Vozes Roubadas: diários de Guerra escritos por crianças
“Eu pensava que as guerras aconteciam às outras pessoas”.
Você já leu o Diario de Anne Frank? Eu também. Mas nem eu nem (provavelmente) você começamos, pouco depois da leitura, nosso próprio diário de guerra. A bósnia Zlata Filipovic sim. Aos 11 anos, ela testemunhou a chegada da guerra no seu país, em abril de 1992, e começou a escrever sobre os horrores que aconteceram na Bósnia e o novo modo de vida que sua família foi forçada a adotar, sem água ou eletricidade e com muito pouca comida.
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Os escritos a fizeram ser conhecida como “a Anne Frank da Bósnia”, alcançando grande sucesso depois de serem publicados com o nome O Diário de Zlata – que ainda não li. Então por que tou falando nisso aqui? É que acabei de terminar outro livro, organizado por Zlata em parceria com a poeta inglesa Melanie Challenger, que inclui um trecho do diário original.
“Está bem, não entendo nada, é verdade que sou ‘pequena’, que a política é coisa dos ‘grandes’. Mas mesmo assim tenho a sensação de que os ‘pequenos’ iam saber fazer política melhor que os ‘grandes’. Com toda a certeza a gente não teria optado pela guerra”.
Vozes Roubadas – Diários de Guerra é uma compilação de, como o próprio nome indica, diários escritos durante guerras. Mas não são quaisquer diários: todos eles foram escritos por crianças e adolescentes. Não, não é um livro de viagem propriamente dito (assim como Stasilândia e Flor do Deserto, que já apareceram aqui no blog). Mas ele nos leva, sim, numa viagem histórica através de mentes que testemunharam/participaram tão precocemente de terríveis conflitos em várias partes do mundo.
Acompanhados de breves e úteis contextos históricos, os relatos nos oferecem uma imagem autêntica, real e íntima do cotidiano e do horror de não uma, mas várias guerras. No livro, encontramos 14 diários que vão desde a Primeira Guerra Mundial à invasão do Iraque, passando por distintos momentos da Segunda Guerra Mundial, pela Guerra do Vietnã, pela Guerra dos Balcãs e pela Segunda Intifada, no Oriente Médio.
“Acho que me tornei uma pessoa mais velha, muito mais velha e assustada durante aquele curto período que passei com a cara metida no chão!”
Em alguns momentos, vemos pontos de vista opostos, que nos ajudam a despir-nos de qualquer maniqueísmo: o relato de uma menina palestina vivendo em meio à ocupação israelense vem logo depois do de uma jovem judia com medo de ataques terroristas. Um jovem soldado neozelandês que falava do dia a dia no combate tem seu diário encontrado por um oficial nazista, que continua escrevendo nas páginas seguintes. E assim por diante, vemos o dia a dia do jovem soldado e as privações da criança presa com a família no porão de casa. Vozes tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo.
Desespero, revolta, compaixão, medo, injustiça e a consciência da perda da inocência são elementos presentes na maioria dos registros. Os autores dos diários nos confessam detalhes simples e humanos, falando de animais de estimação ou contando que são fãs de Michael Jackson. E falam da saudade de coisas simples do cotidiano, agora inacessíveis, como as aulas na escola, as brincadeiras com os amigos, as comidas preferidas, a natureza. Em sua maioria, encaram o diário como um amigo, um confessionário e um refúgio.
“É o aniversário do imperador! Como mimo, recebemos uma lata de abacaxi para cada três mulheres e uma caixa de sabão Rinso para cada quatro mulheres. Que festa!!!”.
A visão das crianças sobre os acontecimentos oferece um retrato pessoal e imediato, não influenciado por frias análises posteriores. Como resultado, nos deparamos com registros históricos muito poderosos. São relatos de coragem, compaixão e que revelam um nível de maturidade absurdo – em incontáveis momentos, me peguei boquiaberta ao pensar que aquelas linhas haviam sido escritas por alguém tão jovem. São vozes que a guerra tentou calar, mas não conseguiu.
E, além de me emocionar, foi inevitável imaginar as vidas, inquietudes e anseios que estarão por trás das outras tantas vítimas de conflitos do passado e do presente, cujas histórias desconhecemos e que só chegam a nós como números em reportagens ou livros de história – ou nem isso.
“Às vezes, quando converso e rio durante as refeições, paro subitamente e pergunto a mim mesma: ‘Que razão você tem para rir? A situação em que se encontra é terrível demais para rir dessa maneira. Então PARE COM ISSO!'”.
Como bem define Zlata, “Vemos a guerra como um conceito enorme e alienígena, quase impossível de ser plenamente entendido. Ao conhecer as pessoas que a vivenciaram, cresceram em meio a ela e compartilharam conosco seus fragmentos diários, podemos dividir o conceito da guerra em pedaços menores e começar a entender o que ela significa”. Nesse sentido, “Vozes Roubadas” ajuda a abrir os olhos e o coração. Recomendo.
“Imagino como será a vida quando a guerra acabar. Acho que a primeira coisa que farei será ir às ruas dançar, então, diário, se um dia vir uma menina louca dançando pelas ruas, saiba que terá chegado o fim da guerra e que esta garota serei eu”.
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4 Comentários
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Vou ler! :D
Leia mesmo! :) E venha aqui depois contar o que achou, hehe. Um abraço
Gostei! Nem sabia desse livro, mas desde criança sou fã da Zlata com “O diário de Zlata” então vou comprar sim!
Oi, Fernanda! Acredita que eu só fui conhecer “O Diário de Zlata” agora? Antes tarde do que nunca, né? :P Leia esse sim, com certeza você vai gostar. Um abraço!