Viagem pra Dentro

Precisamos falar sobre o fracasso

Viagem pra Dentro | 25/02/15 | Atualizado em 01/11/18 | 14 comentários

Começo esse post com uma conclusão já muito repetida, mas sempre necessária: nessa “era das redes sociais”, todo mundo parece viver sempre um conto de fadas. Publicamos fotos das melhores partes da viagem, dos restaurantes mais legais, das festas mais divertidas, dos melhores ângulos…

Mas não mostramos os momentos menos glamourosos das mesmas viagens, festas, dias normais das nossas vidas. E temos, também, receio de compartilhar certas coisas por medo de que elas não deem certo. Quantos amigos não dizem nada sobre seus planos e projetos até alcançar o resultado esperado?

Mas essa história de ficar se comparando à imagem cor de rosa que temos da vida alheia pode ser, penso eu, meio perigosa. Além disso, deixar de compartilhar (não necessariamente pra o mundo todo nas redes sociais) os momentos em que as coisas não dão certo significa perder a oportunidade de se identificar com o próximo, aprender com os erros dos outros e relativizar nossos próprios tropeços.

Já falei aqui que o processo de aplicar pra uma bolsa de estudos no exterior é cansativo e que é preciso ser persistente mesmo ao receber algumas negativas. Mas depois de ser selecionada pra participar de alguma coisa legal tipo o mestrado ou o WFD, ouvi de pessoas não tão próximas coisas do tipo “ah, tudo que tu tentas tu consegues”.

Deixa eu contar uma coisa: isso tá bem longe da verdade, viu? E faço questão de deixar claro ;) Pra cada “sim” que eu já ouvi, rolaram uns três “nãos”. Sobre alguns desses “nãos” nem me importei, outros me deixaram triste e um deles, pra o qual eu dediquei umas boas horas, rolou recentemente.

Apesar disso, não deixei de compartilhar com meus amigos o que tava tentando ou planejando, lembrando que podia não dar certo. Nem tenho vergonha de falar que não rolou. Porque o que importa é saber que nenhuma negativa é prova da minha incompetência ou motivo pra deixar de tentar outras coisas (ou a mesma coisa outras vezes).

Afinal, muita coisa não depende de você, e no que depende sempre é possível melhorar. Por isso, também nunca pensei que o tempo que passei me dedicando a algo que não deu certo foi em vão: cada passo me ensinou muito e me deixou mais preparada pra o próximo.

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E tem  ainda outro fator que acho essencial: não considerar que nenhuma opção é a única possível pra sua realização. Não deu? Bloco que segue! (Roubei essa frase da campanha de carnaval da ONU Mulheres pra ser meu lema em 2015, haha).

Acredito muito em conseguir as coisas por esforço pessoal, abdicando de tantas outras quando necessário e aproveitando as oportunidades que aparecem. Mas também acredito que às vezes não era pra ser. Que se não rolou agora, vai rolar depois e vai ser melhor ainda. Que o plano B pode ser muito mais bem sucedido que o A, e que o fracasso no A pode contribuir pra esse sucesso.

Por isso, acho massa quando vejo gente falando sobre o fracasso. Um exemplo é esse post aqui, em que a criadora da startup 99 dresses conta sobre a montanha-russa que foi se tornar uma empreendedora de sucesso aos 19 anos, investir o maior esforço naquilo e depois ver tudo degringolar. E sobreviver :)

No texto, ela diz que só ouvir as pessoas falarem sobre seus êxitos fez com que ela se sentisse isolada e envergonhada quando confrontada com o fracasso. Se mais gente se abrisse como ela fez, isso podia ser diferente.

E o “fracasso”, aliás, é muito relativo. Enquanto eu começava este post, Amanda Mormito, do Buenos Aires Para Chicas, compartilhou este aqui em que fala sobre desistência. Ela chama assim sua decisão de deixar Buenos Aires e o blog que a tornou conhecida e ir viver em São Paulo, de onde saiu há 9 anos, pra começar algo novo.

Viver do blog não rolou e continuar em Bue com problemas ligados a inflação, aluguel, relacionamentos etc. também não. Mas a “desistência”, no caso, significa a escolha de um novo caminho extremamente promissor, dado seu histórico de dedicação. No post, ela falou sobre aceitar que seu grande sonho pode não ser a única opção. E quando as coisas não acontecem como o esperado, não tem nada de errado – tem, aliás, muito de coragem – em abrir mão de certas coisas e recomeçar.

Ninguém quer falhar, mas não tentar é muito pior. E sou a favor de falar sobre essas tentativas. Cada um sabe o que expõe da própria vida, é claro, e é normal que algumas pessoas sejam mais reservadas do que outras. Mas, num nível bem pessoal, acho que ser sincero sobre as dificuldades é massa. Ajuda a diminuir a pressão sobre si mesmo e sobre quem te escuta e ajuda a fazer-nos perceber que o fracasso faz parte da vida.

