados ao avisar que iam largar tudo e viajar em busca de um sonho. “No começo, ficaram achando que éramos malucos. Mas depois nos apoiaram”, conta Grace. 

A escolha por ir de carro partiu da liberdade pra partir quando quisessem. No caminho, dormiam em uma barraca no teto do veículo. Na primeira expedição, visitaram 50 países nos cinco continentes. “Gostamos muito do sul da África (África do Sul, Namíbia, Botsuana). Essa região superou nossas expectativas, que já eram altas”, recorda. Entre os desafios, a travessia do deserto do Saara. “Se você se perder ali, pode morrer”. 

No segundo projeto, o casal queria mostrar que também é possível conhecer cada cantinho do Brasil. “Todo mundo fala que o Brasil é muito perigoso, mas basta ter bom senso. Esse País não é explorado à altura do seu potencial”, opina. No site, eles criaram uma seção com dicas úteis sobre vários Estados brasileiros.

Confira entrevista com Grace:

Quando decidiram partir pra primeira viagem?

Saímos em janeiro de 2002 e decidimos apenas seis meses antes. Sempre falávamos que um dia íamos sair para viajar, então marcamos a data e começamos a organizar tudo. Na verdade foi uma loucura total, mas queríamos marcar uma data pra não ter desculpa. Tem que ter planejamento, mas também uma data, uma meta. Foi correria, mas deu tudo certo. 
Você nunca vai conseguir planejar tudo, ter dinheiro suficiente, o tempo ideal, mas tem que fazer o que dá e o resto vai adaptando no caminho. 

Como bancaram o projeto?

Quando saímos de São Paulo, tínhamos dinheiro apenas pra o primeiro ano. Então paramos na Inglaterra por sete meses pra trabalhar e juntar mais dinheiro (porque meu marido é inglês) e continuamos por outros dois anos. 

Acampando na beira do Rio Juquiá (SP)

Visitaram todos os lugares que tinham planejado?

Alguns lugares estavam no nosso planejamento inicial, mas quando chegamos não deu, como o Sudão, que estava em guerra. Então mudamos um pouco o roteiro porque vimos que não valia a pena arriscar. O Iraque também estava com uma situação ainda ruim. Alguns riscos são maiores que outros e não valiam a pena.

Que países marcaram mais?

Vários lugares são especiais, mas uma região que gostamos muito foi o sul da África (África do Sul, Namíbia, Botsuana). Sempre tivemos uma expectativa enorme de conhecer essa parte do mundo, como se fosse um Discovery Channel particular, e superou todas as expectativas. Como tínhamos um carro estruturado pra isso, tínhamos liberdade para fazer os safaris pelo tempo que quiséssemos, então foi espetacular, marcou muito. É uma região que a gente com certeza recomenda e gostaria de voltar. O deserto do Atacama, o Canadá e a Índia também são interessantíssimos.

Rio Amazonas

E qual foi a parte mais desafiadora?

A travessia do deserto do Saara. Passamos por um cantinho dele, nesse trecho nos juntamos com mais dois carros por questões de segurança. Caso você se perca no meio do deserto pode morrer lá, porque ninguém vai lhe encontrar. A travessia foi super tranquila, sem problemas. Logo depois, fomos pra um percurso sozinhos numa região bem inóspita. Se alguma coisa tivesse acontecido lá estaríamos em sérios apuros. Tinha trilhas com pedras, alguns vilarejos não tão amigáveis.

Que balanço faz sobre essa primeira viagem?

No geral, tem muito mais coisa boa e pessoas boas no mundo do que problemas e pessoas ruins. Um dos nossos objetivos é falar isso, as pessoas sempre focam nas coisas negativas e queremos mostrar justamente o contrário.

Pra explorar o Brasil, como fizeram?

Queríamos passar por todos os Estados brasileiros e tínhamos um roteiro geral no mesmo estilo da primeira viagem. Dessa vez tínhamos que evitar não o frio, mas as épocas de chuva, porque as estradas ficam muito ruins. Começamos descendo pro Sul, depois subimos até o Pantanal. A região Norte do Brasil é totalmente diferente do Sul, foi muito interessante.

Búzios (RJ)

Esse segundo projeto foi mais fácil?

Foi, porque já tínhamos experiência e porque não tinha a questão de fronteiras, burocracias. Tem algumas estradas bem ruins, mas como temos um carro adaptado não foi tão complicado. Um dos maiores desafios é de Manaus pra Porto Velho, a única estrada que tem, uma BR, na verdade é uma trilha. São 600 km, 700 km sem ninguém e várias pontes que não são mantidas. Demoramos quatro dias pra fazer esse percurso, andando a 15 km por hora. Foi bem tenso, um desafio grande, mas graças a Deus a gente conseguiu passar. Outra parte difícil foi atravessar o rio Amazonas. É difícil conseguir uma balsa para ir junto com o carro. 

E o balanço dessa segunda viagem?

Quisemos mostrar que é possível. Todo mundo fala que o Brasil é muito perigoso. É claro que existe o risco, como em qualquer lugar, mas se você tiver bom senso, no fundo temos mais pessoas boas do que ruins. Outra coisa é que o Brasil é maravilhoso, tem muita coisa bonita para se conhecer, praia, floresta, sertão, chapada. É um país muito rico e não explorado à altura do potencial que tem. Os próprios brasileiros vão pra fora antes de visitar o próprio país.

Vocês pensam em ter filhos?

Sim. Se começarmos uma família realmente fica um pouco mais complicado no início, mas depois pretendemos levar junto. É outro ritmo de viagem, mas é totalmente possível. Conhecemos várias famílias viajando.

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Contei um pouco da história de Grace e Robert pela primeira vez no caderno de Turismo do Jornal do Commercio, em setembro de 2011. Todas as fotos que ilustram o post são creditadas ao projeto Challenging your dreams, de autoria de Grace Downey e Robert Ager.

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