Marrocos

O que fazer em Fez, no Marrocos: meu roteiro

Se você está planejando uma viagem ao Marrocos e se pergunta o que fazer em Fez, prepare-se para conhecer em uma das cidades mais fascinantes do país. Diferente de destinos como Marrakech, Chefchaouen e Essaouira, onde o turismo é mais evidente, a medina de Fez me pareceu mais “autêntica”, e mesmo na medina (cidade antiga) e no souk (mercado) eu vi mais moradores que estrangeiros.

Passei três noites na cidade durante uma viagem de 10 dias sozinha no Marrocos e adorei. Se quiser conferir meu itinerário completo e um resumo dos atrativos das outras cidades por onde passei, leia meu artigo “O que fazer no Marrocos: Roteiro de 10 dias”.

Fez já foi capital do Marrocos e continua sendo um centro cultural e espiritual muito importante. Se você ficar na medina dá para fazer tudo a pé, e com dois dias inteiros você consegue explorar os principais atrativos com tranquilidade.

A seguir, vou contar sobre as atrações de Fez e como foi minha experiência lá.

aeroporto de fez

Primeiros passos em Fez

Contratei um transfer privado para me buscar no aeroporto de Fez porque essa era minha primeira cidade no Marrocos e eu tinha ouvido falar sobre golpes e dificuldade de negociar com taxistas. No fim das contas acho que teria sido tranquilo me deslocar por conta própria.

Depois de uns dias no país eu me acostumei às dinâmicas locais e peguei vários táxis na rua sem problemas, mas foi bom ter esse conforto e não me preocupar com nada ao chegar. Quem reservou o transfer para mim foi o dono do riad onde me hospedei, que ficava dentro da medina. Foi o Riad Arabella, e achei o custo-benefício excelente.

Caso você não saiba, um riad é uma casa ou palácio tradicional marroquino, caracterizada por um pátio ou jardim interno, geralmente com uma fonte central, que oferece privacidade e um refúgio do caos exterior. Muitos estabelecimentos turísticos restauraram estas mansões tradicionais, e elas são uma ótima opção de hospedagem no Marrocos.

riad em fez

Fui recebida pelo proprietário do riad com um tradicional chá de menta, gesto que simboliza a hospitalidade marroquina. Depois de me instalar no quarto e conversar um pouco com ele, saí em busca de uma loja de chip de celular, para ficar conectada à internet enquanto estivesse no Marrocos. Olhei o caminho para a loja no Google Maps usando o wi-fi do riad, mas quando saí de lá fiquei offline.

E aí experimentei o que significa caminhar pelos labirintos de Fez: me perdi totalmente na medina (área conhecida como Fes El Bali). Passei cerca de uma hora muito confusa e pedi informação para várias pessoas, mas infelizmente elas não falavam francês nem inglês e não souberam me indicar o caminho. Uns rapazes até ofereceram ajuda, mas eu tinha escutado que eles poderiam me cobrar no final, e eu nem tinha dinheiro local ainda, então achei melhor recusar.

Não surpreende que eu tenha me perdido: dizem que a medina tem mais de 9.500 vielas! Cheguei a ficar um pouco nervosa, já que não via turistas e ainda estava entendendo a cultura local, mas acabei achando um senhor que soube me ajudar e deu tudo certo.

roteiro em fez

Acabei encontrando as lojas da Maroc Telecom e da Orange, duas das principais companhias telefônicas de lá. A atendente foi prestativa e me vendeu um pacote de dados suficiente para os 10 dias que eu passaria no país. Ela ativou tudo no meu telefone e, conectada, eu consegui me orientar melhor na cidade. Também saquei dinheiro num caixa eletrônico e fiquei muito mais tranquila.

Já era início da noite, então fui jantar num restaurante indicado pelo dono do meu riad, o Yalla Yalla, que foi um dos meus preferidos no Marrocos. O próprio dono do restaurante me atendeu e foi super simpático. A comida estava bem saborosa e o lugar é bonito e tem vista para a rua, então fiquei um tempão sentada observando os marroquinos. Senti uma imensa gratidão por estar ali, realizando o sonho de conhecer o país.

O que fazer em Fez: principais atrativos

No dia seguinte, decidi participar de um free walking tour em Fez. Eu adoro esse tipo de passeio guiado a pé, em que você paga no final o valor que achar justo (em geral, recomenda-se algo em torno de 10 euros ou mais). É uma ótima forma de se situar, aprender mais sobre a história local e, com sorte, conhecer outros viajantes.