Afinal, nossas ações podem não ter o resultado que pretendemos, mas cabe a nós conseguir identificar erros e formas de consertá-los, não perder o ânimo e tentar de novo. Às vezes é difícil; é normal “levar pra o pessoal” e se desestimular. Mas tenha certeza que muita gente já esteve na mesma situação – e aqueles que não se deixaram levar pelo desânimo certamente saíram dela pra outra bem mais legal.

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Não conseguiu aquela bolsa de estudos? Sua startup não vingou? Não foi aprovado naquele concurso? Foi demitido do emprego que tanto amava? O livro que você escreveu não foi aceito por nenhuma editora? Aquela superviagem que tava programada não vai rolar esse ano? Sua banda não se tornou o maior sucesso de todos os tempos da última semana? O casamento não deu certo? Bloco que segue.

Mas vamos, por favor, deixar de fingir que o fracasso não está lá e que tudo são flores. Porque, como dizem por aí, “não tá fácil pra ninguém”. Mas a gente continua correndo atrás mesmo assim :)

 As fotos que ilustram o post são do poeme-se, tumblr mais lindo dessa vida.

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14 Comentários

  1. Leonardo

    Excelentes comentários Luisa!

    Nível de maturidade e reflexões que deveremos, em qualquer idade, praticar…

    Abs,

    • Luísa Ferreira

      Obrigada! ^^

  2. Marcos

    Obrigado por compartilhar essa reflexão sobre o Fracasso. Eu sei que ele é parte fundamental do êxito,mas as vezes rola uma tristeza…uma vontade de mudar pra Júpiter. As suas palavras me confortaram e me conscientizaram mais uma vez que o importante é seguir em frente,afinal de contas: A felicidade está está no percurso,e não apenas no final dele.

    Deus te abençoe. Se cuida!

    • Luísa Ferreira

      Oi, Marcos! Que bom que você curtiu o texto :) Às vezes dá sim uma vontade de entrar num buraco, de dar reset e começar tudo de novo ou de se mudar pra Júpiter mesmo. mMas é o que você disse: vamos olhar as alegrias do percurso e aprender com o que não der certo! Um abraço :)

  3. Thamires

    Oi, Luísa! Descobri essa semana seu blog e tenho adorado (devorado, eu dirira…rsrs) seus posts! E este, em especial!
    Confesso que quando o li o título fiquei receosa, afinal nunca fui ao exterior e só conheci o Janelas Abertas porque estou pesquisando a fundo sobre como fazer um intercambio e tal…Mas (felizmente) esse post me fez pensar e repensar em certos pontos…Concordo plenamente quando você diz que quando somos sinceros sobre nossos erros, a pressão diminui e tudo melhora. E é preciso ter um pouco de maturidade pra entender…

    Obriagada e abraços!
    ;)

    • Luísa Ferreira

      Oi, Thamires! Que bom que tás gostando do blog :)) E melhor ainda saber que o post te fez pensar! Obrigada pelo comentário e boa sorte nos seus planos de intercâmbio :D

  4. silmara

    Linda reflexão, estou numa fase de mudanças, de país de profissão. Fracassar não é fácil,mas nem tentar é bem pior, sábias palavras. Bloco que segue

    • Luísa Ferreira

      Oi, Silmara! Que bom que você gostou do post. Mudanças são boas, mesmo quando difíceis, porque fazem a gente se sentir vivo, né? Boa sorte nessa nova fase!

  5. analice

    Menina, vc é inspirada, não por falar neste monstro ou salvador do nosso avanço como ser, mas como cita cada elemento e abordadagem incisiva., faz um tempo que estou tentando viver num buraco por ir pra outro plano não consegui ir até agora. Fui pra outro lugar viver outra vida como diz a música, mas não resolveu e me vejo hoje nesta encruzilhada os todos caminho s me impulsionam enfrentar o que eu temia, que queria esquecer, guardar, me conformar… vc me fez chorar novamente, obrigada!

    • Oi, Analice! Te desejo forças pra enfrentar o que você queria esquecer e seguir em frente mais leve, seja onde for! Um grande abraço

  6. Juliana Miranda

    Quanta maturidade em suas palavras. Acabo de descobrir seu blog e fico feliz de ver que há vida inteligente nessa internet. A inteligência emocional, que muito lhe guia, é uma das chaves para o constante sucesso na sua busca por conhecimento científico. Ler tudo isso, me deu forças para tentar essa nova empreitada. “Ninguém quer falhar, mas não tentar é muito pior.”
    Valeu, Luísa! E parabéns pelo blog!

    • Oi, Juliana! Muito obrigada por suas palavras :) Acho que ainda tou engatinhando em termos de maturidade e inteligência emocional hahah mas devagar se vai longe, né? Me alegro por poder ter contribuído de alguma forma! Vai nessa! :) Um abraço

  7. Fernanda

    Que post! Este nível de reconhecimento e maturidade deve ser praticada todos os dias, pois para 6 dias de luta há 1 de glória..abraços!

    • Sim, é um processo a se praticar mesmo! :) Que bom que você gostou do post, muito obrigada por comentar! <3

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