Cinco razões para amar o Recife
“Eu amo o Recife, mas não sou correspondido”. Atire a primeira pedra o recifense que nunca pensou isso. Mas apesar dos pesares, sou apaixonada por minha cidade e acho que as razões pra tanto são muitas :) E como boa pernambucana (leia-se bairrista e megalomaníaca), não deixo passar nenhuma chance de fazer mais gente cair de amores pela minha terra. Então vamos a uma pequena lista que deve, por favor, ser ampliada aí nos comentários! O que pode te fazer amar o Recife?
Leia também:
1. Os rios e o mar
Começo por esse item porque não tem jeito: a região com rios, lagos ou mar sempre é minha parte preferida de qualquer cidade. E aqui tem bastante <3 Sou privilegiada e posso ver as mudanças de cor da água das 7h ao anoitecer todos os dias a partir da janela do trabalho, no Recife Antigo (bjs, sociedade) e acho difícil não deixar o coração amolecer pelo menos um pouquinho ao ver aquele mundão d’água lá no Marco Zero ou em Boa Viagem, nossa principal praia urbana. Por mais que não possamos aproveitar tanto nosso lindo mar devido aos amigos tubarões (que foram deslocados do seu cantinho por nossa culpa, vale ressaltar), a vista dele é lindimais.
E no quesito rios, também tamos bem. O Capibaribe e o Beberibe dão à cidade o apelido (brega pero fofo) de “Veneza Brasileira”, cortando as ilhotas do Centro e as ruas de várias áreas com suas águas. O Capibaribe (“rio das capivaras” em tupi) tem braços que passam por vários bairros: Várzea, Apipucos, Monteiro, Poço da Panela, Santana, Torre, Derby, Madalena, Afogados, Ilha do Retiro… e além de se encontrar com o Beberibe, deságua no mar.
O Capibaribe foi muito importante na formação histórica e social de Pernambuco, servindo de inspiração pra poetas e cantores :) Umas muitas décadas atrás, a galera tomava banho e se divertia no rio, mas infelizmente isso não rola mais. Projetos como o “Eu quero nadar no Capibaribe, e você?” e o Parque Capibaribe têm tentado transformar nossa relação com suas águas; quem sabe no futuro não damos ainda mais valor a esse querido, né? <3
Pra quem é dos meus e quer ver água por aqui, recomendo almoçar no restaurante do TRF e ir de barquinho até o Parque das Esculturas de Brennand ou à Casa de Banhos. Já os passeios de catamarã como os da Catamaran Tours te mostram a cidade por outro ângulo e ajudam a imaginar um dia em que possamos nos locomover pelos rios.
Também vale a pena dar uma olhada com carinho pra os lados quando cruzar nossas muitas pontes, pra ver vistas como essa aí abaixo. E é claro: na Avenida Boa Viagem, à beira-mar, você encontra bares e restaurantes legais, alguns deles com varandas pra sentir a brisa salgada ;)
2. O Recife Antigo
Os prédios lindos e as ruas de paralelepípedos nos recordam que o Bairro do Recife, mais conhecido como Recife Antigo, já viu muita história. Lá no “Antigo”, como a gente costuma chamar, o Recife viu nascer a primeira ponte de grande porte do Brasil (a Maurício de Nassau, que liga o bairro ao vizinho Santo Antônio), além de muitos outros fatos de importância histórica e afetiva.
Afinal, o ponto de origem da cidade é também uma das partes que mais se reinventam da capital pernambucana. Além de região portuária, histórica e turística, o bairro também é o maior polo tecnológico e um dos principais centros de lazer e cultura da cidade.
Por isso, aproveite o bairro :) Veja o tempo passar no Marco Zero, faça compras no Centro de Artesanato de Pernambuco, na feirinha da Rua do Bom Jesus e na Livraria Cultura, visite o Paço do Frevo, o Cais do Sertão, a Sinagoga Kahal Zur Israel, a Caixa Cultural e o Centro Cultural Correios, faça cursos no Portomídia, tome um maltado n’As Galerias ou uma cerveja gelada em algum dos muitos bares legais por ali, suba no restaurante do TRF, no Paço Alfândega ou no Roda Café pra ver a vista, divirta-se com as atividades promovidas pela prefeitura aos domingos. E, no meio tempo, se encante com a arquitetura e a mistura de influências que se deixa ver nesse pedaço tão especial da cidade.
