Recife: como é a visita ao museu Cais do Sertão
Na entrada, um juazeiro. Seco, com mais de 50 anos e pesando 10 toneladas, ele foi trazido do interior de Pernambuco pra junto do mar. Seu trabalho, agora, é receber os visitantes do Cais do Sertão, no Bairro do Recife, um dos equipamentos culturais mais interessantes da cidade – e um dos museus mais legais que já visitei no Brasil.
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Dedicado a retratar a vida e a cultura do Sertão nordestino, terra de origem e fonte de inspiração do grande Luiz Gonzaga, o museu usa a vida desse artista pernambucano como fio condutor, ao mesmo tempo em que mistura o tradicional ao moderno.
O Cais do Sertão foi instalado no lugar de antigos armazéns no Porto do Recife e aproveita vários recursos tecnológicos pra possibilitar interação e diversão enquanto a gente vive um pouco dessa realidade tão brasileira. Esse mergulho tá dividido em diferentes facetas: viver, trabalhar, cantar, ocupar, crer, migrar e criar.
É difícil não se impressionar desde os primeiros passos. O espaço é amplo e mescla de maneira natural a reverência à obra de Gonzagão – podemos ouvir suas músicas, conhecer seu percurso, tocar instrumentos e até cantar – à história do Sertão.
Já no começo, encontramos as roupas e a sanfona do artista, a reprodução de uma casa sertaneja, depoimentos e explicações sobre objetos e personagens típicos dessa região. É uma aula bem lúdica sobre coisas que tão aqui pertinho da gente, mas frequentemente não recebem o devido valor. Pra quem vem de fora, a curiosidade deve ser ainda maior :)
Entre o barro e o touch screen, eu e todo mundo que conheço que já foi lá ficamos encantados. Num jogo apresentado por Tom Zé, somos desafiados a pensar em soluções para a seca. Aqui e ali encontramos brinquedos e objetos de trabalho sertanejos. Num espaço fechado, vemos um curta-instalação do recifense Kléber Mendonça Filho.
Num túnel todo modernoso, ouvimos vários sinônimos de diabo: demônio, coisa ruim, capeta, satanás… E em duas salas, uma na entrada e outra ao fundo do andar térreo, são exibidos curtas assinados por cineastas como Lírio Ferreira, Paulo Caldas e Marcelo Gomes.
O Sertão vai virar mar, o mar vai virar Sertão
A essa altura, você provavelmente já vai estar achando tudo muito bom, muito legal, mas ainda tem mais! Suba as escadas e encontre umas surpresas no primeiro andar ^^ A minha parte preferida é homenagear Gonzaga, o inventor do baião, com minha cantoria linda (só que não) no karaokê :D
Depois de escolher entre alguns dos grandes sucessos do artista (tem “Olha pro céu, meu amor”, “Asa Branca”, “Qui nem Jiló”, entre outras) e arrasar no gogó, dá pra ouvir o resultado – e rir bastante, se você tiver habilidades musicais similares às minhas. Uma pena que não é possível enviar o áudio pra nosso e-mail ou redes sociais, né? Ia ser divertido e ajudar a divulgar o museu – ficadica :)
Também no primeiro andar, podemos bater um papo com emigrantes sertanejos. São várias telas com depoimentos de pessoas que saíram do Sertão e arredores (incluindo outro Luiz, nosso ex-presidente) e levaram a cultura dessa região e as canções de Gonzaga Brasil afora.
Enquanto a gente não tá sentado ouvindo o que eles têm a dizer, eles ficam nos esperando, se mexendo, se ajeitando na cadeira e coisa e tal. :) Pra completar, tem ainda uma sala onde ficam à disposição dos visitantes uma série de instrumentos musicais pra desenrolar um forró, xote ou baião.
A curadoria e a direção de criação do Cais são assinadas pela pernambucana Isa Grinspum Ferraz, que também trabalhou na concepção do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, considerado referência nessa vibe de tecnologia e interação. E além dos cineastas que já mencionei, grandes nomes como o xilogravurista e cordelista J. Borges e o artista plástico Derlon Almeida também produziram conteúdo pra o museu.
Ao lado desse primeiro módulo do Cais do Sertão, também tá em construção um Centro Cultural com auditório, salas pra oficinas, restaurante, café, loja etc, que deve ser inaugurado no final do ano. Quando estiver pronto volto aqui pra mostrar também, é claro ;)
Serviço:
O Cais do Sertão abre de terça-feira a domingo.
Localização: Avenida Alfredo Lisboa, um pouco depois do Marco Zero, no Recife Antigo.
Entrada gratuita nas quintas-feiras.
Confira o horário de funcionamento e mais informações na fanpage.
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8 Comentários
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Mesmo sendo daqui da terrinha, só ontem fui vistar o Museu e fiquei fascinada, devido a outro compromisso não aproveitei muito, mas cantei no karaokê e Luiz Gonzaga deve ter se revirado no túmulo, quero ir outras vezes pra aproveitar mais os espaços interativos. Adorei o seu relato aqui.
Oi, Angélica! O museu é lindão mesmo, né? É bom voltar várias vezes mesmo! Fui umas quatro e ainda não vi/mexi em tudo… Obrigada pelo comentário ^^
Estive em Recife várias vezes, mas não sabia que havia um espaço tão rico de acervos sobre o rei do baião. Confesso que me surpreendeu em vê-las apenas pelas páginas do site. Muito bacana mesmo. Ainda retornarei ao Recife para visitar o espaço.
Oi, Ana Lúcia! Que bom que você gostou do post :) Volte mesmo, porque o museu vale muito a pena! Um abraço
Estou indo a Recife no próximo final de semana e se já estava interessada em conhecer o Cais do Sertão, depois desse post fiquei com mais vontade ainda. Estarei indo do aeroporto direto para o Recife antigo de mala e cuia, você saberia me dizer se existe algum lugar pra guardar bagagem enquanto exploro o bairro? Confesso que não tive boas referências em relação a segurança pública da cidade… Sua página é ótima, parabéns! :D
Oi, Roberta! Infelizmente não conheço nenhum lugar pra guardar bagagem… :/ Não sei se no próprio museu existe um guarda-volumes. Tem também um albergue no Recife Antigo, o Azul Fusca. Talvez você possa escrever pra eles e perguntar se podem oferecer esse serviço mesmo que você não se hospede lá. Boa sorte! Espero que você goste da cidade :D Ah, e sobre a segurança, basta ficar ligada e não andar por lugares muito desertos, principalmente à noite. Um abraço
Estou amando este blog!
Ah, que massa! :) Muito obrigada, Gabriela!