Escolhi o Funky Walking Tour, anunciado no site GuruWalk, e achei ótimo. O passeio é guiado pelo simpático Abdelali. Durante três horas de caminhada, visitamos algumas das principais atrações de Fez e passamos também por lugares pouco conhecidos de turistas, como um ponto com vista panorâmica, onde o guia nos explicou sobre a história e geografia da cidade.

mirante

Depois de circular por vielas mais tranquilas na medina, percorremos diferentes áreas do souk. Cada uma é especializada em um tipo de item, como tapetes, objetos de cobre, sapatos, tecidos, porcelanas, roupas de casamento, doces e temperos. Destaque para a Praça Seffarine, onde artesãos do cobre trabalham ao som metálico dos martelos.

souk de fez

tapetes à venda no souk

Conhecemos a história da Universidade al-Qarawiyyin, fundada em 859 por uma mulher, Fátima al-Fihri, e reconhecida pelo Guinness como a mais antiga do mundo. Ela começou como uma madraça (escola de estudos islâmicos) e se expandiu. Alguns dizem que essa universidade foi inspiração para as primeiras universidades europeias, criadas séculos depois. Só olhamos o espaço de fora, porque a entrada não é permitida para não muçulmanos.

Fomos também na madraça (escola islâmica) Bu Inania, que tem uma arquitetura lindíssima. Durante o tour não entramos, mas voltei lá depois e adorei. É cobrada entrada, mas era só 20 dirhams (2 euros). Se você já tiver ido na madraça Ben Youssef em Marrakech, acho a visita dispensável porque é bem parecida, mas se não, vale a pena demais. Outro lugar especial em Fez é a madraça Al-Attarine. Tem também algumas mesquitas e mausoléus bonitos, mas quem não é muçulmano só pode ver de fora.

O que fazer em Fez, no Marrocos

E claro que não poderíamos deixar de visitar o famoso Curtume Chouara, em operação há mais de mil anos. Eles ainda usam métodos tradicionais de curtimento de couro em tanques com tintas naturais, onde são tingidas peles de animais como boi, cabra e cordeiro. Provavelmente você já viu fotos de lá, com dezenas de tanques coloridos vistos de cima.

Se você for vegano, pode ser uma visita desagradável. Mas além de ser uma cena bonita, é interessante observar a longevidade da tradição, com artesãos transmitindo as técnicas de geração em geração.  O cheiro é forte, mas não achei tão ruim quanto imaginava, e a menta distribuída pelos guias ajuda um bocado. Ah, na entrada do curtume tem lojas vendendo vários itens de couro e achei muita coisa linda, mas não podia comprar nada e não me senti pressionada.

curtume em fez

Depois do tour, fui almoçar com meus novos amigos no restaurante Benyamna, que tem um terraço super gostoso (esse da foto abaixo). O lugar era silencioso e tinha uma brisa tão boa que foi difícil sair de lá. Ficamos um bom tempo sentados descansando e curtindo a vibe.

restaurante em fez

Outro ponto turístico popular no souk de Fez é a chamada Rainbow Street, uma ruela colorida que além de ser pintada também abriga várias pinturas e outros objetos de arte. Não achei muito especial, mas vale dar uma passada.

rainbow street

Roteiro em Fez além do souk

Depois do walking tour, continuei explorando outras áreas da cidade com outros turistas que conheci no passeio. Se você for mulher e estiver no país sem companhia como eu, recomendo se juntar a outros viajantes para ficar mais à vontade. Escrevi aqui no blog um artigo completo sobre como foi viajar sozinha pelo Marrocos.

No dia seguinte, nos reencontramos e fomos andando pelo souk até o Blue Gate (Porta Azul), um dos portões que separam a medina de Fez da parte mais nova da cidade. Fez tem vários restaurantes e cafeterias com terraços (rooftops) com vista, mas meus preferidos foram os que ficam logo junto ao Blue Gate. Teve um dia em que passei horas no Restaurante Bouanania curtindo o entardecer.

blue gate

Do lado de fora do portão fica a Place Boujloud, e cruzando a praça chegamos até o Parque Jnan Sbil, um dos poucos espaços verdes nessa parte da cidade. Depois de tanta informação e tanto estímulo sensorial, foi ótimo desacelerar ali um pouco, entre árvores e fontes. Achei o parque bem agradável.

O que fazer em Fez, no Marrocos

parque

De lá continuamos andando até o bairro judeu de Fez (Mellah), onde hoje moram pouquíssimos judeus. Os negociantes marroquinos assumiram os mercados por lá, e onde antes funcionavam luxuosos mercados de tecido hoje se encontram lojas de roupas “comuns”, com cara de que foram importadas da China.