3. A comida
Dá licença, mas quem é adepto do turismo comilônico passa muito bem na minha cidade, viu? A gastronomia pernambucana é uma maravilha e o Recife tem se tornado um polo gastronômico cada vez mais interessante, mesclando às influências locais um monte de coisa boa vinda de fora.
No campo do regional, difícil não babar por uma macaxeira (mandioca) com queijo coalho e carne de sol, por um escondidinho de charque (carne seca) com purê de macaxeira ou por um arrumadinho (carne, vinagrete, feijão verde e farofa). E a lista continua, incluindo coisas que nem sei se nasceram aqui, mas têm papel marcante no nosso cardápio: sururu, sarapatel, galinha de cabidela, bode guisado, fava, tapioca…
Sem falar nos caldinhos (de peixe, camarão, feijão, marisco, sururu etc.), que não podem faltar na praia (dane-se o calor) e você também encontra em quase todo barzinho. E nas sobremesas: bolo de rolo, pé-de-moleque, bolo Souza Leão, cartola (banana frita com queijo manteiga derretido, coberto por uma mistura de açúcar e canela), o clássico maltado das Galerias (lanchonete inaugurada em 1928 no Recife Antigo) ou um nego bom (bombom feito de banana).
Pra comer tudo isso e mais um pouco, dê uma passada no Parraxaxá (restaurante turístico e meio caro, mas gostoso e decorado com inspiração no Sertão), Empório Sertanejo (que fica aberto até de manhã e lota nos findes depois da farra), Mercado da Boa Vista, Mercado da Madalena, Cozinhando Escondidinho, Bar do Tonhão, Bar da Fava, Bar da Geralda, Maria Maria ou um tanto de botecos espalhados pela cidade (quanto mais simples melhor).
E se a comida regional não lhe agradar, vá embora. Hehe, brinks. Se você quiser provar outros sabores, dá pra encontrar boas opções de restaurantes dedicados à gastronomia internacional, como peruanos, argentinos, mexicanos, coreano e japoneses. Se joga!
4. A música
Falando em cultura dá pra ressaltar mil aspectos, mas a música certamente é um dos principais. A quantidade de ritmos criados em Pernambuco gira em torno de 20 (!) e muitos deles podem ser encontrados na capital, assim como adaptações de outros que não nasceram por aqui. Mangue beat, maracatu, forró, frevo, coco e ciranda são só alguns exemplos de um universo tão amplo que eu mesma só conheço um pedacinho (shame on me!).
Na hora de citar bandas e artistas, a mesma coisa: passaria algumas horas aqui fazendo uma lista quase inesgotável, mas o fato é que o Recife tem um papel especial na música brasileira, né? Alceu Valença, Nação Zumbi, Mombojó, Naná Vasconcelos, Mundo Livre S/A, Geraldo Azevedo, Silvério Pessoa, Siba, Lenine, Otto, SpokFrevo Orquestra, Lira, Academia da Berlinda, Eddie, Orquestra Contemporânea de Olinda e Isaar são alguns nomes de gente/bandas que nasceram aqui, em Olinda ou no interior e marcaram ou têm marcado a cena local e nacional.
Tem, é claro, muito mais gente massa que mistura referências locais, sons experimentais, pop, rock e o que mais couber. E o melhor: não é difícil encontrar shows da maioria desse povo por aqui :)
5. Os eventos e festinhas
Primeiro, ainda na vibe do mês de fevereiro, não tem como não falar do Carnaval. Afinal, não tem período do ano em que pernambucanos expatriados sofram mais pela distância da terra dos altos coqueiros. E não é por acaso. Se você não for daqui, dá uma olhada nesse post pra saber um pouco mais sobre a festa no Recife e em Olinda ;)
Além desses dias mais maravilhosos do ano, o calendário de eventos e as festinhas sazonais já são tão intrínsecos à cidade que mesmo os que eu não curto trazem à tona um laço de afetividade (sou brega assim mesmo). Tem o Cine PE, festival de cinema que tá em sua 19ª edição e hoje em dia é criticado por muitos cinéfilos, mas não deixa de bombar; tem o Coquetel Molotov, evento que já teve em seus palcos uma galera como Peter Bjorn & John e The Kills e inclui também exibição de filmes, workshops e debates; tem a Janela Internacional de Cinema, que exibe obras do cinema pernambucano e brasileiro e filmes internacionais; e mais um bocadinho de coisa que não me vem à mente agora.
