Perrengues de viagem: abandonada num campo de concentração
Nem todo momento de uma viagem é instagramável. Aliás, muitos deles são o oposto disso: situações estressantes, esperas chatas e imprevistos bizarros não costumam render boas fotos e gerar likes. Faz parte, né? Alguns desses momentos a gente nem acredita que tão acontecendo, mas pra quase tudo há solução – e, depois da agonia, os souvenires são o aprendizado (que às vezes nem serve de muita coisa) e as histórias (que ao menos rendem umas risadas em mesa de bar).
Já falei aqui de 10 erros que cometi viajando. Resolvi aproveitar antes que minha memória pife de vez pra relembrar outras situações não muito agradáveis que passei por aí, começando por uma das mais recentes: o dia em que fui abandonada no memorial de um campo de concentração na Alemanha.
Aproveita pra rir da minha cara e depois me conta: quais foram seus piores perrengues de viagem?
Abandonada num campo de concentração
Quem me conhece sabe: eu sou dessas pessoas que tentam ser sempre prevenidas. Faço lista do que levar na mala, salvo documentos na nuvem, checo endereços e horários mil vezes e todas essas atitudes típicas de pessoas controladoras organizadas e responsáveis. Mas de tanto ouvir o velho “se preocupa menos, relaxa”, acabei resolvendo levar o conselho a sério – só não escolhi um bom momento pra isso.
Explicando: eu tava num acampamento no meio do nada no sul da Alemanha e resolvi passar um dia no memorial do Campo de Concentração de Dachau. A equipe do acampamento tinha criado uma mini “agência de viagens” pra organizar passeios como esse, e eu me inscrevi junto com os dois brasileiros que tavam comigo pra ir até lá num ônibus fretado por eles. A moça responsável já tava perdendo a paciência comigo, porque confirmei umas três vezes os horários de ida e de vota. Suspirando, ela me falou sempre o mesmo: sairíamos às 17h e chegaríamos ao camping às 19h. Anotado.
Chegado o dia, acordamos cedinho e fomos, no melhor estilo The Walking Dead, até o ônibus. Peguei no sono num instante, depois de uma noite congelante e mal dormida, e só despertei quando o pessoal já tava descendo do busão. Ainda sonolenta, pensei em confirmar com o motorista, pela milésima vez, o horário da volta, mas eis que me aparece aquela voz: “se preocupa menos, relaxa”. Minha consciência respondeu: “você já confirmou, tá tranquilo”.
Seguimos a manada de gente até a entrada do memorial e nos separamos do grupo enquanto explorávamos o lugar. Quando, já exaustos, terminamos de ver tudo que nos interessava, ainda faltava quase uma hora pras 17h. “Vamos indo com calma pro estacionamento pra não ter estresse, né?”. Fomos.
Deu 16h30, 16h40, 16h45 e nada do pessoal do nosso grupo. Comecei a me preocupar: não era possível que todo mundo tivesse deixado pra aparecer de última hora – inclusive o próprio ônibus. A preocupação foi crescendo, até que me aproximei de outro motorista que tava de boinhas por lá e perguntei, num alemão tipo idade da pedra, se ele tinha visto nossa galera.
A resposta dele fez meu coração pular umas batidas: eles tinham ido embora às 16h, claramente sem fazer a contagem de passageiros e perceber que faltavam três pessoinhas. O novo horário de saída tinha sido avisado, descobri depois, durante o percurso (sim, aquele mesmo percurso em que dormíamos profundamente).
Sem celular europeu, não tínhamos como ligar nem mandar mensagem pra ninguém. Deixei os meninos no estacionamento à espera de um milagre (sei lá, vai que de repente sentiam nossa dolorosa ausência, né?) e voltei correndo pra recepção, que já tava fechando, pra pedir a senha do wi-fi. “Vou conseguir falar com alguém do ônibus e vão vir pegar a gente aqui”, pensei. Doce ilusão.
“Não temos wi-fi, senhorita”, foi o que ouvi quando cheguei lá – uma informação que doeu ainda mais do que quando cai a internet no meio daquela maratona de Netflix. Por sorte, uma funcionária se compadeceu da minha cara de cachorro perdido e me deixou usar o computador da bilheteria pra mandar uma mensagem por Facebook pra uma amiga que tava no camping.
Por mais sorte ainda, a amiga viu a mensagem e foi correndo falar com o pessoal da “agência de viagens”. O que não foi tanta sorte assim foi a resposta deles: teríamos que retornar por conta própria. O que não seria um grande problema, não fossem os fatos de que a) ninguém no museu tinha nem ouvido falar do lugar onde ficava o acampamento; b) não existia transporte direto pra lá; c) tínhamos pouquíssimo dinheiro, não tínhamos levado cartão e ninguém sabia dizer ao certo quanto custavam as passagens.
Alguns momentos de tensão depois, alguém conseguiu descobrir o melhor percurso pra gente fazer e anotei as instruções no mapa do memorial. Enquanto isso, o filho pequeno da tal funcionária esperava a mãe atrasada ir pegá-lo na escola (sempre bom saber que você tá provocando um potencial trauma numa criança, só que não).
Pegamos um ônibus e chegamos à estação de trens de Dachau, que – surpresa! – não tinha nenhum funcionário pra dar informações. Depois de muito catucar na maquininha, consegui comprar as três passagens por um valor só dois euros mais baixo do que todo o dinheiro que tínhamos (pausa pra agradecer a Deus por não termos comprado aqueles souvenires inúteis na lojinha). Feliz, retirei o bilhete pra o trem, que sairia em apenas 10 minutos. Dali, seriam umas 2h30 até a cidade mais próxima do camping, onde uma pessoa iria nos pegar de carro pra mais uns 40 minutos de viagem.
“Massa, agora é só ir pra plataforma e pegar o trem! Mas pera… Qual é a plataforma?”. Estranhamente, essa informação não tava presente em lugar nenhum. Mais uma vez, usei meu alemão rudimentar pra encontrar alguém que pudesse nos ajudar. O horário de saída do trem chegou e passou e ninguém sabia dizer qual era a bendita plataforma, porque tavam todos pegando um tipo de trem diferente.
Até que a terceira pessoa que procurei, um ser iluminado que falava inglês, encontrou a solução: era preciso ir na máquina e clicar num pequeno ícone pra ver mais informações, incluindo o número da plataforma – que, aliás, dificilmente encontraríamos checando de uma em uma pra ver o destino indicado nos visores, como tentei fazer, porque era a única que ficava atrás de uma parte da estação que tava em reforma, coberta por tapumes. Obrigada, Murphy.
Obstáculo superado, chequei o horário do trem, pedi emprestado o celular de um cara aleatório (que não curtiu muito porque atrapalhei seu Pokemon Go) e liguei pro pessoal do acampamento pra avisar a que horas poderiam nos pegar na estação.
Tudo lindo, né? Errr… Quase. Ainda tinha mais uma hora de espera pelo próximo trem e fomos procurar um banheiro – na estação não tinha, mas naquela Mc Donald’s ali certamente sim, né? Só que não: tava em manutenção.
A espera foi sofrida, mas o final foi feliz: às 23h, cinco horas depois do pessoal que conseguiu voltar no ônibus, chegamos ao acampamento sãos, salvos, cansados e famintos.
Moral da história: ande com mais dinheiro do que pensa que vai precisar, tenha um número de celular local, cheque as informações trocentas vezes e o mais importante: vá ao banheiro sempre que puder.
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