Ainda assim, achei interessante percorrer essa parte bem menos turística da cidade, perambular pelas vielas, observar a diferença na arquitetura das casas (e na sua conservação, já que muita coisa tinha um ar de abandono), visitar uma antiga sinagoga e ver um antigo cemitério.

sinagoga

cemitério em fez

Quando estávamos por lá, um senhor começou a nos acompanhar, mostrando lugares e contando histórias. No começo parecia gentileza, mas logo percebemos que ele pediria depois uma gorjeta. Fomos no embalo mesmo assim, e apesar de termos entendido pouca coisa do que ele disse, foi até divertido. No final, cada um deu algumas moedas e ele reclamou um pouco pedindo mais dinheiro, mas acabou aceitando e foi embora.

Na volta do bairro judeu fizemos uma parada para ver as portas do Palácio Real de Fez, ali pertinho. Um dos maiores e mais antigos do Marrocos, ele data do século 14 e foi construído fora da antiga medina. Infelizmente não é possível entrar, mas valeu a pena observar as portas, que são enormes e cheias de detalhes.

palácio real de fez

À noite, fui em um café local, lotado de marroquinos, ver um jogo de futebol junto com meus novos amigos viajantes. Eu e uma alemã éramos as únicas mulheres no lugar, mas achamos bem tranquilo e fomos muito bem atendidas. Como o pessoal lá não consome álcool, a maioria estava tomando só água, chá ou suco. Eu pedi um omelete e uma vitamina de abacate (combinação improvável para uma noite vendo futebol, né?). Foi daquelas experiências que não estão em guias turísticos e deixam boas lembranças.

Curiosidades e dicas de viagem para Fez

Fez é uma cidade cheia de particularidades culturais, muitas das quais descobri ou entendi melhor no free walking tour. Por exemplo, o lixo da medina é recolhido por homens em burros, as casas antigas não tinham água encanada e por isso há tantas fontes públicas espalhadas, e as entradas em arco geralmente indicam espaços de uso coletivo, como escolas, mesquitas ou hammams (espaços de banho públicos).

Algumas dicas práticas para aproveitar seu roteiro em Fez:

  • Prefira se hospedar em um riad dentro da medina para curtir bastante a atmosfera da cidade e fazer tudo a pé. Clique aqui e confira as melhores opções para seu orçamento e as datas da sua viagem. Eu recomendo o Riad Arabella, onde fiquei. Paguei um valor bem razoável por uma suíte privativa com café da manhã, tudo limpo e organizado. São poucos quartos e a equipe (exceto a moça da cozinha) era formada por homens, mas me senti segura mesmo viajando sozinha. Achei a localização conveniente (perto de um dos portões de saída da medina) e o dono foi bem solícito, me ajudando a contratar um transfer na chegada e a pedir um táxi na rua na saída.
  • Um bom lugar para sacar dinheiro sem taxas é o Al Barid Bank. Tem um no souk e um perto do Blue Gate. Caixas eletrônicos de outros bancos cobram taxas por saque.
  • Na cotação atual (2025), 100 dirhams (MAD) equivalem a cerca de 10 euros. Eu levei um cartão Wise com euros e saquei dinheiro lá. Poucos lugares aceitam pagamento em cartão.
  • A melhor época para visitar Fez é na primavera ou no outono. O verão é muito quente. Eu fui no fim da primavera e tive uma amostra do calor – foi mais do que suficiente.
  • Caso você vá sozinha e esteja com receosa de se perder na medina como eu, recomendo evitar chegar lá à noite e, se possível, conseguir um sim card internacional do tipo e-Sim, que pode ser ativado assim que você sair do avião, ou comprar um no aeroporto.
  • De lá, recomendo ir para Chefchaouen, conhecida como “cidade azul”. Ela é muito fofa e é fácil de chegar de ônibus.

estação de ônibus de fez

Vale a pena visitar Fez, no Marrocos?

Na minha opinião, vale demais. Fez pode ser um pouco intimidadora no começo, porque a presença dos turistas não é tão evidente e nos sentimos mais estrangeiros, mas é justamente isso que faz dela um destino especial. Minha percepção foi de que a vida por lá (mesmo na medina e no souk) tem menos foco em estrangeiros, ainda que o turismo seja um dos principais setores econômicos da cidade.

Gostei muito dos dias que passei por lá. Entre perder-se nas vielas, observar o trabalho dos artesãos, sentar-se em um café e admirar a arquitetura detalhadíssima das madraças e outras construções, Fez foi uma boa porta de entrada para o Marrocos. E ainda tinha muito mais coisa boa por vir!

Curtiu esse artigo sobre o que fazer em Fez? Se tiver alguma dúvida, me escreve lá no Instagram @janelasabertas.

doces em Fez

 

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