E tem também as festinhas de sempre, que rolam em lugares como Iraq, Estelita, Vapor 48 e Roof Tebas. Entre os destaques tão as produções do coletivo Golarrolê, responsável por festas badaladas como Brega Naite, Odara, Neon Rocks e Maledita. Sem falar nas festinhas Sem Loção, Fritz e Refresh, nas noites cubanas do Clube Bela Vista, que rolam no primeiro domingo do mês e são mara pra quem gosta de bailar, e na minha parte preferida: eventos que permitem aproveitar o espaço público e curtir lugares delícia da cidade, como o Som na Rural e o Praias do Capibaribe.
É claro que tudo isso é parte do calendário da galera com quem eu ando e que em outras esferas da sociedade tem muito mais coisa, mas que sirva ao menos como exemplo de eventos que vale a pena dar uma sacada :)
6. Bônus: insira aqui suas razões
Ok, pra você que leu até aqui, vou agora me desdizer. É que no fim das contas acredito que amar o Recife, como qualquer outra cidade, independe de qualquer fator como os citados acima. É, na verdade, uma questão bem pessoal, né? Já dizia Manuel Bandeira: “Recife / Não a Veneza americana / Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais / Não o Recife dos Mascates / Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois – Recife das revoluções libertárias / Mas o Recife sem história nem literatura / Recife sem mais nada / Recife da minha infância”.
Pode ser o da sua infância, da sua adolescência ou o daqueles dias que você passou por aqui no verão com a família, o amor, amigos ou sozinho. Pode ser o Recife da vida inteira ou aquele que foi visto de relance no caminho pra Porto de Galinhas, mas deixou uma marca. Pode ser aquele que você tenta amar ou pra onde você não consegue deixar de voltar. Já falei aqui um pouco sobre o que é o Recife pra mim. E pra você? :)
Posts Relacionados
23 Comentários
Deixe o seu comentário
Excelente artigo, Luisa!
Também amo meu Recife, tão contraditório…tão humano…tão desigual, mas sempre maravilhoso!!!
Obrigada, Leonardo! :D Um abraço!
Pena que osgovernantes nao cuda dela como deveriam.Era pra ser uma cidade modelo, mas o que veja é uma cidade carente de zelo, aacho que a culpa é de todos mas nao deixa de ser uma cidade muito bonita.
Concordo, José! :) Depende do poder público e também da gente, né? Um abraço!
Comidas de rua (espetinhos, pasteis 5 sabores 1 real, macaxeira com charque, tapiocas, nego bom 20 por 1 real, quebra queixo, picole, batata do batateiro, churros, milho, castanha, amendoim, cachorro quente morte lenta, pipoca doce, pipoca do sinal, raspa raspa, etc).
Os torcedores dos times daqui que acreditam que seus times seriam os mais vitoriosos do mundo se não fosse a cbf/globo favorecer os times do sul. Tirando as organizadas, sao otimos torcedores que fazem os times bem copeiroz e conhecidos no resto do brasil. Os estádios no meio da cidade dão uma proximidade a mais da torcida com os clubes. Pena que eles nao tem o charme do Salgueiro.
Tocador de embolada no metrô, ônibus e sé.
Recife/Olinda ser como uma grande cidade pequena onde cedo ou tarde se encontra na parada, num barzinho, numa loja, aquela pessoa que mora do outro lado da cidade ou do mundo.
Eitaaa, fiquei morrendo de fome aqui agora, Rodolfo! :~ Sonhando com um pastel super recheado + batata daquelas de rua hehe. Massa essa visão do futebol, que eu super não tenho! haha. E sim, esse fator “grande cidade pequena” às vezes é péssimo, mas também é um dos fatos que me fazem amar o Recife! :))) Valeu pelo comentário – enriquecedor, como sempre ^^ Beijo!
[…] a Luísa Ferreira (minha quase homônima, só mudar o S pelo Z), do Janelas Abertas, é comum que os recifenses não se sintam correspondidos no seu amor pela cidade. Para corrigir o […]
Oh cidade linda <3 Meu Recife e sua variedade.. Confesso que a parte da comida é uma das minhas favoritas haha Parabéns pelo blog!
Haha minha também, Ozielly! :D Obrigada! ^^
Ótimo post.. já me senti convidado.. e que lance é esse de “noites cubanas do Clube Bela Vista”?? agora ninguém me segura.. kkk.. ;)
Hahahaha é muito massa pra quem curte dançar! Venha simbora ;)
eu amo o recife tbm!
<3
sinto falta das praias e da comida principalmente…
pena ser tão desorganizada. Estou em Curitiba a 3 anos apenas e já não me imagino morando dnovo em Recife.
Oi, Cleciene! Pois é, pra mim os problemas do Recife são o sistema de transporte público ruim e a violência, duas questões muito mais tranquilas em Curitiba, né? Estive aí há algumas semanas e achei muito mais organizado mesmo, mas sou apaixonada demais pelo Recife <3 hehe. Um abraço!
É tanto orgulho que não cabe aqui <3
Maravilhosa!! <3
A avenida de Boa Viagem, seu calçadão, a praia, a feirinha e tudo ali, me faz sonhar… Estive em Boa Viagem apenas três vezes, em julho/09, julho/10 e julho/17, passei muitos dias nesses períodos, me encantei… Moro em Brasília, mas quando me aposentar, irei morar na avenida Boa Viagem. Amanhecer com o marulho das vagas e entardecer com a brisa do mar acariciando o meu rosto. Amém!
Oi, Roberto! Obrigada pelo depoimento :) Espero que você possa realizar esse sonho (e que, antes disso, venha pra cá no verão, que é ainda melhor!). Um abraço!
ah meu Recife! amo! sinto tanta saudade que dói! Coisas que guardo na memória: jambo, não tem igual! bolo de rolo… minha eterna boa viagem… saudades de um tempo que tomar banho lá e ter tubarão era algo extremamente remoto. tinha uma pizzaria em frente a boa viagem, quando criança, após a praia almoçava lá, ficava perto da igrejinha. E meu eterno colégio salesiano… saudade de um tempo que não volta atrás. Hoje moro em Brasília, mas o amor por Recife é eterno
Oi, Nara! Imagino as saudades! Também amo jambo, bolo de rolo e uma prainha, apesar dos tubarões (culpa nossa, né? :/). Espero que você consiga vir matar as saudades com frequência. :) Um abraço e obrigada pelo comentário!
Olá Luísa, parabéns pelo excelente texto sobre o Recife.
Comungo das suas impressões e sentimentos sobre essa querida cidade.
Sou carioca, moro atualmente em Curitiba. Já morei em Olinda- Bairro Novo. Tenho um carinho muito grande por essa terra e por essa gente tão hospitaleira. Todo ano vou ao Recife, pelo menos duas vezes. Sinto muitas saudades e espero voltar definitivamente. Pra falar a verdade, não vejo a hora. A saudade me levará pelo braço…
Parabéns, mais uma vez e sucesso.
Oi, Fábio! Que bom que você gostou do texto, muito obrigada! Espero que a saudade te arraste em breve :) Um grande abraço!
Oi, Luísa
Os aluguéis por aí são caros? Se eu for trabalhar na UFPE ou no IFPE pegaria muito trânsito? Ficam longe?
E outra, qual o melhor bairro pra morar e não seja muito caro? Beijoss
Oi, Lara! O conceito de caro é relativo :P E depende, também, de cada bairro. E é difícil falar em “melhor bairro” porque depende muito do seu orçamento e do que você considera prioridade. Um apartamento com dois quartos em Casa Forte (bairro de classe média-alta na Zona Norte), por exemplo, custa a partir de uns R$ 1.200, mas em outras partes da cidade você consegue opções mais em conta. A UFPE fica afastada do centro (sugiro olhar no Google Maps a distância pra pontos como a Avenida Conde da Boa Vista, principal via do centro comercial da cidade) e o Recife sofre bastante com engarrafamentos, mas muitos ônibus passam por lá. Se você morar em Casa Amarela, por exemplo (bairro com estrutura razoável, próximo a áreas legais pra sair à noite e com aluguéis mais em conta), deve levar uns 40 minutos de ônibus pra chegar lá. Mas você também pode morar na Várzea, juntinho da universidade. Enfim, as possibilidades variam de acordo com seu perfil :)